Trabalho temporário com menos 16.800 colocações no último trimestre de 2020
Registaram-se quebras de 16% nas colocações em outubro, 14% em novembro e 15% em dezembro. Os indicadores da atividade têm vindo a recuperar “de forma consistente”.
O total de colocações no trabalho temporário diminuiu 15% no último trimestre de 2020 face ao período homólogo, com menos 16.800 colocações concretizadas, mas os indicadores da atividade têm vindo a recuperar “de forma consistente”, segundo a associação setorial.
“Desde o primeiro confinamento, em março de 2020, cerca de 108 mil pessoas que tinham um contrato de trabalho temporário perderam o seu emprego. Porém, ao longo do resto do ano, tal como confirmam os números do último trimestre, os indicadores de colocações têm subido de forma consistente”, sustenta o presidente da Associação Portuguesa das Empresas do Setor Privado de Emprego e Recursos Humanos (APESPE-RH), citado num comunicado hoje divulgado.
Segundo Afonso Carvalho, “historicamente, perante uma crise, seja ela qual for, os trabalhadores que têm vínculos mais flexíveis são sempre mais afetados” e “as áreas de atividade que normalmente se socorrem desta tipologia de trabalhadores, como a hotelaria, o turismo ou o setor automóvel, acabam também por ser as mais fustigadas”.
De acordo com os dados do quarto trimestre de 2020 do “Barómetro do Trabalho Temporário” da APESPE-RH e do ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa), registaram-se quebras de 6.300 colocações em outubro (-16%), 5.000 em novembro (-14%) e 5.500 em dezembro (-15%).
Em termos acumulados, no último trimestre a quebra foi de 15% (111.510 colocações em 2019 contra 94.710 em 2020).
No terceiro trimestre, o trabalho temporário tinha registado menos 37 mil colocações face ao período homólogo, com quebras de 16.000 colocações em julho, 12.000 em agosto e 9.300 em setembro.
No que se refere ao Índice de Trabalho Temporário (Índice TT, calculado através do rácio entre o número de pessoas colocadas num mês e no mesmo mês do ano anterior), registou também “uma quebra significativa ao longo dos meses que constituíram o quarto trimestre de 2020”. De 0,91 em outubro de 2019 recuou para 0,74 no mesmo mês de 2020, enquanto em novembro passou de 0,89 para 0,86 e em dezembro diminuiu de 0,92 para 0,85.
Analisando apenas o ano de 2020, a associação nota que “o Índice TT registou o valor mais baixo da série em maio (0,50) e, desde então, tem sido registada uma recuperação consistente”.
Em termos de caracterização dos trabalhadores temporários, o barómetro reporta uma “quebra gradual” da proporção de contratos celebrados com trabalhadores do género feminino ao longo dos três últimos meses do ano. Se em outubro o valor foi de 46,5%, registando uma melhoria em relação aos 45,4% de setembro, desde então a tendência foi de quebra, passando para 45,8% em novembro e 44,9% em dezembro.
No que respeita à distribuição etária (e à exceção de novembro, em que os valores foram “ligeiramente inferiores”), em outubro e dezembro cerca de 48,8% dos trabalhadores temporários tinham idade inferior a 30 anos, estando cerca de 28% entre os 16 e 24 anos e aproximadamente 20% entre os 25 e 29 anos.
“O ensino básico é o nível de escolaridade predominante nas colocações efetuadas (66,1% em outubro, 67,6% em novembro e 67,8% em dezembro), seguindo-se o ensino secundário (26,9% em outubro, 25,3% em novembro e 24,8% em dezembro)”, precisa a APESPE-RH.
No último trimestre de 2020, as empresas que recorreram mais ao trabalho temporário operavam no setor da ‘fabricação de componentes e acessórios para veículos automóveis’, respondendo sempre por mais de 15% no total dos contratos celebrados. Seguiram-se as áreas do ‘fornecimento de refeições para eventos e outras atividades de serviço de refeições’ e ‘fabricação de artigos de matérias plásticas’, sendo que, no mês de outubro, excecionalmente surgiu em terceiro lugar o setor da ‘tecelagem de têxteis’.
Analisando a distribuição do trabalho temporário por principais profissões, destacaram-se no quarto trimestre de 2020 as categorias de ‘empregados de aprovisionamento, armazém, de serviços de apoio à produção e transportes’, ‘outras profissões elementares’ e ‘trabalhadores qualificados do fabrico de instrumentos de precisão, joalheiros, artesãos e similares’.
Segundo salienta o presidente da APESPE-RH, é a flexibilidade permitida pelos vínculos de trabalho temporário que, “sobretudo em contextos tão difíceis como o atual, dá às empresas uma maior margem para contratar mediante as necessidades, acabando por contribuir significativamente para a redução dos números do desemprego”.
Neste contexto, diz, a associação apresentou ao Governo um documento no qual identifica “algumas medidas fundamentais para melhorar as condições de empresas e trabalhadores no que respeita ao trabalho temporário”.
Os resultados divulgados esta sexta-feira tiveram por base informação recolhida relativa a trabalhadores colocados até julho de 2020 junto das empresas de trabalho temporário Egor, Kelly, Manpower, Multipessoal, Multitempo e Randstad.
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