Novo Banco prevê saída de 750 trabalhadores nos próximos três anos
Banco liderado por António Ramalho está a preparar novo plano estratégico para os próximos três anos e que prevê a saída de cerca de 250 trabalhadores por ano até 2024.
O Novo Banco prevê a saída de cerca de 750 trabalhadores nos próximos três anos, apurou o ECO. A instituição encontra-se a preparar o plano estratégico para o triénio 2021-2024, o qual deverá incluir a saída, em média, de 250 colaboradores por ano durante esse período.
No Parlamento, esta quarta-feira, os trabalhadores alertaram que o banco prepara uma nova redução de balcões e despedimentos. O alerta foi dado por Rui Geraldes, da Comissão Nacional de Trabalhadores do Novo Banco, ouvido na Comissão de Trabalho e Segurança Social, numa audiência que já tinha sido requerida em 2020.
“Para 2021, fruto da atual conjuntura pandémica, será muito difícil atingir objetivos [acordados com a Comissão Europeia], estando previsto, caso os mesmos não sejam renegociados, o encerramento adicional de balcões e despedimento de 1.500 trabalhadores”, disse o responsável, citando, de resto, um número avançado por António Ramalho em setembro do ano passado.
“Se não cumprir os objetivos, tenho de despedir 1.500 pessoas” do Novo Banco, tinha revelado o gestor em entrevista à SIC há cinco meses.
Não é esse o cenário que está em cima da mesa, com o banco a prever a saída de aproximadamente 750 trabalhadores, de acordo com a informação recolhida pelo ECO.
Contactado, o Novo Banco desmente as 1.500 saídas e afirma que “prevê uma redução média para os próximos três anos em linha com a redução anual que se tem vindo a concretizar, designadamente em 2020″. Terão saído do banco 250 trabalhadores no ano passado.
“Administração está a ir mais longe do que a DGComp”
Segundo Rui Geraldes, o plano de reestruturação do Novo Banco estabelecido com a comissão europeia no final de 2017, prevê a renegociação dos objetivos em caso de contingência de força maior que seja alheia ao controle do banco.
“A administração está a ir mais longe do que os objetivos acordados com a DGComp [direção geral da concorrência da Comissão Europeia], uma vez que estes previam que em 2021 o banco deveria ter 400 balcões e 4.909 trabalhadores, objetivos já atingidos e ultrapassados em 2019”, disse o representante da Comissão Nacional de Trabalhadores, referindo que o Novo Banco tem atualmente 360 balcões e 4.668 trabalhadores no grupo (cerca de 4.350 no banco).
“Era fundamental que fossem renegociados estes objetivos, tendo em conta que esta pandemia é um facto alheio ao banco e à gestão do banco, a fim de evitar este despedimento e o encerramento de mais balcões”, disse.
Questionado pelos deputados sobre como a administração justifica a necessidade de implementar mais cortes, Rui Geraldes afirmou que “muito recentemente” o presidente executivo do Novo Banco, António Ramalho, informou os trabalhadores de “que está a ser desenhado um Novo Banco de futuro”. “[Este], de acordo com o mesmo, terá que ser muito mais pequeno e com menos pessoas, uma vez que o banco tem que ter em linha de conta as alterações correspondentes do mercado tais como passivos não remunerados, ou seja, as baixas taxas de juro, a digitalização crescente, o não aumento de comissões e a tudo isto acresce o contexto Covid, que terá consequências profundas no desenvolvimento da atividade e no comportamento dos consumidores”, disse.
Estas são, segundo Rui Geraldes, as razões que a administração está a invocar para continuar a reduzir postos de trabalho e a preparar “mais um plano de reestruturação impiedoso, que poderá culminar com mais um processo de rescisões pouco ou nada amigáveis, ou até mesmo como um despedimento coletivo”.
“A nossa perceção é que infelizmente a grande preocupação do banco não é com os trabalhadores, mas sim com a rentabilidade que quer dar aos acionistas norte-americanos, a grande preocupação parece ser efetivamente com que o banco se torne uma noiva atraente”, disse.
Ouvido no parlamento, o representante dos trabalhadores lamenta que ao longo de seis anos o Novo Banco tenha vivido “em reestruturações permanentes, sendo que o método aplicado passou sempre por fechar balcões, dispensar trabalhadores”. “Essas reestruturações não se têm mostrado eficazes, pois os prejuízos cada vez são maiores, o negócio mais reduzido e os contribuintes é que são sempre os sacrificados”, disse.
Segundo os dados apresentados, foram já encerrados 314 balcões e reduzidos 3.229 trabalhadores.
“Parece que nos vai ser apresentado mais uma vez um plano de reestruturação novamente sustentado na redução de custos feito à custa da redução sistemática das condições dos trabalhadores e redução dos postos de trabalho. Um dos principais rácios da atividade bancária é o cost to income. Os sucessivos planos de reestruturação que temos sido a ser alvo assentam sempre exclusivamente no cost, esquecendo o income, mas era no income que a administração revelaria mérito”.
O facto de a administração do banco ter excluído a comissão de trabalhadores do plano em curso é, para Rui Geraldes, um forte indicador de que o banco não se preocupa em alcançar a paz social dentro da empresa.
Em julho, o Novo Banco estimou, em comunicado enviado ao regulador dos mercados, que o valor a pedir no âmbito do Mecanismo de Capital Contingente, que recorre ao Fundo de Resolução para compensar perdas do legado do banco, seja de 176 milhões de euros no primeiro semestre.
A instituição presidida por António Ramalho registou prejuízos de 555,3 milhões de euros no primeiro semestre de 2020, um agravamento de 38,8% face ao mesmo período de 2019, constituindo 138 milhões de euros de provisões relacionadas com a Covid-19, segundo os dados divulgados na altura.
O banco afirmou que continua a “cumprir o seu plano estratégico, objetivos e compromissos assumidos pelo Governo português com a DGComp”.
Nascido na resolução do BES (em 03 de agosto de 2014), 75% do Novo Banco foi vendido em outubro de 2017 ao fundo de investimento norte-americano Lone Star, mantendo o Fundo de Resolução bancário 25%, numa solução acordada entre Banco de Portugal e Governo. Nos termos do contrato, o Novo Banco não pode fazer vendas de ativos a entidades relacionadas com a Lone Star. Aquando da venda, foi acordado um mecanismo de capital contingente, que previa que durante oito anos o Fundo de Resolução compensasse o Novo Banco por perdas de capital num conjunto de ativos que ‘herdou’ do BES até 3.890 milhões de euros.
Desde então e até hoje, o Fundo de Resolução já injetou 2.976 milhões de euros e ainda poderá colocar mais de 900 milhões de euros, valores que em cada ano têm impacto nas contas públicas uma vez que o Fundo de Resolução é uma entidade da esfera do Estado.
O presidente executivo do Novo Banco, António Ramalho, tem vindo a avisar que a instituição vai precisar de mais capital do que o previsto para este ano, face ao impacto da Covid-19.
(Notícia atualizada às 17h27 com informação de que banco está a prever 750 saídas)
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Novo Banco prevê saída de 750 trabalhadores nos próximos três anos
{{ noCommentsLabel }}