Poupança cresceu durante a pandemia. Como vai ser com o fim das restrições?
Pandemia tem contribuído positivamente para a poupança dos portugueses. Pode haver um "revenge spending" quando as restrições forem levantadas, mas haverá sempre alguma cautela.
A pandemia teve um impacto na vida dos portugueses a diversos níveis e não no bom sentido. O confinamento pesou, embora para quem não tenha perdido rendimentos este tenha acabado por ter-se traduzido numa melhoria das finanças pessoais. Com inúmeras restrições que acabam por travar, inevitavelmente, o seu habitual consumo, muitos portugueses têm vindo a ter menos despesas para além das ditas “habituais”, acabando por conseguir poupar um saldo extra para ocasiões futuras.
Durante este ano atípico, por longos períodos não houve a possibilidade de viajar para o estrangeiro, aproveitar uma estadia num hotel ou simplesmente jantar num qualquer restaurante. Também não houve a necessidade de realizar deslocações para o local de trabalho, com o teletrabalho a poupar muitos portugueses de algumas das suas despesas, nomeadamente as de combustível e de passes mensais de transportes públicos.
A pandemia tem, assim, vindo a contribuir para um crescimento da poupança das famílias portuguesas. Desde o segundo trimestre de 2020 que a taxa de poupança em Portugal tem vindo a registar novos máximos, de acordo com os dados já divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). No segundo trimestre, essa mesma taxa aumentou para os 10,6%. No terceiro trimestre, fixou-se nos 10,8%, igualando o recorde atingido no segundo trimestre de 2013.
Os montantes depositados pelos portugueses nas instituições bancárias vêm, também, comprovar essa nova dinâmica no comportamento financeiro dos portugueses. Desde a chegada da Covid-19 a território nacional, tem-se registado um constante aumento mensal do valor depositado pelas famílias nos bancos – excetuando-se aqui o mês das férias, agosto, onde o montante baixou relativamente a julho, segundo o Banco de Portugal.
Ou seja, para além de estarem a poupar mais, os portugueses estão, também, a optar por guardar uma grande parte desse dinheiro nos bancos. Só desde abril foram depositados mais 8,6 mil milhões de euros pelas famílias nestas instituições e, este mês de janeiro, atingiu-se um novo recorde no que toca ao valor total guardado por particulares em contas de depósito: 162,8 mil milhões de euros.
Fim das restrições vai trazer um “aumento do consumo”
Quando as medidas impostas para conter a propagação deste novo coronavírus forem levantadas, “será de esperar um aumento do consumo de toda a ordem“. As palavras são de Filipe Garcia, economista-chefe da IMF, que espera que estes portugueses que “mantiveram rendimentos e até conseguiram poupar” acabem por aumentar “consideravelmente a sua despesa quando deixarem de existir restrições”.
Deste modo, poderá haver espaço para um “revenge spending“, especialmente numa fase inicial da retoma, na ótica do economista, que destaca “que será provável, nos primeiros meses, que não se poupe nada do que se ganhe”. Os setores dos “serviços, turismo e vestuário” poderão ser aqueles que mais beneficiarão desta nova tendência de consumo, “numa primeira fase”.
Esta retoma do consumo por parte dos portugueses será, deste modo, “importante para reativar alguns pontos da economia que estão agora quase paralisados”, algo que será “virtuoso para a economia a curto prazo” – na medida em que, em 2021, muitos setores “dependerão dos portugueses para obter algum rendimento”.
Porém, será necessário “criar as condições para a livre circulação de pessoas, para a abertura plena dos negócios e das atividades como a cultura e o desporto” para que os efeitos na economia sejam bem mais efetivos, acrescenta Filipe Garcia.
Ainda assim, o economista da IMF acredita que as famílias portuguesas possam reter “uma parte considerável destas poupanças” que foram juntando nos últimos meses. Em primeiro lugar, porque “os perfis de consumo não se alteram de forma assim tão radical” e, depois, porque podem existir também “receios” relativos à chegada de uma eventual “nova vaga” da pandemia.
No entanto, relembra Filipe Garcia, é também importante não esquecer o caso de inúmeros portugueses que “foram financeiramente muito afetados pela pandemia” e que, “antes do fim das restrições”, poderão ser impactados pelo “fim das moratórias”, algo que irá “dificultar ainda mais a vida de muitas famílias”.
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