“Ó Casimiro, tens cá disto?” O futuro da Groundforce
O aumento de capital não vai resolver necessariamente o problema de fundo da Groundforce, mas permitirá perceber se Alfredo Casimiro continua a fazer parte da solução.
Com salários em atraso e o risco de ter de devolver o dinheiro que, entretanto, já recebeu do lay-off (18 milhões de euros), é cada vez menor a margem de manobra de Alfredo Casimiro na Groundforce.
O Governo, tal como disse o Presidente da República, teve de “ir reajustando os planos em função daquilo que se vai sabendo”. E aquilo que se foi sabendo é que afinal as ações (ou pelo menos parte delas) de Alfredo Casimiro na Groundforce estão dadas como penhor ao Banco Montepio.
Como tal, o Governo e a TAP tiveram de desencantar outra solução para tentar resolver o problema imediato e que passa por um aumento de capital, de 6,97 milhões de euros, na Groundforce “para que se possa evitar esse cenário de rutura iminente” e assegurar o “pagamento de salários, contribuições e impostos”.
Agora a bola está do lado de Alfredo Casimiro, o acionista privado dono de 50,1% da Groundforce. Só que até hoje, em vez de se concentrarem no essencial, em resolver um problema que é grave e urgente, Alfredo Casimiro e Pedro Nuno Santos parecem estar entretidos numa espécie de altercação estéril, pueril e irritante que faz lembrar aquelas conversas e aquela rivalidade mesquinha entre o Narciso e o Evaristo no “O Pátio das Cantigas”
Primeiro, Casimiro veio acusar o ministro de “roubo” e de “chantagem”. Depois, o ministro apresentou uma queixa-crime contra Casimiro por este ter, alegadamente, gravado e publicado sem autorização uma conversa privada entre os dois a propósito da Groundforce. Agora, a propósito do aumento de capital, Casimiro veio acusar Pedro Nuno Santos de discutir o assunto na comunicação social e não numa assembleia-geral: “Li no ECO 40 minutos antes de receber o e-mail com a proposta”, queixa-se o empresário. O ministro responde, também aqui no ECO, que “os trabalhadores da Groundforce não podem continuar à espera que Alfredo Casimiro viabilize” o aumento de capital.
Já se percebeu que não morrem de amores um pelo outro, mas é uma discussão que pouco ou nada diz aos 2.400 trabalhadores da Groundforce que hoje estão com os salários em atraso e não sabem se amanhã a empresa não irá para insolvência. Em vez de estarem entretidos nesta discussão estéril e infrutífera, ministro e empresário deviam arregaçar as mangas para tentar salvar o futuro de uma empresa cujas origens remontam a 1945.
A bola neste momento está do lado de Alfredo Casimiro. A proposta de aumento de capital feita pela TAP é a prova dos nove para se saber se Casimiro tem vontade e, mais importante, se tem capacidade financeira para acompanhar a operação e injetar dinheiro fresco na companhia. Ao colocar esta proposta em cima da mesa, o que Pedro Nuno Santos está na prática a perguntar é isto: “Ó Casimiro, tens cá disto?” E “isto” é dinheiro.
Neste momento, há três cenários em cima da mesa: neutral, positivo e negativo.
1) Neutral. Casimiro aceita que se faça um aumento de capital e, tal como a TAP, também injeta dinheiro na companhia. A relação de forças mantém-se — 50,1% Casimiro e 49,9% TAP –, e entra dinheiro na companhia para pagar salários e saldar as dívidas ao Fisco e à Segurança Social. Mas não se resolverá ainda o problema de médio prazo já que Casimiro terá, como acionista maioritário, de continuar a apresentar garantias para desbloquear o empréstimo de 30 milhões de euros da Caixa Geral de Depósitos com aval parcial do Banco de Fomento.
2) Positivo. Para os trabalhadores provavelmente seria o melhor dos cenários se Casimiro aceitar que se faça o aumento de capital, mas não entrasse com dinheiro. Neste cenário, a TAP passaria a ser maioritária e, sendo uma empresa pública, desbloquearia automaticamente o tal empréstimo de 30 milhões. Esta solução implica que mais tarde — por determinação da Autoridade da Concorrência e por causa do programa de alienação de ativos enviado a Bruxelas no plano de reestruturação, — a TAP tenha de colocar a empresa novamente à venda.
Pode-se repetir o que aconteceu em 2008 quando um desentendimento entre a TAP e a Groundforce levou a que as ações detidas pela Globália fossem parqueadas em três bancos (BIG, Banif e Banco Invest), tendo estas mais tarde transitado para a TAP e depois sido alienadas a Alfredo Casimiro.
3) Negativo. O pior dos cenários para os 2.400 trabalhadores da Groundforce seria Alfredo Casimiro não participar e não autorizar sequer um reforço de capitais. Aqui abrir-se-ia um cenário de insolvência. Os anos antes da pandemia já mostraram que a Groundforce é uma empresa viável. Contudo, precisa de acionistas financeiramente fortes para conseguir atravessar esta pandemia. Só precisa “disto”.
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