Sonae estima que suspensão de rendas nos shoppings tirou até 500 milhões à economia portuguesa

A líder da Sonae calcula que a suspensão de rendas nos shoppings tirou até 500 milhões de euros de valor à economia portuguesa, pois beneficiários foram "grandes grupos internacionais".

A líder da Sonae, Cláudia Azevedo, estima que a suspensão do pagamento das rendas fixas aos lojistas nos centros comerciais, que esteve em vigor no ano passado por causa da pandemia, fez sair “entre 400 milhões e 500 milhões de euros de empresas portuguesas para grupos mundiais enormes”. Este é o valor do “desconto” que os operadores de centros portugueses “tiveram que dar” a “grupos internacionais”.

Na apresentação de resultados anuais, a comissão executiva da Sonae foi muito crítica da medida. “É inacreditável o valor que saiu de Portugal com essa medida. Em Portugal, os dois maiores players [de centros comerciais] são empresas portuguesas. E a maior parte das insígnias são grandes grupos internacionais, maiores até do que a Sonae. Não faz sentido, foi discriminação”, disse Cláudia Azevedo, em resposta a uma questão do ECO.

Foi a 1 de julho de 2020 que o Parlamento aprovou a suspensão da parte fixa das rendas comerciais, por proposta do PCP. A medida deveria ter estado em vigor até 31 de março deste ano, mas acabou por ser alterada e expirar em dezembro.

João Dolores, administrador financeiro da Sonae, explicou que houve um impacto de 90 milhões de euros nas contas da Sonae Sierra que, de alguma forma, esteve relacionado com os descontos das rendas. E classificou a situação gerada pela pandemia nos centros comerciais de “inédita e muito difícil de gerir”.

Mas Cláudia Azevedo foi mais longe, recordando que “centros comerciais, sem lojistas, não funcionam”. A gestora assegurou que, antes de a lei entrar em vigor, já havia acordos da Sonae com 80% dos lojistas “quando o Estado decidiu meter-se entre dois privados com uma lei”. Com mais algum tempo, a Sonae Sierra teria, eventualmente, conseguido chegar aos 100%, considerou.

Cláudia Azevedo apontou também o dedo às medidas de restrição horária e à proibição de venda de alguns produtos não essenciais, que gerou distorções num mercado cada vez mais internacional: “A nossa concorrência é mundial. Quando o Governo proibiu a venda de brinquedos em hipermercados, houve um player internacional com operação em Espanha que vendeu mais brinquedos para Portugal do que para Espanha”, disse.

Para a gestora, a decisão “fez com que todos os portugueses perdessem”. “É um player que não emprega em Portugal, não paga impostos em Portugal. Não vale a pena estar a fazer pequenas leis para Portugal. Temos que ter um level playing field“, rematou.

Quando o Governo proibiu a venda de brinquedos em hipermercados, houve um player internacional com operação em Espanha que vendeu mais brinquedos para Portugal do que para Espanha.

Cláudia Azevedo

Presidente executiva da Sonae

Portugal com “medidas mais restritivas da Europa”

Na mesma ocasião, instado a comentar as medidas do Governo para a pandemia e o plano de desconfinamento, o administrador financeiro da Sonae, João Dolores, disse que a Sonae reconhece “a tarefa muito complicada” do Executivo. Mas admitiu que a empresa não concordou com “algumas” das restrições”.

“Tivemos das medidas mais restritivas da Europa, como a ocupação de pessoas por metro quadrado. Fomos um bocadinho além. Mas o pior nem esteve aí. O pior foi a atuação do Governo e do Parlamento na lei das rendas. Foi uma lei absolutamente inédita na Europa”, reforçou o gestor.

Sobre o tema, João Dolores assegurou que a Sonae “sempre” esteve “do lado” dos lojistas. E assegurou que os centros comerciais foram dos que “mais apoiaram” os comerciantes “em toda a Europa”.

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