A euforia em torno da GameStop, vista… pela própria GameStop
A GameStop reconhece que a volatilidade registada nas suas ações "não está relacionada" e é "desproporcional" face aos resultados operacionais da companhia.
Um investidor que tenha comprado 1.000 ações da GameStop a 1 de setembro de 2020, e as tenha vendido a 27 de janeiro deste ano, pagou 7.650 dólares por elas e encaixou uma mais-valia de 339,86 mil dólares, valorizando o seu capital em mais de 4.000%.
O cenário, apesar de possível, é altamente improvável: nenhum investidor consegue prever com exatidão os mínimos e os máximos na bolsa, sobretudo de uma empresa como a GameStop. Sendo uma cadeia de retalho de videojogos, muito assente em lojas físicas, mais improvável se torna no atual contexto da pandemia.
Mas uma multidão de pequenos investidores, congregada na rede social Reddit, tornou isso possível no início deste ano. Estes investidores, maioritariamente jovens com pouca experiência a negociar ativos financeiros, lançaram uma incursão contra os hedge funds de Wall Street que vendiam as ações da GameStop a descoberto, beneficiando da queda das ações da empresa. Alguns destes fundos tiveram de ser resgatados para não irem à falência.
Por tudo isto, este ano, a GameStop não tem saído das notícias. E voltou a estar em destaque esta semana, por ter apresentado os resultados anuais relativos a 2020. Registou um prejuízo de 215,3 milhões de dólares e as receitas afundaram. Esta quarta-feira, os títulos recuaram, mas continuam a cotar muito acima dos níveis pré-pandemia. Como tem sido a montanha-russa para os próprios gestores da empresa?
Subida das ações é “desproporcional” face aos resultados
É no relatório e contas de 2020 que a administração da GameStop alerta os investidores para a grande volatilidade que tem abraçado a empresa por estas semanas. No capítulo dedicado aos riscos, lê-se que “os investidores podem comprar” ações da empresa para “especularem” sobre o preço dos títulos. Recorda que isso “pode envolver” tanto posições longas como posições curtas (short selling).
Por isso, a empresa escreve também que “um short squeeze, resultado de um aumento súbito na procura por ações que largamente excede a oferta, tem levado, e pode continuar a levar, a volatilidade extrema no preço das ações” da GameStop. O short squeeze é o jargão dos mercados financeiros para um cenário em que a subida inesperada das ações de uma empresa “espreme” os investidores com posições curtas, obrigando-os a fecharem as mesmas e a realizarem perdas, uma vez que, nestas operações, bastante arriscadas, os prejuízos são teoricamente infinitos.
Mesmo neste contexto, os gestores da GameStop admitem que “uma larga porção” das ações da empresa “tem sido e continua a ser transacionada por short sellers, o que pode aumentar a probabilidade de as ações serem alvo de um short squeeze“. Em linhas gerais, os short sellers pedem emprestadas e vendem ações que não detêm, na expectativa de as comprarem novamente a um preço mais baixo, devolvendo-as ao titular original e encaixando a diferença (a tal “venda a descoberto”).
Perante tudo isto, a administração da GameStop reconhece que esta volatilidade “não está relacionada” e é “desproporcional” face aos resultados operacionais da companhia. “Assim que os investidores recompram as nossas ações para darem cobertura às suas posições curtas, o preço das nossas ações pode cair rapidamente. Acionistas que comprem as nossas ações durante um short squeeze podem perder uma parte significativa do seu investimento”, alerta, por isso, a GameStop.
Além disso, a administração decidiu também inscrever no capítulo dos riscos a elevada atenção mediática que tem sido dada à GameStop. “Informação disponível nos media e que é publicada por terceiros, incluindo blogues, artigos, fóruns, redes sociais e outros meios pode incluir declarações não atribuíveis a empresa e podem não ser uma fonte precisa ou de confiança”, lê-se na nota submetida ao regulador norte-americano dos mercados de capitais, a SEC.
“Temos recebido e vamos continuar a receber um elevado nível de cobertura mediática que é publicada e disseminada por terceiros”, afirma a empresa. A GameStop afirma, por isso, que este é um risco para os investidores que pode ter “impacto material” no preço dos títulos na bolsa.
Informação disponível nos media e que é publicada por terceiros, incluindo blogues, artigos, fóruns, redes sociais e outros meios pode incluir declarações não atribuíveis a empresa e podem não ser uma fonte precisa ou de confiança.
Por fim, a GameStop reconhece que uma “fatia” relevante das ações da companhia é detida por “funcionários, diretores e responsáveis” da própria companhia. “Vendas de um número substancial destas ações por estes acionistas, ou a perceção de que tais vendas possam ocorrer, podem provocar uma queda do preço de mercado das nossas ações”, remata a administração.
Para já, uma coisa parece ser certa: a euforia em torno das ações da GameStop não deverá ficar por aqui. Se há coisa que os investidores do Reddit já provaram, é que dão pouca (ou nenhuma) atenção aos resultados operacionais. Com o mercado inundado de liquidez e os cheques de estímulos de 1.400 dólares a chegarem às contas de muitos norte-americanos, algum deste capital irá, provavelmente, ser canalizado para o mercado bolsista. Resta saber quanto dele será usado para comprar ações da “GME”.
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