Banca fecha 2020 com prejuízos. Covid obriga a deixar mil milhões de lado

Mais crédito e mais depósitos, mas menos receitas. Balanço mais limpo antes do fim das moratórias. Perdas de 1.330 milhões do Novo Banco atiram setor para saldo negativo. Assim foi 2020 para a banca.

O ano da pandemia foi sinónimo de prejuízos para o conjunto dos principais bancos portugueses, que tiveram de deixar de lado mais de 1.000 milhões de euros para fazer face ao impacto dos efeitos do vírus na economia.

Em termos agregados, Caixa Geral de Depósitos (CGD), BCP, Santander, BPI e Novo Banco registaram resultados negativos de 228,3 milhões de euros – contra os lucros de 986 milhões de 2019.

A conta negativa deve-se sobretudo ao banco liderado por António Ramalho, que apresentou prejuízos de 1.329 milhões de euros, atirando o setor para o “vermelho”. Mas os outros bancos também viram os lucros caírem de forma acentuada em 2020. O lucro do BPI caiu quase 60%. A Caixa, que foi o banco que registou a menor quebra no resultado líquido, lucrou ainda assim menos 36,6% face a 2019.

Novo Banco atira setor para prejuízos

Fonte: Bancos

Dentro de todos os fatores específicos de cada banco, há um motivo comum que explica esta descida vertiginosa dos resultados: as provisões e imparidades que tiveram origem na Covid-19.

Há mais de um ano que Portugal convive com o vírus que já obrigou a dois confinamentos generalizados e a sérias restrições na vida das pessoas e na economia. A deterioração das condições económicas e financeiras de muitas famílias e empresas deixa dúvidas sobre a sua capacidade de pagar os créditos, levando a que a banca tenha criado uma espécie de “guarda-chuva” para o mau tempo que poderá vir aí depois do fim das moratórias.

Isso explica que os cinco principais bancos tenham registado provisões e imparidades de mais de mil milhões de euros só no ano passado – este montante não inclui outros montantes que os bancos deixaram de lado como, por exemplo, fundos de reestruturação (caso do Novo Banco e BCP), questão dos créditos em francos suíços na Polónia (BCP) e a venda da operação em Espanha (Novo Banco). Enquanto as provisões servem para cobrir potenciais riscos futuros que ainda não se materializaram, as imparidades significam reconhecimento de uma perda que tem de ser compensada (ainda que o banco possa vir a anular no futuro).

Por outro lado, se a rentabilidade do setor não era alta e era motivo de apreensão dos banqueiros, baixou acentuadamente no ano passado. Na Caixa, Santander e BPI, o indicador que mede a rentabilidade dos capitais registou quedas de mais de cinco pontos percentuais.

Receitas caem apesar de aumento do crédito

A pandemia também cortou a ligação que se suponha existir entre o crescimento dos volumes de crédito e depósitos e o aumento do negócio bancário. Os principais bancos deram mais empréstimos à economia, à boleia das linhas Covid-19 disponibilizadas pelo Governo e que gozam de garantia pública, e também receberam mais depósitos no ano passado. Ainda assim, os rendimentos com a margem financeira e comissões caíram.

De acordo com os resultados dos cinco maiores bancos nacionais, o crédito total aumentou 3,2% para 193,6 mil milhões de euros. Foi um aumento de cerca de seis mil milhões em relação a 2019. Já o dinheiro confiado pelos portugueses aos bancos aumentou 5,8% para 230 mil milhões de euros.

Isto não teve reflexos no negócio bancário, com a margem financeira (a diferença entre os juros recebidos nos empréstimos e os juros pagos nos depósitos) a cair 3% para 4,35 mil milhões de euros – recorde-se que as moratórias suspenderam o pagamento dos juros de milhares de contratos de crédito no ano passado. Já as comissões cederam 3,7% para 2,2 mil milhões, depois de os portugueses terem feito menos transações no ano passado.

Comissões recuam

Fonte: Bancos

Explicação do Santander: “Esta evolução é fruto, essencialmente, da redução dos spreads do crédito, por contexto concorrencial ainda elevado, da descida das taxas de juro de curto prazo, da diminuição da procura de crédito por empresas fora do âmbito das linhas com garantia do Estado, e ainda da gestão da carteira de dívida pública”.

Moratórias e malparado

Os cinco principais bancos do sistema nacional tinham no final do ano cerca de 35,8 mil milhões de euros de crédito em moratória, ou seja, sem pagar juros e/ou capital. Ou seja, concentram a grande maioria das moratórias concedidas em Portugal que totalizava os 46,1 mil milhões.

O Santander e BCP eram os bancos com mais moratórias ativas, acima dos 8,5 mil milhões no final do ano passado. Seguiam-se o Novo Banco (6,9 mil milhões) e depois a Caixa (6 mil milhões) e o BPI (5,2 mil milhões). A boa notícia é que as moratórias estão a cair.

Santander lidera moratórias

Fonte: Bancos

Ainda assim, os analistas têm dito que as moratórias têm ajudado a mascarar muitos problemas com créditos e antecipam uma subida do malparado após o término das moratórias. Antecipando esses efeitos negativos, a banca voltou a limpar o seu balanço no ano passado, com destaque para o Novo Banco, que viu o rácio de NPL (non performing loans) cair mais de três pontos percentuais para 8,9%. É, contudo, o rácio mais elevado entre os grandes bancos.

Os outros bancos também melhoraram os seus rácios de qualidade de ativos. O BPI tem o rácio de NPL mais baixo, de 2,3%. Caixa e BCP apresentam rácios de NPL de 3,9% e 3,1%, respetivamente. O rácio NPE (non performing exposure) do Santander caiu para 2,6%.

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