Os autotestes já começaram a ser vendidos nos espaços autorizados, mas ainda são difíceis de encontrar. O ECO percorreu os estabelecimentos de Benfica para comprar dois e conta-lhe a experiência.
Foi há cerca de uma semana que o Infarmed aprovou a lista de testes rápidos de antigénio para serem vendidos em farmácias e noutros locais de venda de medicamentos, não sujeitos a receita médica, ao público em geral. Contudo, só na quinta-feira começaram a ser vendidos nestes espaços, ainda que a “conta-gotas”. O ECO percorreu os estabelecimentos de saúde da zona de Benfica, em Lisboa, e só à quinta farmácia foi possível comprar um autoteste. Além disso, foi também comprar um outro teste à Wells. Resultado: testes são iguais, mas há diferenças nas instruções.
Até agora, há apenas uma marca com “luz verde” para ser vendida, isto apesar de o regulador já ter recebido 32 pedidos provenientes de 21 fabricantes, sendo que apenas dez foram submetidos corretamente pelo fabricante. Em causa está o teste “SARS-CoV-2 Rapid Antigen Test Nasal”, fabricado pela empresa sul-corenana SD Biosensor e distribuído em Portugal pela multinacional suíça Roche. Segundo as orientações do regulador do medicamento, este teste pode ser vendido à unidade ou, em alternativa, em embalagens de 25 testes. No entanto, independentemente do modelo escolhido, nesta fase inicial ainda há poucas farmácias a disponibilizarem autotestes, o que poderá ser explicado pelo facto de só na quarta-feira estes testes terem começado a ser distribuídos pela Roche, para este fim.
Entre as cinco farmácias da zona de Benfica, em Lisboa, que o ECO sondou na quinta-feira de manhã, apenas uma já disponibilizava estes testes. Nas restantes, as respostas variavam entre “estamos à espera, ainda não temos“, “não sabemos quando vamos receber“, “ainda estamos a analisar as propostas” ou, até, “ já temos em stock, mas estamos a aguardar ordens superiores para poder vender”. Mas à quinta tentativa foi possível comprar o autoteste. Mais fácil foi a procura nas zonas de bem-estar dos hipers. Logo na primeira Wells, o ECO comprou um outro teste.
Durante a compra, e tal como sugerido pela circular das autoridades de saúde, os farmacêuticos explicaram ponto por ponto todas as orientações a serem seguidas pelo cliente, desde o processo de colheita à interpretação e comunicação dos resultados e aconselhando até, que depois de feito, o mesmo fosse levado a uma farmácia para ser colocado nos resíduos tóxicos, de modo a evitar eventuais futuros contágios.
Terminada a procura e concluída a compra, o ECO fez o teste. Resultado: negativo para a Covid-19. Os autotestes são relativamente rápidos e fáceis de se fazer. Mas, consoante o local onde forem comprados, os clientes podem enfrentar alguns desafios sobretudo se não dominarem inglês.
Cada kit individual contém uma zaragatoa, um tubo de extração com o reagente, um “conta-gotas” e uma tira de teste (a chamada “cacete”) onde vai constar o resultado. Neste âmbito, os dois testes comprados são exatamente iguais.
Teste comprado. E agora?
Contudo, as grandes diferenças entre uma e outra compra dizem respeito às instruções fornecidas juntamente com o kit. No caso do teste comprado na Wells, há apenas um folheto informativo, todo em português e com todas as regras a seguir relativamente à preparação do teste, à recolha da amostra, à execução da amostra e à interpretação do resultado. Tudo isto com imagens ilustrativas a acompanhar, de modo a tornar a explicação mais intuitiva, tal como recomendado na circular do Infarmed.
Mas nem todos os testes que estão a ser vendidos cumprem estas regras do regulador do medicamento. No caso do teste comprado na farmácia Benfica, constam dois folhetos informativos: um em português, com informações genéricas sobre o que são os autotestes, como ler os resultados, como comunicar às autoridades de saúde e o procedimento de como fazer — é aqui que surge o principal entrave, uma vez que as explicações mais pormenorizadas são encontradas no outro folheto, que está em inglês.
Ou seja, neste caso quem não domine a língua inglesa poderá enfrentar alguns obstáculos. Mas, afinal, como é que se faz um autoteste?
Primeiro, o utilizador tem de recolher a amostra recolhida a partir das fossas nasais. Para o efeito, deve introduzir a zaragatoa com uma profundidade “de dois a três centímetros” em cada narina e rodar quatro vezes, segundo explicou ao ECO um dos farmacêuticos. Depois de recolhida a amostra, introduz-se a zaragatoa no tubo de extração (que contém o reagente), rodando cinco vezes (no caso das orientações do teste comprado na farmácia) ou dez vezes (no caso do teste comprado na Wells) e apertando ligeiramente para misturar adequadamente a solução com o reagente.
De seguida, junta-se o “conta-gotas” ao tubo de extração, por forma a contar as quatro gotas que vão ser colocadas na “cacete” que dará o resultado do autoteste. De sublinhar que apesar de as instruções e os kits serem diferentes, os dois testes comprados são da mesma marca já que é a única aprovada até agora em Portugal. Ultrapassadas as barreiras, estes testes não demoram do mais do que cinco minutos a fazer, sendo que o ECO optou por esperar 20 minutos para ver o resultado.
Comunicação dos resultados vai partir do “bom senso”
No início de fevereiro, a ministra da Saúde comprometeu-se a acelerar a testagem em massa, dado que vários epidemiologistas têm apontado que esta é uma estratégia fundamental para quebrar as cadeias de contágio e controlar a evolução da pandemia. A venda destes testes rápidos em farmácias e parafarmácias é, assim, uma das medidas tomadas pelo Executivo para cumprir este objetivo, já que até então, os testes só podiam ser realizados por profissionais de saúde. Não obstante, esta medida excecional está a levantar algumas questões, nomeadamente no que toca à comunicação dos resultados.
As autoridades de saúde apontam que em caso de resultado positivo ou inconclusivo os utentes devem ligar para a linha de Saúde 24 ou comunicar o resultado “em formulário eletrónico” que será disponibilizado “oportunamente” no site do Governo dedicado à Covid (ainda não está disponível). Ou seja, partirá do “bom senso” de cada um a comunicação dos resultados. Nesse sentido, um dos farmacêuticos que atendeu o ECO considera que será mais eficaz a solução encontrada pela Câmara Municipal de Lisboa ou até no Reino Unido.
A autarquia lisboeta permite que cada munícipe que vive nas freguesias de maior risco de incidência da Covid-19 (isto é, com mais de 120 casos por 100 mil habitantes) realize gratuitamente dois testes rápidos de antigénio por mês, nas farmácias aderentes. Neste caso, caberá aos profissionais das farmácias comunicarem os resultados às autoridades de saúde através do SINAVE, o que permite um controlo mais rigoroso, segundo este profissional. Já no caso do Reino Unido, os cidadãos podem comprar estes testes nas farmácias e outros locais de venda, mas têm de se dirigir a um laboratório para o realizar.
Nesse sentido, o responsável diz que o papel dos farmacêuticos será fundamental em todo este processo, já que terão a responsabilidade de transmitir toda a informação necessária aos utentes, bem como apelar a que comuniquem os resultados às autoridades. Quanto à procura destes testes, o responsável aponta que já foi maior, mais concretamente quando se soube que estes testes iam ser vendidos ao público em geral, tendo estabilizado nos últimos dias. A título de exemplo, o profissional disse que esta quinta-feira só tinham vendido três a quatro testes.
Wells sente “bastante procura”. Limita compra a 10 testes por pessoa
E se nas farmácias ainda é difícil encontrar os testes rápidos, na Wells o cenário é um pouco diferente e já contam com muitos clientes curiosos. “Temos sentido a procura a aumentar durante o dia. Nas últimas duas horas já sentimos bastante procura, inclusive, de pessoas a levarem mais do que um teste“, começa por contar o diretor-geral da Wells, em declarações ao ECO, na loja do Colombo.
Nesse sentido, e por forma a que não se verifiquem os açambarcamentos vividos no início da pandemia com as máscaras e os geles desinfetantes, a marca especializada saúde e bem-estar, do grupo Sonae, limitou “a venda a 10 testes por pessoa”, explica João Cília, acrescentando que o objetivo é “tentar que os testes cheguem ao maior número de pessoas possível”.
Segundo o responsável, “quanto mais pessoas tiverem acesso ao teste melhor é”, daí a decisão da Wells de vender em formato individual “para que as pessoas possam comprar uma, duas, três unidades”, por um preço de 6,99 euros a unidade. “Esta é a nossa prioridade”, aponta o diretor-geral. Ao mesmo tempo, para a semana, a Wells vai também começar a vender embalagens de 25 testes (ou seja, cinco euros a unidade), por forma a responder às necessidades “dos clientes que querem levar em grandes quantidades”, um formato que deverá ser mais apelativo, por exemplo, para empresas.
Apesar de sublinhar que ainda é cedo para fazer as contas sobre a adesão a estes testes, só nesta loja o responsável espera chegar ao final do dia “com várias dezenas de testes vendidos”. Só nas primeiras duas horas, a Wells já tinha vendido entre 20 a 30 testes. Esta procura não é apenas para comprar os testes, mas também para esclarecer dúvidas pontuais. “As dúvidas das pessoas inserem-se normalmente dentro do método de utilização do teste e, portanto, como é que o podem utilizar, quais são as regras, muitas dúvidas relativamente à eficácia e sobre o que devem fazer com base no que é o resultado”, sinaliza João Cília.
Nesse sentido, e com o intuito de esclarecer da melhor forma os clientes, ao longo das “últimas duas semanas”, a Wells organizou uma formação junto dos dois mil trabalhadores, com a colaboração da Roche, para “esclarecerem todas as dúvidas”. No futuro, a empresa de bem-estar do grupo Sonae não descarta “a venda de outros testes para além deste que foi inicialmente aprovado pelo Infarmed”, sublinhando que na decisão vai pesar a exigência “ao nível da qualidade dos testes” e a aprovação do regulador, conclui o diretor-geral.
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Autotestes ainda são raros, mas fáceis de fazer. Cuidado com as instruções
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