Nem todo o BCE concordou em acelerar compra de dívida devido ao agravamento dos juros

Lagarde alerta que, apesar do outlook mais positivo, a incerteza ainda é "considerável" pelo que é "crucial" resistir a uma retirada prematura de apoios, quer sejam de bancos centrais ou governos.

A resposta do Banco Central Europeu (BCE) ao risco da subida dos juros das dívidas na Zona Euro não é consensual dentro do Conselho de Governadores. Apesar de a maioria ter concordado com a proposta do economista-chefe Philip Lane de se acelerar a execução do programa de compra de ativos, as atas da última reunião mostram que a decisão não foi unânime e a autoridade monetária está pronta a recalibrar os instrumentos.

“Houve um amplo consenso entre os membros de que os recentes aumentos em taxas sem risco e yields soberanas requerem um reforço do ritmo de compras no âmbito do PEPP [Programa de Compras de Emergência Pandémica]”, apontam as atas divulgadas esta quinta-feira. A omissão a unanimidade revela que nem todos os governadores concordaram com a decisão, anunciada a 11 de março, de acelerar as aquisições mensais para um “ritmo significativamente mais elevado” no segundo trimestre.

Só o envelope do PEPP tem 1,85 biliões de euros para dívida pública e privada para combater o impacto do coronavírus nas economias. No entanto, a instituição liderada por Christine Lagarde desacelerou as aquisições entre o final de fevereiro e o início de março, numa altura que coincidiu com um sell-off de obrigações no mercado secundário, causando uma subida dos juros dos prazos mais longos (especialmente nos EUA), devido à crescente expectativa de que a taxa de inflação acelere nos próximos meses.

“A proposta de aumento significativo no ritmo de compras ao abrigo do PEPP constituiu uma resposta proporcional aos riscos que o aumento das taxas de mercado representam para as condições de financiamento mais amplas e, portanto, em última análise, para o mandato de estabilidade de preços”, defende o BCE. Decidiram igualmente que haverá uma avaliação trimestral das condições de financiamento e das perspetivas de inflação “para determinar o ritmo de compras necessário para manter as condições de financiamento favoráveis”.

Lagarde alerta para risco de retirada prematura de estímulos

Após a última reunião do Conselho de Governadores, o BCE divulgou também as projeções económicas para a Zona Euro, apontando para um crescimento de 4% em 2021, o que compara com os 3,9% previstos em dezembro do ano passado. Em 2022, o PIB deverá crescer 4,1% e em 2023 aumentará 2,1%. Num discurso esta quinta-feira nos encontros de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), que estão a acontecer remotamente, Christine Lagarde reafirmou esta quinta-feira que a pandemia esperar uma recuperação à medida que as restrições vão sendo levantadas.

“A pandemia e as medidas de contenção relacionadas continuarão a afetar adversamente a atividade económica da Zona Euro no curto prazo”, alertou a líder, num discurso disponibilizado pelo BCE por escrito. “No horizonte além do curto prazo, a atividade deve acelerar graças ao levantamento das medidas de confinamento, uma vez que há mais imunidade, medidas excecionais de política monetária, apoio continuado da política orçamental e recuperação da procura externa”.

Lagarde alertou que o outlook mais positivo não pode, no entanto, ser visto como abertura para recuar, pelo contrário. A incerteza ainda é “considerável” pelo que é “crucial” resistir a uma retirada prematura de apoios, quer sejam dos bancos centrais ou dos governos, defendeu, sublinhando ainda a necessidade de avançar com medidas estruturais de reafetação de recursos para setores mais viáveis, minimizando danos permanentes nas economias.

“No geral, os riscos em torno das perspetivas de crescimento da área do euro tornaram-se mais equilibrados, embora os riscos descendentes associados à pandemia se mantenham no curto prazo. As melhorias na procura global, também impulsionada pelos consideráveis estímulos orçamentais nos EUA, e o progresso nas campanhas de vacinação constituem fatores positivos“, acrescentou.

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