Pandemia vai conduzir a deterioração da qualidade dos ativos bancários, avisa BCE
Enria considera que, se medidas de apoio como as moratórias ou as linhas de crédito não se prolongarem além de meados do ano, haverá deterioração da qualidade dos ativos.
O presidente do Conselho de Supervisão do Banco Central Europeu (BCE), Andrea Enria, advertiu esta terça-feira que a pandemia vai conduzir a uma deterioração da qualidade dos ativos bancários. Numa audição com a comissão de economia do Parlamento Europeu para apresentar as atividades do conselho em 2020, Enria salientou que é essencial gerir precocemente o risco de crédito para evitar uma acumulação de crédito malparado e observou que esta deterioração será mais proeminente nos setores mais afetados pela crise.
“Uma importante lição aprendida da grande crise financeira é que a identificação precoce e a gestão do risco de crédito são essenciais para evitar a acumulação de maus empréstimos, o que amplificaria o choque e prejudicaria a capacidade dos bancos de apoiar a recuperação económica”, disse Enria.
É por isso que, acrescentou, o BCE enviou cartas em julho e dezembro do ano passado aos bancos a explicar as suas expectativas em termos de preparação para este aumento do crédito malparado e formulou uma estratégia para enfrentar o risco com duas prioridades. A primeira é monitorizar a queda abrupta na qualidade dos ativos que pode ocorrer quando medidas de apoio, tais como moratórias, linhas de garantia ou ajuda às empresas, são retiradas.
“Se não se prolongarem além de meados do ano, este será o momento em que veremos a materialização da (deterioração) da qualidade dos ativos, mas pedimos aos bancos que comecem já a analisar a viabilidade dos seus ativos”, adiantou.
A segunda é precisamente garantir que os bancos estão preparados, tendo capacidade operacional para lidar com o aumento de crédito malparado e cumprindo as regras prudenciais, para poderem apoiar clientes em dificuldades e limpar rapidamente os balanços.
A este respeito, Enria recordou que o BCE pediu aos bancos que fizessem provisões e dispusessem de amortecedores de capital para este risco, e adotou medidas devido à pandemia que “criaram um espaço de capital significativo para os bancos absorverem as perdas. Estes amortecedores, disse Enria, ainda mal foram utilizados, pelo que os bancos também os poderiam utilizar para continuar a emprestar à economia.
Enria afirmou que a estratégia para combater os maus empréstimos apresentada pela Comissão Europeia e apoiada pelos países da zona euro vai na “direção certa”, em particular iniciativas para melhorar as regras de insolvência nacionais, tornar o mercado secundário para estes empréstimos mais eficiente e criar uma rede de bancos maus europeus para os absorver.
O responsável do BCE disse ser essencial que os esquemas destes bancos maus sejam harmonizados entre países, em particular os custos de financiamento e os preços, para que todas as entidades possam ter acesso ao mesmo tipo de apoio para limpar os seus balanços.
Por outro lado, o chefe do supervisor bancário da zona euro disse que a pandemia tornou “mais urgente do que nunca” que os bancos enfrentem os problemas estruturais que explicam a sua baixa rentabilidade e avaliação de mercado, “ajustando os seus modelos de negócio” ao ambiente de taxas de juro baixas. Entre as medidas possíveis, Enria disse que a consolidação do setor poderia ser um instrumento para acabar com o excesso de capacidade do mesmo e considerou que existe “apetite” por esta, uma vez que o BCE esclareceu que não será contra.
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