Portugal já tem quase dois terços do financiamento de que precisa este ano. Custo está a subir

Portugal está a acelerar o financiamento da dívida, tendo já garantido quase dois terços das necessidades deste ano. Mas o custo está a aumentar. Juro médio da nova dívida quase duplica o de 2020.

Portugal tem recorrido pouco ao mercado, mas de cada vez que avança com novas emissões de dívida tem arrecadado montantes avultados em títulos de longo prazo. Decorrido apenas um quarto do ano, a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) já garantiu quase dois terços do total de 15 mil milhões de euros que precisa de obter em obrigações do Tesouro. Mas o custo de financiamento está a acelerar.

Foram apenas quatro as operações de financiamento de longo prazo realizadas este ano, mas duas delas não foram realizadas através dos tradicionais leilões. O IGCP recorreu por duas vezes a sindicatos bancários para lançar novas linhas de financiamento, primeiro a 30 anos, depois a 10 anos, com as quais arrecadou um total de sete mil milhões de euros.

Depois dos três mil milhões a 30 anos, foram agora mais quatro mil milhões de euros a 10 anos, com ambas as operações a registarem forte procura num contexto de elevada liquidez nos mercados. Para essa liquidez tem contribuído também a “bazuca” do Banco Central Europeu, que tem ajudado a manter os juros baixos.

Estes sete mil milhões em operações sindicadas garantem praticamente metade das necessidades líquidas deste ano, mas a percentagem já assegurada é ainda maior tendo em conta que é preciso contar ainda com outros 2,5 mil milhões de euros obtidos através de leilões de obrigações do Tesouro. Num desses leilões, Portugal fez história ao conseguir juros negativos no prazo a 10 anos.

Custo da dívida quase duplica

Portugal vai lançado no financiamento das necessidades líquidas deste ano. Cumpriu quase dois terços do programado, antecipando que o contexto de juros muito baixos possa não durar muito mais tempo. Aliás, recentemente Cristina Casalinho apontou nesse sentido: “o chão das taxas de juro baixas poderá já estar para trás de nós”, disse a presidente do IGCP.

Os juros da dívida afundaram no ano passado, levando a que as taxas da dívida soberana de vários países do euro passassem para “terreno” negativo, mesmo em prazos muito longos. De acordo com dados da TradeWeb solicitados pelo ECO, a 69% da dívida da Zona Euro chegou a apresentar taxas abaixo de zero no final de 2020, sendo a percentagem ainda superior no caso português: 78%.

Este cenário manteve-se no arranque de 2021, permitindo um leilão de dívida a 10 anos com juros negativos, mas desde então as taxas têm vindo a agravar-se. Seja pelas perspetivas de recuperação da economia, acompanhando a vacinação contra a Covid-19, seja pelos receios de reflação, os juros têm aumentado, encolhendo a “fatia” de dívida com taxas negativas. Na Zona Euro as yields abaixo de zero chegam a 59% da dívida, enquanto em Portugal atingem 63% da dívida total.

O reflexo deste evolução das taxas tem sido visível nas várias operações realizadas pelo IGCP, com dívida de longo prazo. Se em 2020 o custo da nova dívida foi o mais baixo de sempre, atingindo uma média de 0,5%, este ano, de acordo com dados da agência que gere a dívida nacional, praticamente duplicou: está em 0,9%.

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