Dos 50 aos 65 anos, nem na idade há consenso no travão à vacina da AstraZeneca

Nos últimos dias, vários governos, incluindo Portugal, decidiram restringir o uso da vacina AstraZeneca a uma camada mais velha da população. Contudo, as decisões sobre a faixa etária divergem.

A Agência Europeia do Medicamento (EMA) admitiu que há uma possível relação entre a formação de coágulos sanguíneos e a vacina da AstraZeneca. Contudo, o regulador defendeu que os benefícios na administração da vacina continuam a superar os riscos, pelo que deixou ao critério de cada Estado-membro a decisão de restringir ou não a administração do fármaco. E se a União Europeia pediu uma “posição coordenada” sobre este tema, a verdade é que até na idade os países divergem nas decisões.

Em causa está uma possível ligação entre a administração da vacina da AstraZeneca e casos raros de tromboembolismo associado ao baixo teor de plaquetas, depois de ter sido reportados alguns efeitos adversos. Apesar de a maioria dos casos terem sido detetados “em mulheres com menos de 60 anos de idade nas duas semanas seguintes à vacinação”, o regulador europeu não conseguiu encontrar com 100% de certeza uma relação com o género ou a faixa etária, explicou Emer Cooke.

Ao mesmo tempo, a diretora executiva da EMA reiterou que “os benefícios na prevenção da doença superam os riscos”, sublinhando que os casos são muito raros, já que até 4 de abril, o regulador tinha conhecimento de 169 episódios de tromboses, em 34 milhões de vacinados.

Face a estas novas conclusões, a presidência portuguesa da União Europeia (UE) decidiu convocar uma reunião de urgência com os ministros da Saúde dos 27 Estados-membros, por forma a chegar a uma posição coordenada. No entanto, da reunião não saíram conclusões, o que levou, inclusivamente, Portugal a avisar que “decisões individuais afetam todos” e a pedir uma “posição o mais coordenada possível” dentro da UE.

Não obstante, e apesar dos apelos para uma posição coordenada, nas últimas horas a lista de países que decidiram suspender unilateralmente a vacina da empresa anglo-sueca a determinadas faixas etárias não pára de aumentar, sendo que os critérios divergem e vão desde os 50 anos até aos 65 anos, dentro e fora do bloco comunitário.

Até ao momento, há já pelo menos 14 países que já tomaram esta posição, dos quais 11 dentro do espaço comunitário. Tal como Portugal, a maioria dos países decidiu apenas aplicar a vacina da AstraZeneca a pessoas com mais de 60 anos, são eles: Alemanha, Espanha, Estónia, Itália, Holanda, Coreia do Sul e Filipinas.

Relativamente a Portugal, Graça Freitas explicou que “a DGS recomenda, até estar disponível informação adicional, a administração da vacina da AstraZeneca a pessoas com mais de 60 anos”, sublinhando, no entanto, que todas as vacinas atualmente disponíveis são eficazes e seguras na prevenção da Covid-19, e frisando, inclusivamente, que as pessoas com mais de 60 anos têm maior risco de desenvolverem a doença e um menor risco de terem efeitos secundários adversos raros associados a esta vacina. Em terras “lusitanas”, até agora, foram dois os casos de eventos tromboembólicos associados à administração desta vacina e nenhuma morte, revelou o presidente do Infarmed.

Não obstante, e apesar de todos os avisos de que os benefícios superam os riscos, há países ainda mais cautelosos. Na Finlândia e na Suécia a vacina da AstraZeneca é administrada apenas a pessoas com mais de 65 anos. Ao mesmo tempo, há também quem não queira arriscar — apesar de o regulador sublinhar que os benefícios superam os riscos — tendo suspendido a vacina da AstraZeneca em todas as faixas etárias: é o caso da Dinamarca, Noruega e Letónia, segundo o The Guardian.

Um pouco mais “permissiva” foi a Austrália, por exemplo, que recomendou na quinta-feira o uso da vacina da Pfizer contra a Covid-19, em vez da produzida pela AstraZeneca, para pessoas com menos de 50 anos. “Assumimos as precauções necessárias com base nos melhores conselhos médicos possíveis”, apontou o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison.

Já em França, onde foram abertos pelo menos três processos por familiares de pessoas que morreram de trombose após tomarem a vacina da AstraZeneca, a vacina está suspensa para pessoas maiores de 55 anos, desde 19 de março. Esta decisão foi também tomada pelo Canadá, cerca de 11 dias depois. Já a Bélgica anunciou esta quinta-feira que vai parar de vacinar pessoas com menos de 56 anos com a vacina da AstraZeneca, sendo que a decisão será revista pelos ministros da Saúde regionais e nacional no espaço de quatro semanas, segundo o Politico.

O Reino Unido, por seu turno não tomou, para já, uma posição definitiva, mas abre a possibilidade de administrar uma vacina alternativa à da AstraZeneca a menores de 30 anos. Em comunicado, o Comité Conjunto de Vacinação e Imunização sugere que para as pessoas entre os 18 e 29 anos, “sem condições de saúde subjacentes”, é preferível que lhes seja administrada uma vacina alternativa à da AstraZeneca. Esta recomendação surge depois de o país ter reportado 79 casos de cóagulos sanguíneos, 19 dos quais foram fatais, em 21 milhões de doses administradas.

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