Comissão de Transparência passa a fazer “inquéritos” a deputados
Inquéritos serão sobre factos que "comprometam a honra ou a dignidade de qualquer deputado, bem como a eventuais irregularidades graves praticadas com violação dos deveres dos deputados".
A comissão parlamentar de Transparência vai passar a fazer “inquéritos a factos” que “comprometam a honra ou a dignidade de qualquer deputado” por eventuais dúvidas quanto ao conflito de interesses, por exemplo, como da deputada Joana Lima.
Esta decisão, tomada por unanimidade pela comissão, na reunião de terça-feira, vem clarificar dúvidas quanto ao método para analisar o eventual conflito de interesses de Joana Lima, do PS, que admitiu ter “arranjado” reuniões entre investidores brasileiros interessados na compra da Omni e técnicos da Parvalorem, a empresa pública a quem a Omni deve 17 milhões de euros.
A solução foi alterar o regulamento interno da comissão de Transparência e do Estatuto do Deputado, depois de alguma polémica com a análise do caso de Joana Lima, e criar um grupo de trabalho que ficará encarregado da “aplicação do Código de Conduta”, aprovado na revisão das leis para aumentar a transparência na vida política.
O grupo de trabalho, segundo o regulamento, deve fazer “inquéritos a factos ocorridos no âmbito da Assembleia da República que comprometam a honra ou a dignidade de qualquer deputado, bem como a eventuais irregularidades graves praticadas com violação dos deveres dos deputados, oficiosamente”, a pedido do próprio ou do presidente da Assembleia da República.
O caso Joana Lima nasceu com uma notícia do Correio da Manhã, em 28 de fevereiro, segundo a qual a deputada eleita pelo PS conseguiu duas reuniões entre investidores brasileiros interessados na compra da Omni e técnicos da Parvalorem. Questionada, a ex-autarca da Trofa afirmou: “Enquanto deputados, nós ajudamos as empresas. Procurei apenas o interesse público, desbloquear processos e arranjar reuniões. É para isso que somos eleitos.”
Em seguida, a associação cívica Transparência e Integridade (TI) escreveu à Assembleia da República, a questionar se já tinha sido analisada a questão, carta que Ferro Rodrigues remeteu aos deputados da comissão de Transparência. Já em março, foi decidido que a comissão faria um parecer sobre o assunto, da responsabilidade de Hugo Oliveira, deputado do PSD e vice-presidente da comissão.
Hugo Oliveira, o relator, invocou a alínea j) do n.º1 do artigo 27.ºA do Estatuto do Deputado, para propor um “procedimento de inquérito” e “avaliar a conduta seguida” pela deputada, o que “permitirá apurar todas as questões colocadas pela Transparência e Integridade e outras que eventualmente surjam”, segundo a ata de uma reunião da comissão, de 23 de março.
E alertou que este “inquérito é realizado com as limitações decorrentes” de a comissão “não gozar dos poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, por não ser uma comissão de inquérito” e por “apenas” poder usar os “poderes próprios das comissões parlamentares”, “requerendo informações, solicitando depoimentos de cidadãos ou realizando audições parlamentares de entidades”.
O deputado do PS Pedro Delgado Alves levantou reservas quanto ao parecer e à proposta, estranhando que se coloque agora a “questão metodológica” pois “já tinha havido situações idênticas em que se tinha apreciado eventuais incompatibilidades e impedimentos” e em que houve decisões da comissão através de parecer.
O deputado socialista questionou o inquérito e alertou para “as suas implicações” dado que, “no fundo do que se trata é de apuramento de factos”, ou seja, se houve a quebra de alguma regra legal por parte de Joana Lima. E pediu o adiamento da votação do parecer nessa reunião.
Grande parte da discussão em torno do assunto, segundo a ata, andou em torno da realização, ou não, do inquérito e em que termos. Por fim, ficou decidido que seria feita uma alteração ao regulamento da comissão, proposta que foi aprovada na reunião de terça-feira à tarde.
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