Banca pede dinheiro barato ao BCE para as empresas, mas aperta crédito
Bancos recorreram às operações de financiamento realizadas em março. Foram levantar dinheiro para, dizem, darem crédito às empresas, mas admitem que vão ser mais restritivos na concessão.
O Banco Central Europeu (BCE) tem usado várias ferramentas para ajudar a combater a crise pandémica. Além da “bazuca” para comprar dívida aos países do euro, mantendo os juros da dívida baixos, continua a dar liquidez à banca, a preços muito atrativos. Os bancos portugueses estão a recorrer a esses empréstimos, apontando o financiamento às empresas como principal foco. Obtêm milhões a juros que chegam a ser negativos, mas mesmo assim dizem que vão apertar os critérios para concederem crédito. Isso significa juros mais altos.
De acordo com o Inquérito ao Mercado de Crédito, realizado pelo Banco de Portugal, nenhum banco recorreu às operações de refinanciamento de prazo alargado direcionadas (ORPA direcionadas) realizadas em dezembro. Mas isso mudou na ORPA de março. “Quatro dos cinco bancos participaram” nesta operação de financiamento lançada por Christine Lagarde para combater os efeitos da crise do coronavírus na economia europeia.
Nesta ORPA, os bancos puderam contrair empréstimos do BCE a uma taxa favorável, “que pode ser tão baixa como −1%”, de acordo com o próprio BCE. “Os bancos são recompensados com esta taxa de juro mais baixa se continuarem a disponibilizar crédito às empresas e às famílias”, refere a autoridade monetária da Zona Euro, que oferece estas “condições mais atrativas” em financiamentos com maturidade de três anos.
“As condições atrativas de rendibilidade das operações” atraíram os bancos portugueses, revela o inquérito do Banco de Portugal. E se nas operações anteriores recorreram a estes empréstimos para “conceder empréstimos ao setor privado não financeiro e, em menor grau, para refinanciamento, detenção de liquidez junto do Eurosistema e aquisição de obrigações soberanas nacionais”, agora o foco são as empresas.
Esta liquidez irá servir, sobretudo, “para conceder empréstimos ao setor privado não financeiro”, referem os bancos, salientando que, em menor grau, servirá “para substituir dívida vencida e em alternativa ao crédito interbancário”. Contudo, no mesmo inquérito, essa abertura para a concessão de crédito às empresas aparenta não ser assim tão grande.
Depois de assumirem que foram “ligeiramente mais restritivos no crédito a empresas, designadamente a PME” nos primeiros três meses do ano, por causa da “maior perceção de riscos associados à situação e perspetivas de setores ou empresas específicos e, em menor grau, de riscos associados à situação e perspetivas económicas gerais e às garantias exigidas”, os maiores bancos do sistema financeiro nacional dizem que vão voltar a apertar critérios.
Os bancos antecipam a aplicação de “critérios de concessão de crédito ligeiramente mais restritivos no crédito a empresas e a particulares” neste trimestre, o que se traduz, em regra, por um maior escrutínio quanto à capacidade de reembolso de quem solicita o empréstimo. E o maior risco percecionado tende a ser pago com um spread mais alto, encarecendo o financiamento.
Talvez por isso o Inquérito ao Mercado de Crédito aponte para que “depois de ligeiro aumento da procura, no caso das PME e em empréstimos de longo prazo, e numa ligeira diminuição no caso das grandes empresas” no arranque do ano, até ao final de junho a perspetiva dos bancos, no crédito a empresas, seja de que se assista a “uma ligeira diminuição da procura”.
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