PIB vai cair no arranque de 2021, mas exportações são uma “pequena surpresa positiva”
Os economistas não têm dúvidas de que o PIB caiu no 1.º trimestre por causa do segundo confinamento, mas o número poderá ser melhor do que o esperado. As exportações de bens foram surpresa positiva.
Com o inesperado segundo confinamento no arranque de 2021, a economia portuguesa interrompeu a recuperação e voltou a cair tanto face ao quarto trimestre de 2020 como em termos homólogos, indicam as previsões dos economistas. O número oficial só será divulgado esta sexta-feira na estimativa rápida do Instituto Nacional de Estatística (INE), mas os dados até ao momento sugerem uma surpresa pela positiva, nomeadamente nas exportações de bens.
“A nossa melhor estimativa é de uma contração em cadeia de 5% no primeiro trimestre” e de 7% em termos homólogos, diz João Borges de Assunção, da Católica, ao ECO, ressalvando que “a incerteza desta estimativa é elevada devido à mudança de regime observada desde o primeiro trimestre do ano passado com o início dos confinamentos e que afetam de um modo diferente as várias séries que seguimos e em diferentes horizontes temporais”. Pela primeira vez desde o início da pandemia, um trimestre de PIB já vai comparar, em termos homólogos, com outro trimestre afetado, o primeiro trimestre de 2020 em que o PIB caiu 2,3%.
Porém, apesar de manter a previsão divulgada há duas semanas, o economista admite que os dados do comércio internacional de bens do primeiro trimestre foram “uma pequena surpresa positiva e sugerem uma melhoria no comportamento da procura externa líquida“. As exportações de bens cresceram 6% entre janeiro e março deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, ao passo que as importações caíram 5,7%.
António Ascensão da Costa, do ISEG, também não muda as previsões divulgadas no início deste mês. “Mantêm-se as perspetivas e a previsão avançada”, responde o economista ao ECO, assinalando que “a informação entretanto disponível para março foi no sentido do que se estava à espera“. O ISEG prevê uma contração em cadeia de 2,5% a 3,5% e de 4,6% a 5,6% em termos homólogos. Certo é que o impacto do segundo confinamento ficará bem aquém da queda de 13,9% (em cadeia) registada no segundo trimestre do ano passado, período do primeiro confinamento.
Mais otimista está o BCP que prevê uma queda em cadeia de 2% e de 4,1% em termos homólogos. Numa nota de conjuntura divulgada esta semana, os economistas do banco explicam que “em termos trimestrais, a contração da economia portuguesa deverá refletir uma queda da procura doméstica, sobretudo no que concerne ao consumo de serviços, penalizado pela reintrodução de medidas restritivas para conter o forte agravamento da pandemia no início do ano”.
“Por sua vez, o investimento deverá revelar alguma resiliência, beneficiando do desempenho favorável do setor da construção“, antecipam, confirmando também que esperam um contributo positivo da procura externa líquida dado o desempenho das exportações de bens, graças ao “dinamismo da indústria a nível global”, e apesar das exportações de serviços (turismo) continuarem muito afetadas pela pandemia.
A previsão do Fórum para a Competitividade está alinhada com a do BCP ao fixar o intervalo entre 1% a 3% para a quebra em cadeia e entre 3,5% a 5,5% para a variação homóloga. Também a Comissão Europeia previa para Portugal em fevereiro uma queda de 2,1% em cadeia no primeiro trimestre, o que seria a maior entre os 27 Estados-membros. Contudo, esta comparação já não deverá ser válida dado que também outros países confinaram novamente neste início de 2021.
OCDE prevê queda do PIB português inferior a 1%
Mais otimista ainda do que o BCP e o Fórum está o tracker da OCDE que mede a atividade económica com base nas pesquisas no Google feitas em cada país, detetando o sentimento dos consumidores a cada momento. Os dados do primeiro trimestre deste ano relativos a Portugal apontam para uma queda do PIB em cadeia ligeiramente abaixo de 1% (0,95%). Entre os países europeus, a Eslováquia, a Irlanda e a Alemanha deverão registar quedas maiores.
Com esta nova queda do PIB, dependendo do número final, a atividade da economia portuguesa ainda ficará a cerca de 90% do nível registado no quarto trimestre de 2019, o último período “normal” antes da pandemia, de acordo com os cálculos do NECEP. O Governo espera que se concretize um crescimento anual de 4% em 2021 e de 4,9% em 2022, recuperando o nível pré-crise durante o próximo ano.
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