PIB recupera da pandemia para o ano, mas défice e dívida demoram mais

A economia, medida pelo PIB, deverá recuperar o impacto da crise pandémica já no próximo ano, mas o défice e a dívida pública, que aumentaram para absorver o choque, vão demorar mais.

A economia portuguesa vai recuperar mais depressa do que as contas públicas. As novas previsões divulgadas esta quinta-feira pelo Governo no Programa de Estabilidade 2021-2025 confirmam que o PIB vai voltar ao nível pré-crise no próximo ano, mas o saldo orçamental não regressa a um excedente pelo menos até 2025 e a dívida pública só volta ao rácio anterior à pandemia nesse ano. A trajetória destes indicadores é explicada, em parte, pela absorção parcial dos custos da crise pelo Estado, o que fez disparar o défice e a dívida.

O crescimento da economia em 2021 e 2022 permitirá que o PIB português ultrapasse no próximo ano o nível que tinha em 2019, antes da crise pandémica. Em concreto, o PIB em volume chegará aos 205 mil milhões de euros em 2022, quase 1% acima do valor pré-Covid e 9,1% acima do valor registado em 2020. No ano passado, o PIB caiu 7,6%, perdendo 15 mil milhões de euros num só ano por causa da pandemia. No final do próximo ano, o Produto Interno Bruto estará dois mil milhões de euros acima do de 2019.

Fonte: Ministério das Finanças.

Porém, esta retoma da economia portuguesa não é rápida a nível internacional, sendo mais lenta do que a de países europeus menos dependente do turismo, como é o caso da Alemanha, em que a recuperação será mais célere e poderá acontecer já este ano em alguns casos. Segundo as últimas previsões da Comissão Europeia, Portugal só está melhor do que Espanha e Itália na rapidez da recuperação, ficando atrás dos restantes países europeus. Além disso, fica longe do desempenho dos Estados Unidos, que vão recuperar totalmente já no início deste ano, e da China, que no final de 2020 já tinha recuperado.

Contas públicas demoram mais a recuperar do choque da Covid-19

O impacto da crise no PIB acabou por ser inferior ao esperado no início da pandemia e a recuperação será mais rápida em parte porque o Estado absorveu parte das perdas com medidas como o lay-off simplificado e outras ajudas públicas aos cidadãos e às empresas. Os apoios provocaram um agravamento significativo do saldo orçamental em 2020, passando de um excedente de 0,1% para um défice de 5,7% do PIB, de acordo com a estimativa do Instituto Nacional de Estatística (INE). Com a economia a registar a maior queda do período democrático e o défice a disparar como na crise das dívidas soberanas, a dívida pública deu um grande salto dos 116,8% do PIB em 2019 para os 133,6% do PIB em 2020.

Fonte: Ministério das Finanças.

O facto de as medidas de apoio à economia serem temporárias facilita a redução do défice, mas como a pandemia está a demorar mais tempo a ser resolvida o impacto orçamental vai continuar a fazer-se sentir. Em 2021, o Governo estima que o défice baixe para os 4,5%, reduzindo-se muito menos do que o esperado no Orçamento do Estado para 2021. Nos anos seguintes, o desequilíbrio orçamental vai diminuindo, mas não deixará de existir pelo que o regresso aos excedentes orçamentais (o nível pré-crise) não está nos planos do Governo até 2025.

Já a dívida pública vai cair mais depressa com a ajuda do crescimento da economia, alcançando em 2025 (114% do PIB) um valor mais baixo do que o registado anteriormente à crise pandémica. Para esta trajetória concretizar-se, o Governo conta não só com o aumento do PIB, mas também a redução do défice e a manutenção dos juros diretores do Banco Central Europeu (e das suas compras de dívida pública) em níveis historicamente baixos, mesmo que subam ligeiramente no médio prazo.

Fonte: Ministério das Finanças.

No caso do mercado de trabalho, o Governo também espera uma recuperação rápida. Desde logo, o ponto de partida é melhor do que em crises anteriores dado que houve uma menor destruição de postos de trabalho, o que é explicado, em parte, pelos apoios do Estado à manutenção do emprego durante a pandemia. A taxa de desemprego ainda vai aumentar para 7,3% em 2021 por causa do regresso dos inativos à população ativa, mas começa a diminuir em 2022 (6,7%) e em 2023 já estará num nível mais baixo do que o de 2019: a taxa de desemprego chegará aos 6,4%, abaixo dos 6,5% registados antes da crise pandémica. O Governo admite até que o desemprego possa ser inferior a 6% em 2025, um nível que não é atingido desde 2002.

Fonte: Ministério das Finanças.

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