Com desconfinamento, PIB voltará a crescer no segundo trimestre

Os economistas consultados pelo ECO dão como garantido que no segundo trimestre o PIB vai crescer na comparação homóloga. É a primeira vez que tal vai acontecer desde que a pandemia chegou a Portugal.

Pela primeira vez desde que a crise se pandémica instalou em Portugal, o Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre deste ano deverá crescer em termos homólogos (face ao segundo trimestre de 2020) e em cadeia (face ao primeiro trimestre de 2021). A convicção é dos economistas contactados pelo ECO que antecipam esse cenário pela base de comparação baixa — o PIB afundou muito mais há um ano — e pela continuação do processo de desconfinamento no país.

O normal será um forte crescimento do PIB em termos homólogos, embora não da mesma ordem de grandeza do DEI [indicador do Banco de Portugal] que, apesar de ser um indicador útil e de qualidade, não permite corrigir de forma adequada para efeitos base tão fortes como os que teremos nas variações homólogas do 2º trimestre”, afirma João Borges Assunção, professor e economista da Católica, antecipando que o nível do PIB fique entre o do primeiro trimestre de 2021 e o do terceiro trimestre de 2020, “no caso de não haver novos confinamentos”.

Esta ressalva é importante uma vez que Portugal está num processo de desconfinamento e pode haver recuos. “Mesmo que, por hipótese, a economia não crescesse do 1º para o 2º trimestre de 2021, mesmo assim o crescimento homólogo já seria significativo“, calcula António da Ascensão Costa, do ISEG, afirmando que “apesar de possíveis contrariedades e de um desconfinamento mais lento, e de uma conjuntura europeia menos favorável, é bastante provável que Portugal volte a registar crescimento em cadeia no 2º trimestre”.

A expectativa de expansão homóloga é corroborada por Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa: “É esperado um crescimento do PIB no segundo trimestre de 2021 por várias razões: O processo de desconfinamento, a base mais baixa relativa à significativa contração económica no segundo trimestre de 2020 e o acesso da população em geral aos testes rápidos à covid-19 vendidos pelo retalho e que irão permitir maior proximidade social no setor mais afetado até agora, o travel&leisure, restauração e hotelaria, turismo, ou seja, setores com um peso considerável no PIB português”.

Pedro Braz Teixeira, do Fórum para a Competitividade, também considera ser “quase certo” um crescimento homólogo do PIB no segundo trimestre deste ano dado que o trimestre homólogo “foi o pior da pandemia”. “Nessa altura não havia ‘escapatórias’ que se foram construindo ao longo do ano”, diz. Porém, o economista nota que o cenário internacional é “ambivalente”: por um lado, a Europa entra novamente em confinamento; por outro lado, o pacote de estímulos dos EUA já está “no terreno” e dará uma ajuda direta e indireta às exportações portuguesas. Em termos internacionais, “o panorama é de maior otimismo”, apesar de na Europa a pandemia estar numa “fase ascendente, da qual não sabemos o limite nem a duração”.

No segundo trimestre do ano passado, o PIB caiu 16,3% em termos homólogos e 13,9% em cadeia, números nunca antes vistos na série histórica deste indicador. Esta forte queda da atividade económica é explicada pela primeira reação à pandemia, com as primeiras medidas a serem implementadas e um receio maior por parte da população. Desde então que as empresas e os cidadãos adaptam-se à nova realidade, tanto que no quarto trimestre, apesar das restrições significativas, o PIB cresceu face ao trimestre anterior, ao contrário do esperado pelos economistas.

Para já, os primeiros dados do indicador do Banco de Portugal, o DEI, relativos ao final de março, já mostra variações homólogas positivas, ao contrário do que mostrava toda a trajetória desde que a pandemia começou. Esperava-se uma melhoria do indicador por causa do desconfinamento, mas o efeito de base não permitia perceber essa influência, ainda para mais quando o DEI até piorou nas primeiras semanas de março.

Fonte: Banco de Portugal

Porém, na última atualização o Banco de Portugal publicou um novo gráfico onde compara a evolução atual com o acumulado de dois anos (para limitar o efeito de 2020) e mesmo assim o DEI apresenta uma variação positiva, o que é um bom sinal para a economia portuguesa.

“Poupança forçada” vai tornar-se em consumo e em inflação?

Um dos fatores que ditarão o ritmo de recuperação da economia portuguesa é o comportamento do consumo. Como recordava o Banco de Portugal no último boletim económico, não é de excluir que haja, depois da “poupança forçada” pelas restrições da pandemia, haja uma “poupança de precaução” dado o momento de crise que se vive. Essa é uma das dúvidas dos economistas já do segundo trimestre à medida que o processo de desconfinamento vai desenrolando-se.

Pedro Braz Teixeira calcula que houve uma poupança adicional de 8,8 mil milhões de euros em 2020 (face à poupança anual normal) em Portugal, a qual considera ser essencialmente “forçada” e não por “precaução”. Assim, antevê que a taxa de poupança regresse gradualmente aos níveis normais à medida que as restrições forem retiradas.

Para João Borges Assunção “esse é um efeito possível (gasto da poupança acumulada) que propiciará ressaltos grandes no andamento de muitas séries [estatísticas]”. Porém, “o importante será saber a que nível os dados estabilizarão e não tenho visibilidade sobre isso, nem empírica nem teórica“, diz o economista.

António da Ascensão Costa também é cauteloso, antecipando uma recuperação do consumo gradual e não repentina. A expectativa é que quem não perdeu rendimento possa vir a “afetar as suas poupanças a bens mais caros e à aquisição de bens duradouros”. O problema está nos que perderam rendimento: um grupo de portugueses “que só irá recuperar mais tarde, eventualmente com a retoma do crescimento económico”.

Não se pode excluir, porém, que a “pandemia pode ter alterado alguns hábitos mais despesistas dos portugueses no curto prazo“, avisa Paulo Rosa. Ainda assim, o economista sénior do Banco Carregosa admite que “os portugueses pretendem aumentar o seu consumo, sobretudo de serviços que estão encerrados ou a laborar parcialmente como lazer e a restauração”.

E, caso se confirme um cenário de forte retoma do consumo, é expectável ver a inflação à porta? Os economistas até admitem algum aumento dos preços, mas nada significativo. “É normal o aparecimento de alguma inflação num período de reabertura da economia, recuperação económica e início de um novo ciclo económico”, diz Paulo Rosa, para logo de seguida acrescentar que “nesta altura ainda tão debilitada para muitas empresas portuguesas, não é esperada nenhuma subida de salários e, por conseguinte, não é esperada inflação indesejável“.

Pedro Braz Teixeira também não vê inflação significativa com o desconfinamento, argumentando que a urgência das empresas é aumentar as vendas e não os preços, até pela concorrência. A mesma visão tem António da Ascensão Costa: “Não prevejo que a retoma do consumo nos setores antes referidos como mais afetados venha originar um salto na inflação“, diz, apontando apenas para uma recuperação dos preços que possam ter caído por causa da pandemia. João Borges Assunção é ainda mais taxativo ao dizer que “esse tema só visitará a economia portuguesa daqui a alguns trimestres”. A inflação não parecer ser uma questão para a economia portuguesa, para já.

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