Confuso com as vacinas da AstraZeneca e da Janssen? Esclareça as dúvidas

A DGS atualizou a norma relativa à vacina da AstraZeneca e publicou a norma da Janssen. Mas, afinal, o que muda na administração destas vacinas? E como pode condicionar o plano de vacinação?

Com a chegada de mais vacinas, Portugal prepara-se para entrar na fase de “velocidade cruzeiro” da vacinação contra a Covid-19. Contudo, depois de o regulador europeu ter admitido que existe uma possível ligação entre a formação de coágulos sanguíneos e a administração das vacinas da AstraZeneca e da Janssen, por precaução, as autoridades de saúde realizaram alguns ajustes ao plano de vacinação contra o novo coronavírus.

Nesse sentido, a Direção-Geral da Saúde atualizou a norma relativa à administração da vacina da AstraZeneca e publicou a norma da vacina da Janssen, dando “luz verde” à sua administração, ainda que limitada. Mas, afinal, o que muda na administração destas vacinas? E como é que estas limitações podem condicionar o curso do plano de vacinação daqui para a frente? Confuso? O ECO preparou um guia.

1. Tenho menos de 50 anos, mas gostava mesmo de tomar a vacina da Janssen porque é de dose única. Posso?

Atualmente, a Direção-Geral da Saúde (DGS) só recomenda a administração da vacina da Janssen, do grupo Johnson & Johnson, apenas a pessoas com 50 anos ou mais anos, apesar de as autoridades, tanto nacionais como internacionais, continuarem a sublinhar que os benefícios de administração desta vacina continuam a superar os riscos.

Nesse sentido, na norma 004/2021 divulgada pelas autoridades de saúde, a instituição liderada por Graça Freitas aponta que as pessoas com menos de 50 anos “que assim o desejem” podem ser vacinadas com esta a vacina, “desde que sejam devidamente informadas sobre os benefícios e os riscos, e concedam expressamente o seu consentimento informado”.

Esta hipótese serve também paras as pessoas com menos de 60 anos que queiram ser vacinadas com a vacina da AstraZeneca, já que esta vacina também é só recomendada para maiores de 60 anos. Não obstante, ainda não é claro como é que esta intenção poderá ser manifestada pelos utentes e de que forma serão convocados.

2. Tenho menos de 60 anos e já tomei uma dose da AstraZeneca. Posso tomar a segunda?

Ainda não há uma indicação definitiva da Comissão Técnica de Vacinação sobre este assunto, dado que estão a ser ultimados novos estudos no Reino Unido, segundo revelou Luís Marques Mendes, no espaço de comentário semanal na SIC. Não obstante, na atualização da norma 003/2021, divulgada também na sexta-feira, a DGS clarifica que a recomendação é que as pessoas com menos de 60 anos que já levaram a primeira dose da vacina da AstraZeneca tomem a segunda dose da vacina anglo-sueca, no espaço de até 12 semanas (cerca de três meses), tal como sugerido pela Agência Europeia do Medicamento.

3. Mas e se não quiser levar a segunda dose da AstraZeneca posso levar uma vacina de outra marca?

Tal como referido anteriormente, a recomendação é que seja administrada a vacina da AstraZeneca a quem já tomou a primeira dose. Não obstante, a DGS diz que, em alternativa, as pessoas com menos de 60 anos que já tomaram a vacina da AstraZeneca podem aguardar “que sejam conhecidos novos dados relativamente à utilização de uma vacina de outra marca, para completar o esquema vacinal”. Ou seja, para já, terá que aguardar pelo novo parecer da DGS, sendo que no futuro a solução poderá passar por uma vacina alternativa.

“A recomendação é que a segunda dose seja da AstraZeneca. Se, por qualquer motivo, não quiserem essa, terão possibilidade de optar por outra vacina, no seu devido tempo”, explicou o secretário de Estado Ajunto e da Saúde, António Lacerda Sales, durante uma visita ao Centro Hospitalar do Oeste, nas Caldas da Rainha, na sexta-feira.

4. Tomei a primeira dose da vacina da Astra e já tive Covid. Vou levar a segunda dose?

Para já, e tal como acontece com as outras vacinas contra a Covid-19 administradas em Portugal, quem já esteve infetado pelo SARS-CoV-2 há, pelo menos seis meses, toma apenas uma dose da vacina. Contudo, importa sublinhar que só a partir de dia 23 de maio é que está previsto começarem ser vacinadas as pessoas que já foram infetadas, ou seja, a partir do dia em se prevê que ficam vacinadas as pessoas acima dos 60 anos.

5. Quais são as reações adversas associadas as vacinas da AtraZeneca? E da Janssen?

Nos últimos dias, as vacinas da AstraZeneca e da Janssen têm estado “debaixo de fogo”, após a Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla em inglês) ter admitido que existe uma possível ligação entre a formulação de coágulos sanguíneos e administração destes fármacos. Contudo, o regulador europeu reitera que os casos são “muito raros” e sublinha que os benefícios continuam a superar os riscos.

Nesse sentido, sensibilidade, dor, calor, prurido ou equimose no local da injeção, fadiga, mal estar geral, mialgia, artralgia; febrícula (< 38ºC), arrepios, cefaleias ou náuseas são as reações adversas “muito frequentes” (≥1/10) associadas à toma da vacina da AstraZeneca, sendo que geralmente são “ligeiras e moderadas” e desaparecem alguns dias após a vacinação. Já no caso da Janssen, os sintomas mais comuns são: dor no local da injeção, cefaleias, fadiga, mialgias e náuseas.

Quanto às reações adversas “frequentes” na vacina da AstraZeneca (≥ 1/100 e < 1/10) são: trombocitopenia, tumefação ou eritema no local da injeção, febre (>38ºC), vómitos e diarreia. Ao passo que na vacina da Jassen são: tosse, artralgia, pirexia, tumefação e eritema no local da injeção ou arrepios.

Já no que toca às reações “pouco frequentes” da AstraZeneca (≥1/1000 e <1/100), segundo a DGS, podem ocorrer as seguintes reações: tonturas, sonolência, linfadenopatia, rash cutâneo, prurido no local da injeção, sudação ou diminuição do apetite. Enquanto que no caso da Janssen os sintomas “pouco frequentes” passam por: tremor, espirros, dor orofaríngea, rash cutâneo, hiperhidrose, fraqueza muscular, dor na extremidade, dor dorsal, astenia ou mal-estar geral.

Ao mesmo tempo, muito menos frequentes (<1/10.000) e, por isso, consideradas reações adversas “muito raras” da vacina da AstraZeneca dizem respeito a casos de “trombose concomitantemente com trombocitopenia”, sendo estes casos incluem tromboses venosas tais como trombose dos seios venosos cerebrais, trombose da veia esplâncnica, bem como trombose arterial.

Enquanto que a hipersensibilidade (reações alérgicas da pele e do tecido subcutâneo) e urticária são algumas das reações adversas raras da vacina da Janssen, e, tal como acontece na vacina da AstraZenca as trombososes são consideras reações adversas “muito raras”.

De sublinhar que na sequência dos casos de tromboses detetados e possivelmente associados a estas duas vacinas, o regulador europeu apelou a que os profissionais de saúde e as pessoas vacinadas se mantenham atentas aos seguintes sintomas entre duas semanas (no caso da vacina da AstraZeneca) a três semanas ( no caso da Janssen) após a vacinação:

  • falta de ar;
  • dor no peito;
  • inchaço na perna;
  • dor abdominal persistente (barriga);
  • sintomas neurológicos, incluindo dores de cabeça graves e persistentes ou visão turva;
  • pequenas pontos de sangue na pele no local onde foi dada a injeção.

De sublinhar que tal como acontece com qualquer outra reação adversa associada a qualquer medicamento ou vacina, em Portugal estas reações devem ser notificadas no Portal RAM para serem monitorizadas. Em caso de persistência, as autoridades de saúde nacionais aconselham a contactar o seu médico ou a linha SNS 24.

6. Limitação etária destas vacinas pode colocar em causa a meta de ter 70% dos adultos vacinados até ao final do verão?

Neste momento, o foco do plano de vacinação contra a Covid-19 está em ter toda a população com mais de 60 anos vacinada até ao final de maio, já que foi nesta faixa etária que foram registados 96% dos óbitos provocados pela doença em Portugal. Nesse sentido, e dado que Portugal tem a partir deste segundo trimestre uma maior disponibilidade de vacinas, este objetivo não deverá estar em causa, tal como o ECO constatou anteriormente.

Contudo, o problema poderá colocar-se no segundo grande objetivo delineado pelo Governo. Numa fase inicial, o Governo comprometeu-se a ter 70% da população adulta vacinada até ao final do verão. Não obstante, e dada a maior disponibilidade de vacinas, o Executivo revelou que esse objetivo podia ser antecipado para o início de agosto.

No entanto, e na sequência da limitação etária associada a esta vacinas, o coordenador da task force veio admitir que o objetivo poderia vir a ser novamente atrasado. “O limite de idade de dois tipos de vacinas” que estão a ser administradas “pode condicionar utilização ate meio milhão de vacinas” já no segundo trimestre, enquanto no terceiro trimestre “as duas vacinas com limitações de idade podem retirar a plano 2,7 milhões de vacinas”, disse Gouveia e Melo, na reunião do Infarmed, na semana passada.

Assim, segundo explicou o vice-almirante este impacto pode “reduzir o ritmo de vacinação” nomeadamente no terceiro trimestre deste ano e, consequentemente, “atrasar a meta dos 70% da população vacinada” até ao verão, sublinhando que no pior dos cenários este objetivo deverá concretizar-se ” “entre agosto e setembro” deste ano.

7. Quantas vacinas da AstraZeneca e da Janssen vão chegar a Portugal?

Só neste trimestre, as autoridades de saúde portuguesas esperam receber mais de 9 milhões de doses de vacinas, das quais cerca de 5,5 milhões da Pfizer, 795,6 mil da Moderna, 1,6 milhões da AstraZeneca e 1,2 milhões da Janssen, de acordo com os dados divulgados pela task force ao ECO a 23 de abril.

8. Quantas vacinas poderão não ser utilizadas devido a estas limitações de idade?

A limitação etária relativamente à administração das vacinas da AstraZeneca e da Janssen poderá colocar em causa 6,9 milhões de vacinas (das quais 4,6 milhões da AstraZeneca e 2,3 milhões da Janssen), segundo revelou Luís Marques Mendes, no espaço de comentário da SIC. Ao mesmo tempo, o advogado e antigo líder do PSD apontou que a vacinação das pessoas com menos de 50 anos poderá atrasar-se devido a estas limitações.

9. O que é que Portugal pode fazer com as vacinas que “sobram”?

Dada a maior disponibilidade de doses de vacinas e a limitação etárias associada às vacinas anglo-sueca e norte-americana, Portugal poderá aproveitar para exportar as vacinas para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e para Timor-Leste. No final de fevereiro, o primeiro-ministro já tinha mencionado que África será prioritária na disponibilização de doses adicionais de vacinas contra a Covid-19 e que Portugal procurará “redirecionar” para Timor-Leste e para os PALOP 5% das vacinas adquiridas. Um dia depois, o ministro dos Negócios Estrangeiros clarificou que, esses 5% de vacinas adquiridas se refletem em cerca de um milhão de vacinas contra a Covid-19 destinadas a estes países, sendo que as primeiras doses deverão começar a chegar a estes países no segundo semestre deste ano.

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