Cerca de 46% das empresas “zombie” da anterior crise recuperaram
Um estudo mostra que cerca de 46% das empresas "zombie" recuperaram a viabilidade económica nos primeiros três anos após terem sido identificadas como tal.
Cerca de 46% das empresas “zombie” da anterior crise recuperaram a viabilidade económica nos primeiros três anos após terem sido identificadas como tal, revela um estudo sobre a recessão de 2008-2013 da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
“A probabilidade de recuperação das empresas ‘zombie’ não é nula” e as que recuperaram a viabilidade económica “necessitaram de três anos e dois meses para o fazerem”, lê-se no estudo “Crise e crédito: lições da recessão de 2008-2013”. De acordo com o documento, entre 2005 e 2016, em média, cerca de 46% das empresas ‘zombie’ recuperaram a sua viabilidade económica e financeira, 28% encerraram e 26% mantiveram-se nesse estado.
Segundo os autores, uma empresa ‘zombie’ é “toda a empresa sobre-endividada que, sendo incapaz de responder aos compromissos financeiros por falta de rendibilidade, mantém a sua atividade suportada na condescendência dos credores”.
A incidência de empresas ‘zombie’ na economia portuguesa é elevada, quer em número de empresas, quer em recursos captados, representando entre 2005 e 2016 cerca de 11% do tecido empresarial e 6% do emprego total, indica o estudo. As reformas do regime de insolvência de 2012 aceleraram o processo de liquidação das empresas ‘zombie’ e aumentaram a probabilidade destas recuperarem após a reestruturação, indica o documento.
O estudo conclui ainda que, durante o período recessivo de 2008-2013, o risco de encerramento das novas empresas fortemente endividadas, nos primeiros anos de vida, foi três vezes maior do que o das empresas menos endividadas. Os autores consideram que a análise sobre a recessão de 2008-2013 poderá vir a ser útil para a formulação de políticas no atual contexto dominado pela crise causada pela pandemia.
“Dada a magnitude do choque negativo a que se assiste, uma deterioração drástica nos balanços das empresas desencadeará necessariamente um aumento no risco de encerramento de um número significativo de empresas viáveis”, afirmam os autores, defendendo que “políticas contracíclicas destinadas a aliviar os problemas de liquidez das empresas são, pois, da maior relevância”.
Os autores alertam para que “importa garantir que as políticas públicas canalizam os recursos para as empresas mais viáveis” com vista ao crescimento da economia. “Uma estratégia que inclua a reorganização de ativos e da força de trabalho, a mudança tecnológica e a reestruturação da dívida faz aumentar a probabilidade de recuperação das empresas económico-financeiramente viáveis”, pode ler-se no documento.
Os autores avisam que “a reestruturação e a insolvência envolvem custos significativos, designadamente o desemprego, o que conduz à necessidade de adequado acompanhamento por parte das entidades públicas”. O estudo foi coordenado por Carlos Carreira, professor da Universidade de Coimbra e investigador, e teve como autores Paulino Teixeira, Ernesto Nieto-Carrillo e João Eira.
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