Para ser neutro em carbono antes de 2050, Portugal tem de acelerar 20% a descarbonização e investir 7% do PIB ao ano
“A descarbonização vai exigir de Portugal um investimento anual de 7% do PIB. A alteração dos fluxos de capital poderá criar oportunidades de até 10-15% do PIB português”, considera a McKinsey.
O primeiro-ministro António Costa e o ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, não se cansam de repetir que Portugal foi o primeiro país do mundo a anunciar a meta de se tornar neutro em carbono em 2050. Agora, há um novo estudo que vai mais longe e diz mesmo que o objetivo “net zero” pode ser atingido ainda antes de 2050, dado o potencial de descarbonização a baixo custo que Portugal apresenta, relativamente aos restantes países europeus, podendo assim contribuir para o caminho de descarbonização mais eficiente da União Europeia.
De acordo com Hugo Espírito Santo, partner na McKinsey, “a descarbonização vai exigir de Portugal um investimento inicial que poderá ter um peso de cerca de 7% do PIB ao ano, maioritariamente redirecionado de tecnologias com elevada pegada carbónica. Por outro lado, a alteração dos fluxos de capital no mundo poderá criar oportunidades de crescimento até 10-15% do PIB português”.
A conclusão é do relatório “Net-Zero Portugal – Caminhos de Portugal para a descarbonização”, elaborado pela McKinsey & Company com a colaboração do BCSD Portugal, e apresentado esta terça-feira. Além disso, o estudo prevê ainda que o país tem de acelerar em 20% as tendências recentes de descarbonização conseguidas entre 2005 e 2019, isto se quer acompanhar o objetivo de redução da União Europeia de 55% até 2030, em comparação com os níveis de 1990.
Se o fizer, Portugal tem condições para descarbonizar cerca de 50% até 2030 (face a 1990) “dada a posição mais favorável do setor eletroprodutor, a maior penetração de veículos elétricos, assim como um maior potencial da floresta para sequestro de emissões”. Mas para isso o país terá de somar mais capacidade elétrica renovável, estimular a adoção de veículos elétricos e desenvolver novas cadeias de valor, como o hidrogénio verde, combustíveis de baixo carbono e CCUS (captura, utilização e/ou armazenamento de carbono). “É também necessária uma abordagem estratégica à floresta e ao uso do solo, bem como uma ação decisiva dos setores privado e público e da sociedade civil”, refere a McKinsey em comunicado.
Já para João Meneses, secretário-Geral do BCSD Portugal, “Portugal partiu para o desafio da descarbonização com a vantagem de já ter uma elevada presença de fontes renováveis no seu mix energético”.
No entanto, ressalva, “para sermos um país neutro em carbono, até 2050, teremos de acelerar o ritmo. Será necessária 5-6 vezes mais capacidade eólica e solar para eletrificar a economia, adotar novas tecnologias em larga escala, melhorar a gestão das florestas, dos solos e dos resíduos, rever as políticas e os incentivos públicos, e a adoção de novos comportamentos por parte dos portugueses. A neutralidade carbónica está ao nosso alcance, mas será um processo exigente. A boa notícia é que parece haver um consenso público nesse sentido, bem como soluções e financiamento disponíveis”, disse, citado no mesmo comunicado
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