Banca tem 2,6 mil milhões de euros de moratórias em alto risco
Malparado caiu 2,8 mil milhões de euros em 2020. Banca arrisca anular esforço do ano passado tendo em conta impacto da pandemia nas moratórias: 2,6 mil milhões estão em situação irregular.
A banca arrisca anular o esforço de redução do malparado feito ano passado. O crédito em incumprimento baixou 2,8 mil milhões de euros em 2020, mas agora o setor tem outro problema em mãos da mesma dimensão: quase 2,6 mil milhões de euros dos empréstimos em moratória encontram-se já em situação irregular por causa da pandemia.
Nos cinco principais bancos do sistema, o montante de moratória em “stage 3” – considerado já em situação de incumprimento — corresponde a quase 8% do total do crédito protegido pelas moratórias o que dá uma ideia do desafio que o setor vai ter pela frente após o fim da medida em setembro.
Com quase 6,9 mil milhões de empréstimos e adiantamentos objeto de moratórias no final de 2020, o Novo Banco era a instituição mais exposta a este problema, tendo mais de 10% daquele montante dado como não produtivo, num total de 740 milhões de euros. Este crédito não produtivo estava sobretudo concentrado nas pequenas e médias empresas (465 milhões de euros), enquanto os particulares eram responsáveis por 107 milhões de moratórias problemáticas.
Seguem-se BCP e Caixa Geral de Depósitos (CGD), onde crédito em moratória no chamado de “stage 3” ascendiam a 697,6 milhões de euros (8,7% do crédito em moratória) e 532,6 milhões de euros (8,9%), respetivamente, de acordo com os resultados do primeiro trimestre deste ano.
Segundo dados disponibilizados ao ECO pelo Santander, as moratórias em risco extremo ascendiam a 498 milhões no banco liderado por Pedro Castro e Almeida, quase 8% do total do crédito em moratória.
Já o BPI era o banco entre os maiores com um menor nível de exposições problemáticas: apenas 2% dos empréstimos em moratória se encontrava na fase de maior risco de crédito, num total de cerca de 112 milhões de euros.
Hipotecas e imparidades cobrem perdas
Os banqueiros têm minimizado este problema, na mesma linha do que tem argumentado o Governo – o ministro João Leão recusou “dramatismos” nesta questão — e o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno.
Por um lado, se há o risco de grande parte deste crédito se transformar em malparado com o fim das moratórias, os bancos frisam que têm realizado seu trabalho de casa, nomeadamente através de um reforço significativo das provisões e imparidades para enfrentar a crise pandémica no valor de dois mil milhões de euros no ano passado, segundo contas de Mário Centeno.
Por outro lado, por detrás destes empréstimos potencialmente problemáticos há garantias que, de alguma forma, minimizam o risco para os bancos.
No banco público, com quase seis mil milhões de euros de crédito sob moratória, 40% apresentava hipoteca de propriedade residencial e 16% tinha hipoteca de propriedade comercial. E dois terços estavam já cobertas com imparidades, segundo anunciou o presidente Paulo Macedo.
No BCP, 67% do crédito com moratórias ativas também beneficiam de hipotecas: 46% por hipotecas residenciais e 21% por hipotecas comerciais.
Já o Novo Banco indicava que 86% dos créditos hipotecários em moratória não produtivos estavam caucionados por imóveis de habitação. Para as empresas, as cauções de imóveis cobriam 54% da exposição não produtiva.
Há ainda outro fator que os bancos consideram que vai ter importância fulcral para uma transição tranquila: os apoios do Governo. O Executivo está a preparar um conjunto de medidas para apoiar as empresas e os bancos, tendo o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, já anunciado medidas de capitalização através do Banco de Fomento e garantias públicas para os créditos das empresas dos setores mais afetados pela pandemia – hotelaria, restauração e comércio – que foram alvo de reestruturação.
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