Mais de 2.500 trabalhadores da banca na porta de saída
BCP avançou com plano de saídas que poderão atingir mil trabalhadores. Montepio, Totta e Novo Banco também também estão a cortar no pessoal. Tendência não é exclusiva da banca nacional.
O BCP foi o último banco a anunciar um plano de emagrecimento dos quadros, com os sindicatos a apontarem para as 1.000 saídas. De acordo com os analistas do BPI/CaixaBank, o banco liderado por Miguel Maya deverá registar este ano um encargo de 100 milhões de euros por conta da reestruturação. Antes, já o Banco Montepio e o Santander Totta também haviam avançado com programas de redução de pessoal através de rescisões por mútuo acordo e pré-reformas. O Novo Banco também prevê cortar 750 postos de trabalho.
Mais de 2.500 trabalhadores estão na porta de saída dos maiores bancos portugueses nos próximos tempos, um número visto por baixo pelos sindicatos.
Este novo ajustamento acontece depois de o setor ter perdido 16 mil postos de trabalho na década passada, de acordo com dados da Associação Portuguesa de Bancos (APB). Só no ano passado, em plena pandemia, os bancos em Portugal cortaram mais de 1.100 empregos e eliminaram mais de duas centenas de balcões.
Embora a crise pandémica tenha acelerado a transformação da banca, a verdade é que a tendência de redução de trabalhadores vem desde a crise financeira de 2008.
Há várias razões dadas pelos bancos para justificarem a necessidade de reduzir as suas estruturas de pessoal: há, desde logo, uma mudança no hábito do cliente, que hoje em dia procura mais os canais digitais, dispensando a ida à agência; por outro lado, a pressão tecnológica e das fintech, aliada ao ambiente de juros baixos do Banco Central Europeu (que se vão manter por mais tempo do que o previsto por causa da pandemia), forçam os bancos a cortar nos custos.
Na mensagem que enviou esta quarta-feira aos trabalhadores, o CEO do BCP, Miguel Maya, juntou-lhe mais uma mão cheia de razões, a começar pelos limites ao comissionamento impostos pelo Parlamento até aos custos que o banco tem de suportar com o Fundo de Resolução e o Novo Banco.
Montepio reabriu janela de saídas
O Banco Montepio foi o primeiro a avançar com um plano de saídas. Como avançou o ECO em primeira mão, em setembro, o banco tem em vista um ajustamento que poderá levar a uma redução de 900 trabalhadores, o equivalente a 20% dos seus quadros. Foi solicitado ao Governo o estatuto de empresa em reestruturação, que viria a ser concedido no início deste ano.
Para tal, o banco abriu o plano para rescisões por mútuo acordo ou reformas em outubro do ano passado e durante o mês seguinte os trabalhadores estavam convidados a aderirem no processo. Aderiram já 235 funcionários: 124 reformas e 111 rescisões por mútuo acordo.
O banco reabriu a janela das rescisões por mútuo acordo na semana passada. “Esta fase de ajustamento no quadro de pessoal integra condições especiais para os colaboradores que aceitem celebrar um acordo de rescisão com o banco. Reiteramos, novamente, o caráter voluntário destas medidas e o sentido de respeito pelas pessoas”, explica a instituição ao ECO.
Janela fecha este mês no Santander
Mais recentemente, foi o Santander Totta a avançar com estes planos: um plano de adesão voluntária dirigido a todos os trabalhadores que tenham 55 ou mais anos de idade — para o qual estavam identificados 950 colaboradores potenciais; e ainda um plano de adesão voluntária para o redimensionamento da rede de balcões, no âmbito do qual foram tinham sido concretizados sete dezenas acordos de saída. O prazo de adesão voluntária termina neste mês de junho.
Já no início do mês passado, depois de ter revelado que ia rescindir de forma unilateral com 100 a 150 trabalhadores, o banco voltou atrás temporariamente com a medida após pressão dos sindicatos.
250 saídas por ano no Novo Banco
Em relação ao Novo Banco, o plano estratégico para 2021-2023 aponta para saídas de 250 trabalhadores por ano, num ajustamento que poderá atingir os 750 trabalhadores.
O banco liderado por António Ramalho termina o período de reestruturação no final deste ano. Mas a redução de pessoal continuará em cima da mesa, com a instituição à procura de otimizar a sua estrutura de custos, num período em que prevê voltar aos lucros, depois de anos a apresentar prejuízos avultados e com necessidade de pedir apoios ao Fundo de Resolução.
Mais de 80 mil lá fora
A tendência de cortes também se verifica lá fora. No início do ano, a DBRS compilou os dados e concluiu que mais de 80 mil empregos deverão ser eliminados nos principais bancos europeus nos próximos tempos.
Só o britânico HSBC tinha previsto cortar 35 mil postos, o equivalente a 35% da sua força de trabalho, enquanto o alemão Deutsche Bank tinha planos para reduzir 20% dos seus quadros, isto é, reduzir o número de trabalhadores em 18 mil.
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