“O CV tradicional já não é adequado”. O que a blockchain pode fazer pelos currículos?
A integração desta tecnologia no recrutamento pode ser vantajosa para recrutadores e candidatos, tornando todo o processo mais justo, confiável e focado no que realmente interessa: as pessoas.
O mercado de trabalho mudou drasticamente nos últimos anos, e essa transformação foi especialmente acelerada com o início da pandemia. A mudança afetou os habituais escritórios, as formas de trabalhar, as competências dos profissionais e, claro, os próprios processos dentro dos recursos humanos, a começar desde logo pelo recrutamento.
“O CV tradicional já não é adequado”, começa por dizer Paulo Rupino, professor na Universidade de Coimbra, durante a conferência online “HR Digital Transformation”, organizada pela ISCTE Business School, em parceria com a Associação Portuguesa de Gestão das Pessoas (APG).
Paulo Rupino sugere que se comece a pensar em aposentar o CV mais tradicional – utilizado até aqui – que deixa de fazer sentido num mundo em constante mudança. “É preciso perceber, em primeiro lugar, que as carreiras mudaram. Mudar de trabalho frequentemente é, agora, a norma, em vez de um trabalho para a vida”, afirma.
A educação universitária, por sua vez, também já não prepara os alunos para a vida. É o conceito de lifelong learning que ganha cada vez maior significado, adaptando-se às novas competências que o mercado procura.
O docente universitário destaca, também, a globalização da força de trabalho como outro dos fatores que faz com que seja necessário repensar o currículos dos profissionais. “Hoje em dia é fácil decidir viver e trabalhar em qualquer país da União Europeia sem muita burocracia envolvida. Mas as empresas estão realmente a recrutar globalmente. Isto levanta o problema de verificação e comparação de experiências internacionais. Como é que se compara o mesmo curso, mas de duas universidades diferentes, em países diferentes? Ou como é que se compara a experiência numa empresa, mas em diferentes países?”, questiona. “À escala global, as coisas complicam-se muito.”
Estas razões levam Paulo Rupino a considerar que o currículo tradicional está a tornar-se, realmente, desadequado para descrever o percurso profissional dos candidatos e ajudar os recrutadores na análise de talento. A informação que contém “pode não ser facilmente validada”, alerta, acrescentando que a tecnologia blockchain pode ajudar na análise, veracidade e comparação de CV.
Blockchain pode tornar currículos mais confiáveis
A blockchain fornece uma rede criptografada de blocos, onde as pessoas, as empresas e instituições de ensino podem partilhar informações de forma segura. Desta forma, os recrutadores podem verificar dados dos funcionários, incluindo performance académica e conquistas de carreira. Por exemplo, em vez de entrar em contacto com as instituições de ensino nas quais cada um dos candidatos estudou, os recrutadores podem conseguir a informação que desejam validar através rede blockchain.
Otimização do tempo, automatização de tarefas e CV scanning são as principais vantagens que Alexandra Constantinide, do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa desta da utilização do blockchain nos recursos humanos. Agilizar processos pode mesmo permitir que os líderes se centrem nas pessoas, prestando-lhes mais atenção, considera a docente. “Os managers estão à espera desta tecnologia”, afirma a autora da tese de dissertação “Are managers ready for HRM 4.0? The potential role of blockchain technology in HRM”.
Já a maior desvantagem que Alexandra Constantinide encontrou na utilização da blockchain nos RH foi o facto de ser uma tecnologia pouco user-friendly.
Para Paulo Rupino, a integração desta tecnologia no recrutamento é, também para os próprios candidatos, uma grande vantagem, uma vez que torna todo o processo de recrutamento mais justo, confiável e focado realmente no talento.
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