Startup Nation no papel

Se queremos ser "o" hub europeu para empreendedores temos de pensar e agir rápido. Como numa startup, a ideia serve de pouco se estiver apenas no papel, ao passo que o go-to-market é decisivo.

O Governo de Espanha anunciou esta semana que vai reduzir o imposto empresarial sobre as startups, de 25% para 15%. A medida, apresentada pela ministra para os Assuntos Económicos e Transformação Digital, Nadia Calviño, foi a que se destacou nos títulos dos jornais e nas redes sociais, e integra um conjunto de iniciativas que têm como objetivo converter Espanha num hub europeu para o empreendedorismo.

O projeto-lei, apresentado na passada terça-feira em Conselho de Ministros, prevê a redução do imposto empresarial de novas empresas de base tecnológica por um período máximo de quatro anos. A medida é uma das novidades incluídas no PRR, Plano de Recuperação, Transformação e Resiliência, que inclui ainda a criação de um novo visto destinado a nómadas digitais que queiram escolher o país para trabalhar de forma fácil e sistemática, o aumento da base máxima de dedução por investimento em novas empresas de 60 mil para 100 mil euros anuais e ainda medidas favoráveis a um modelo de stock options nestas empresas. É, basicamente, um esboço daquela a que Espanha chama a “Lei das Startups”.

Aquilo a que alguns jornais apelidam de medidas tardias mas alinhadas numa competição com países como Portugal ou Itália, o ecossistema empreendedor português acolheu com entusiasmo. Há vários anos que Portugal trabalha para se posicionar como um hub de referência europeu para a área do empreendedorismo e ver, aqui ao lado, medidas efetivas nesse caminho chama a atenção.

Recentemente, Simon Schaefer, presidente da Startup Portugal — uma bandeira dos tempos de João Vasconcelos no Governo — apresentava, a nível europeu, um protocolo de cooperação entre países europeus que têm como prioridade construir um ecossistema de startups mais competitivo a nível global. A iniciativa, o Startup Nations Standard, agrega uma lista de oito pontos essenciais nas respetivas políticas públicas, materializa a convicção de que as startups e as scaleups europeias podem ser chave na recuperação económica, com impacto tanto na economia como na sociedade dos países da União Europeia.

Preparado pelo presidente da Startup Portugal, Simon Schaefer, ao longo dos últimos dois anos e em conjunto com a Comissão Europeia, o protocolo é “um passo muito importante a nível de política pública para startups e empresas tecnológicas. Os Estados-membros signatários e a Comissão Europeia reconhecem a falta de sucesso da Europa e estão dispostos a criar parâmetros legais para melhorar a situação. Muitas coisas que sabemos que resultam, como algumas das iniciativas implementadas em Portugal ao longo dos últimos anos, vão finalmente começar a ser adotadas por toda a Europa”, assinalava o responsável.

De acordo com dados da McKinsey, cerca de 36% das startups a nível mundial estão sediadas na Europa, mas o continente serve de base para apenas 14% dos unicórnios a nível mundial (empresas avaliadas em pelo menos mil milhões de dólares). Isso quer dizer pelo menos duas coisas: a primeira, é que o talento não escolhe criar as suas empresas por cá. A segunda, que as condições são mais adversas ao desenvolvimento rápido e competitivo desses negócios, comparando a Europa com outros lugares do mundo.

Não basta poder começar uma empresa numa hora se a maioria dos passos seguintes são em esforço — basta conhecer alguém que tenha criado uma startup para saber que os primeiros anos são de trabalho intenso e procura incessante por um break even que tarda em chegar. A e-Residency, um projeto que está no papel pelo menos desde o Orçamento do Estado para 2019, e que se espera será lançado até ao final deste ano, poderia servir de chamariz a muitos nómadas digitais e empreendedores que queiram trabalhar a partir de Portugal e, por cá, estabelecer os seus negócios. Mas não basta atrair talento de fora se, depois, por cá, a burocracia os faz recuar, mesmo com tantos dias de sol e o mar tão perto (e, muitas vezes, logo no aeroporto). Não basta criar condições de regresso de talento nacional que, há anos, fugiu por falta de condições se os salários in loco e a cultura das organizações não lhes acompanha o passo e a ambição. Não vale a pena pensarmos que a pandemia não nos marcou profundamente, enquanto sociedade de trabalho, de conhecimento e de circulação.

Se queremos ser “o” hub europeu para empreendedores e nómadas digitais temos de pensar e, sobretudo, de agir rápido. Como numa startup, a ideia serve de pouco se estiver apenas no papel, ao passo que o go-to-market é decisivo: para sermos os mais velozes a entrar no mercado e, claro, os mais rápidos a corrigir e adaptar a estratégia. E não vale chover no molhado: urgem medidas efetivas — entenda-se, implementadas e a funcionar — a pensar nos empreendedores deste país, que respirem as suas ambições, as suas dores de crescimento e as suas necessidades. Isto se queremos ser mais do que o país onde, uma vez por ano, a comunidade se junta para o Web Summit.

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