Banca tranquila com malparado. Não será travão ao crédito

"Expectativa de continuação de apoio aos setores mais afetados" com o fim das moratórias leva banca a afastar aumento das restrições no crédito. Malparado não será, desta vez, travão ao financiamento.

Nos últimos anos, a banca tem envidado esforços para reduzir o elevado peso do malparado. O setor reduziu de forma expressiva o total de créditos em incumprimento no balanço, chegando a um nível que o coloca em linha com o dos pares europeus. Com a pandemia vieram as moratórias, sendo que com o fim destas teme-se um aumento deste “fardo”. Há dinheiro posto de lado para as enfrentar, pelo que desta vez, ao contrário do que aconteceu no passado, o aumento do malparado não será motivo de stress para os bancos portugueses que afastam qualquer impacto deste contexto na concessão de crédito para o futuro.

Historicamente, tem havido uma relação causa/efeito entre o malparado e a disponibilidade de financiamento a empresas e famílias, mas esse impacto “tem-se alterado ao longo do tempo”, de acordo com o Banco de Portugal. Se no período de 2014 a 2017, o rácio de NPL (non performing loans) contribuiu para aumentar a restritividade no crédito às empresas e, em menor grau, aos particulares”, em 2018, “o aumento da restritividade decorrente deste rácio foi mais ligeiro e, em 2019, foi praticamente inexistente”.

“Para esta evolução terá contribuído a trajetória de redução do rácio de NPL iniciada em 2016″, recorda o supervisor numa caixa do inquérito aos bancos sobre o mercado de crédito. Com efeito, desde essa altura que o rácio de malparado da banca tem vindo a encolher de forma expressiva, tendência que se manteve mesmo com a pandemia, embora em 2020 este fator “tenha contribuído ligeiramente para tornar os critérios mais restritivos”.

Os bancos continuam a baixar o nível de empréstimos em incumprimento nos seus balanços em 2020, mas também no arranque deste ano. O rácio de NPL atingiu os 4,6% no final de março, menos 0,3 pontos percentuais em relação a dezembro. Em euros, o “fardo” está, atualmente, em qualquer coisa como 14 mil milhões de euros, valor com o qual os bancos se mostraram confortáveis, acabando por ter “um impacto nulo no crédito a particulares e apenas ligeiro nas empresas”.

"Progressos realizados pelo sistema bancário desde a última crise, no sentido de o tornar mais robusto e resistente a choques, estarão a contribuir para um menor impacto dos NPL na concessão de crédito.”

Banco de Portugal

Com as moratórias criadas em resposta à pandemia a chegarem ao fim, vários têm sido os alertas para o aumento dos créditos em incumprimento. Isto porque o peso deste instrumento criado para aliviar famílias e empresas — que puderam deixar de pagar os respetivos empréstimos –, no total dos créditos concedidos, foi um dos mais elevados da Europa. Chegou a superar 20% do total.

Mesmo com o prazo destas moratórias a terminar em setembro, os bancos mostram-se tranquilos. Segundo o Banco de Portugal, as maiores instituições financeiras nacionais “preveem que o rácio de NPL praticamente não tenha impacto nos critérios de concessão de crédito” que, de acordo com o inquérito, têm-se tornado apenas ligeiramente mais restritivos que antes da pandemia.

“Para esta evolução podem ter contribuído as medidas de apoio às empresas e às famílias já implementadas, assim como expectativas de continuação de apoio aos setores mais afetados“, aponta o Banco de Portugal. Recorde-se que o Governo anunciou, recentemente, que vai conceder garantias públicas às empresas dos setores mais castigados pela pandemia, podendo estas chegar a 25% do montante em dívida junto dos bancos.

“Também os progressos realizados pelo sistema bancário desde a última crise, no sentido de o tornar mais robusto e resistente a choques, estarão a contribuir para um menor impacto dos NPL na concessão de crédito“, remata o supervisor da banca, salientando tanto o trabalho feito para reduzir o malparado para o nível gerível como o facto de os bancos terem vindo a registar provisões que permitirão acautelar incumprimentos futuros.

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