A diferença existe e é natural
Geralmente, o “diferente” causa desconforto e expõe as nossas vulnerabilidades, o que, infelizmente, ainda se confunde com fraqueza.
A diferença existe, é real e visível a olho nu, mas na verdade a sua aceitação e integração não é natural. Porque é que a diferença é desconfortável e estranha, quando o que devia ser estranho é a ausência dela?
De forma generalizada, são largamente compreendidos os benefícios de um ambiente diverso e inclusivo numa organização. Sabemos que organizações diversas e inclusivas têm inúmeras vantagens competitivas, como maior capacidade de inovação, melhor performance, colaboração mais efetiva, pessoas mais motivadas, melhor acesso aos mercados e até uma maior rentabilidade, o que, em conjunto, se traduz em empresas mais atrativas para o talento. Por isso, não admira que as empresas estejam realmente interessadas em garantir que têm uma cultura de diversidade e inclusão.
Evoluir para uma organização diversa significa que, na sua constituição e estrutura, existem indivíduos com diferentes personalidades, experiências, perspetivas e backgrounds pessoais. No entanto, essa organização só será capaz de aproveitar o máximo de potencial da diversidade quando se tornar uma organização inclusiva. Ou seja, quando for capaz de fazer com que todos se sintam igualmente bem-vindos, envolvidos, apoiados e valorizados. Verna Myers explica que “diversidade é ser convidado para uma festa”, enquanto “inclusão é ser convidado para dançar”. Todos queremos ser chamados para dançar e isso implica que o ambiente onde estamos inseridos seja pautado por um sentimento de pertença que nos garanta a segurança emocional de que seremos aceites e valorizados quando trouxermos para o negócio ou equipa o nosso “eu” completo e único.
Contudo, existem preconceitos, muitos deles até inconscientes, que promovem a preferência pelo semelhante. Parece mais fácil liderar indivíduos mais próximos da “norma” social ou parecidos connosco, e mais desafiador lidar com diferentes perspetivas. Geralmente, o “diferente” causa desconforto e expõe as nossas vulnerabilidades e, infelizmente, ainda se confunde muitas vezes vulnerabilidade com fraqueza, sobretudo em ambientes empresariais. É assim que acabamos por entrar num ciclo: as pessoas afastam-se de tudo o que pode provocar vulnerabilidade e acabam assim por afastar a diferença, criando um ambiente de não aceitação e pertença. Consequentemente, as organizações ficam mais pobres, a todos os níveis.
Nesta jornada de transformação de mentalidades, os líderes têm um papel fundamental e precisam de ter a coragem para se conhecerem e lidarem de forma positiva com as suas vulnerabilidades e com as das suas equipas. Esta transformação é um trabalho contínuo e estaremos num bom caminho quando a ausência de diferença nos for estranha e nos criar desconforto. Quando, por exemplo, ao assistirmos a uma série de televisão estranharmos não haver personagens representativas dos diferentes grupos, ou quando nos for difícil explicar às gerações mais novas porque é que o nosso governo é maioritariamente composto por homens ou porque é que na nossa empresa não trabalham pessoas com incapacidades físicas ou psicológicas.
Quando lhes podermos dizer com toda a segurança e eles puderem realmente sentir, experienciar e observar que a sociedade e as organizações são de todos e para todos. Nessa altura, teremos mudado os nossos padrões de pensamento e estaremos numa sociedade muito mais elevada. A partir desse momento, os valores da diversidade e inclusão passarão a estar impressos no nosso ADN e de, forma natural, serão visíveis nos nossos comportamentos e atitudes.
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