Mais emprego, menos ausências e menos teletrabalho. Efeitos da pandemia começam a desaparecer

A população empregada regressou, pela primeira vez, aos níveis pré pandemia, ao mesmo tempo que encolheu o universo de teletrabalhadores e caíram as ausências ao trabalho.

Quase ano e meio após ter sido identificado o primeiro caso de Covid-19 em Portugal, começam agora a desvanecer-se os efeitos da crise pandémica (e das restrições que a ela ficaram associadas) no mercado laboral. Entre abril e junho, a população empregada não só superou o nível registado no período homólogo de 2019, como atingiu o valor mais alto dos últimos dez anos. As ausências ao trabalho sofreram o maior decréscimo desde 2011 e também o universo de pessoas em teletrabalho encolheu, ainda que a adoção dessa modalidade se tenha mantido obrigatória durante grande parte do período em causa.

Os números “são impressionantes“, defendeu o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, poucas horas depois de o Instituto Nacional de Estatística (INE) ter divulgado a nota em que dá conta de que o emprego ultrapassou, pela primeira vez, os níveis pré pandémicos.

Entre abril e junho, a população empregada foi estimada em 4.810,5 mil pessoas, número que não só é superior ao registado no trimestre anterior (em 2,8%), no mesmo período de 2020 (em 4,5%) e no trimestre homólogo de 2019 (em 0,8%) como é mesmo o mais elevado de toda a série estatística do INE. Ou seja, desde pelo menos 2011 que não havia tantos indivíduos empregados em Portugal.

População empregada atingiu valor mais elevado da última década

Fonte: INE

E foi num dos setores mais afetados pela pandemia, os serviços, que se verificou o maior acréscimo (2,9% em cadeia e 5,4% em termos homólogos) de população empregada, com destaque para as atividades ligadas ao alojamento, restauração e similares, que contabilizaram um salto de 11,3% face aos primeiros três meses de 2021.

Além dos dados da população empregada, também os números de ausências ao trabalho mostram que o mercado laboral está a recuperar. No segundo trimestre, 397,1 mil pessoas estiveram ausentes do trabalho, menos 237,9 mil pessoas (37,5%) do que no trimestre anterior. Este é, de resto, o “maior decréscimo trimestral num segundo trimestre desde 2011”, frisa o INE. Em comparação com o mesmo período de 2020, verificou-se um recuo de 63,1% (ou seja, menos 680,3 mil pessoas), o que “corresponde ao maior decréscimo homólogo desde 2011”.

É importante notar, contudo, que ambos os períodos comparativos (o primeiro trimestre de 2021 e o segundo trimestre de 2020) ficaram marcados por confinamentos e, consequentemente, por uma adesão considerável a regimes de lay-off, que permitem aos empregadores em dificuldades reduzirem os horários de trabalho ou até mesmo suspenderem os contratos com os seus trabalhadores. Ora, uma vez que o segundo trimestre de 2021 trouxe, em contraste, um processo de desconfinamento, essa evolução das ausências ao trabalho é explicada, numa parte significativa, pela saída dos empregadores desses regimes extraordinários ao regressarem à sua atividade.

Aliás, face ao início do ano, menos 146,8 mil trabalhadores indicaram como motivo para a sua ausência a “redução ou falta de trabalho por motivos técnicos ou económicos da empresa”, onde se inclui o lay-off. Em causa está uma redução de 73,2%. Se compararmos com o período homólogo de 2020, o efeito do desconfinamento é ainda mais evidente, uma vez que, no segundo trimestre de 2021, houve uma redução de 92,1% (menos 625,8 mil pessoas) face a essa altura.

Ainda assim, face ao segundo trimestre de 2019, este motivo de ausência foi agora mencionado por mais 49 mil pessoas (um salto de mais de 1.000%), o que significa que, neste ponto, o mercado laboral português ainda não está recuperado. O principal motivo das ausências ao trabalho, no segundo trimestre de 2021, foi, contas feitas, a “doença, acidente ou incapacidade temporária”, seguindo-se as “férias ou feriados”.

Outro ponto importante a considerar na análise ao mercado de trabalho é a adesão ao teletrabalho, que diminuiu, entre abril e junho. Até meados desse último mês, a adoção da modalidade remota manteve-se obrigatória em todo o país — apesar de o estado de emergência ter terminado — e mesmo depois dessa data essa obrigação manteve-se nos concelhos mais afetados pela crise pandémica (como o de Lisboa), mas, segundo o INE, a fatia de teletrabalhadores no universo total de empregados emagreceu 5,8 pontos percentuais, face ao trimestre anterior, para 14,9%. Em termos homólogos, o recuo foi de 7,6 pontos percentuais.

Por outro lado, o período compreendido entre abril e junho foi sinónimo de um recuo em cadeia de 0,4 pontos percentuais da taxa de desemprego, que se fixou em 6,7%, valor inferior ao registado no último trimestre completo antes da pandemia (o quatro trimestre de 2019). Em termos homólogos, verificou-se, ainda assim, uma subida de um ponto percentual. Foi no Algarve que se registou a taxa mais elevada (10,2%), mantendo-se estável face ao trimestre anterior e ficando 2,7 pontos percentuais acima do período homólogo.

Taxa de desemprego está a cair há três trimestres consecutivos

Fonte: INE

Já quanto à subutilização do trabalho, há a destacar o recuo expressivo do número de inativos disponíveis para trabalhar, mas que não procuram emprego. No segundo trimestre, 148,4 mil pessoas estiveram nessa situação, menos 63,8 mil do que no início do ano (uma quebra de 30%) e menos 163,3 mil do que no período homólogo de 2020 (um recuo de 52,4%). Esta foi a componente que mais recuou na taxa de subtilização do trabalho — que se fixou em 12,3% –, que inclui ainda os desempregados, o subemprego a tempo parcial e os inativos que procuram trabalho mas não estão disponíveis para trabalhar.

Neste caso, convém explicar que, durante os períodos de desconfinamento (como aconteceu no segundo trimestre de 2021), a procura de trabalho tende a ser mais fácil do que nos períodos de confinamento — como o primeiro trimestre de 2021 e o segundo trimestre de 2020, períodos que servem agora de base de comparação para os dados de abril a junho — à boleia do levantamento das restrições à mobilidade, o que faz diminuir esse universo de inativos que não procuram um novo emprego.

Todos estes dados mostram, fez questão de sublinhar o Ministério do Trabalho, a “capacidade coletiva de resposta à crise”, tendo tido os apoios extraordinários um papel “fundamental” na preservação do emprego, defendeu Ana Mendes Godinho. Essas medidas desenhadas para segurar os postos do trabalho — nomeadamente o lay-off simplificado, o apoio à retoma progressiva, o incentivo à normalização da atividade empresarial e o apoio simplificado para microempresas — já custaram aos cofres públicos três mil milhões de euros, incluindo isenções e reduções contributivas.

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