Variantes fazem tremer economia mas crescimento mantém-se, com ajuda das vacinas
Economistas admitem abrandamento na economia devido ao impacto das variantes da Covid-19, mas recuperação económica parece certa.
Os avanços na vacinação trouxeram mais esperança para a evolução da pandemia e recuperação das economias, após o choque provocado pela Covid-19. Previsões apontavam para crescimento global, mas novas variantes do vírus, nomeadamente a Delta, reacenderam as preocupações com o impacto da pandemia na economia. Economistas ouvidos pelo ECO admitem que as variantes elevam a incerteza, mas o crescimento vai manter-se, até com “ritmos ainda elevados”.
Atualmente, a variante Delta da Covid-19, que foi detetada pela primeira vez na Índia, é a que está a motivar maiores receios, levando mesmo alguns países a equacionar recuos nas medidas para travar a propagação do vírus. Indicadores económicos revelados nos últimos tempos apontam para uma quebra na confiança dos investidores e um abrandamento da atividade.
Os indicadores compósitos da OCDE, por exemplo, divulgados esta semana, apontam para um ritmo de crescimento moderado na OCDE como um todo e na maioria das grandes economias. A organização alerta ainda assim que os indicadores, que antecipam pontos de viragem na atividade económica relativamente à tendência, podem ter flutuações maiores devido à incerteza.
Já pela Alemanha, a confiança no investimento piorou acentuadamente em agosto, naquela que foi a terceira queda consecutiva desde maio, motivada por preocupações com uma quarta vaga de contágio.
Ainda assim, para João Lampreia, chief investment officer do BiG – Banco de Investimento Global, “ainda parece cedo para extrapolar que esta evolução indicie já uma estabilização ou mesmo reversão do ritmo de crescimento económico na Zona Euro”.
“À medida que continuamos a assistir a uma estabilização do preço das commodities e de outros materiais utilizados na indústria, consideramos que as disrupções nas cadeias de valor tenderão a dissipar-se – aliás consideramos que o ‘ponto máximo’ dos problemas das cadeias de valor já se encontra ultrapassado”, indica o economista ao ECO.
"A trajetória de recuperação económica parece-nos claramente sustentada, apesar de eventuais percalços pontuais.”
Olhando para o indicador industrial PMI, o facto de este estar “acima de 60 continua a ser um sinal claro de expansão, ainda que estejamos em crer que a recuperação do PMI ao nível dos serviços deverá ultrapassar o seu homólogo industrial à luz da redução sustentada das restrições de movimentos com o relativo sucesso da taxa de vacinação na Europa que já ultrapassou os EUA – um cenário impensável apenas há três meses“, acrescenta.
Quanto ao crescimento do PIB homólogo e sequencial na Zona Euro no segundo trimestre, este “atingiu 13,7% e 2% respetivamente, superando as previsões do mercado e situando-se em níveis historicamente elevados, pelo que poderemos vir a assistir a alguma estabilização ou desaceleração deste ritmo de crescimento. Mas a trajetória de recuperação económica parece-nos claramente sustentada, apesar de eventuais percalços pontuais”, reitera.
Esta visão é partilhada pela analista financeira da Unidade de Estudos Económicos e Financeiros do BPI. Teresa Gil Pinheiro admite que “o surgimento de variantes mais contagiosas da Covid-19, eleva a incerteza quanto ao comportamento da atividade durante a segunda metade do ano e a possibilidade de que o crescimento em 2021 se revele menos forte do que o previsto”.
"O cenário mais provável é que os efeitos destas novas variantes na atividade sejam muito menores que nas vagas anteriores, refletindo maior adaptação dos agentes económicos e forte penetração das vacinas.”
Contudo, continua a analista, “o cenário mais provável é que os efeitos destas novas variantes na atividade sejam muito menores que nas vagas anteriores, refletindo maior adaptação dos agentes económicos e forte penetração das vacinas”. As previsões do banco são de que o crescimento na Zona Euro “revele um certo abrandamento no segundo semestre, mas que conserve ritmos ainda elevados”. “Especificamente, estimamos um crescimento de 4,7% em 2021 e de 4,9% em 2022”, nota.
O economista-chefe do Banco Montepio acrescenta também alguns indicadores do impacto das variantes. “É verdade que as novas variantes vieram trazer desafios adicionais e terão impactado no ritmo de crescimento nomeadamente no Reino Unido e em Portugal já em julho (em ambas as economias os indicadores de confianças dos empresários desceu em julho, sendo que em Portugal a confiança dos consumidores também caiu, enquanto no Reino Unido, não obstante a disseminação da variante Delta, o anúncio do dia da “Liberdade”, em que muitas das restrições associadas à pandemia foram levantadas terá suportado a confiança dos consumidores), sendo expectável que também impacte na Zona Euro em agosto (na verdade até já impactou em agosto na confiança dos consumidores)”, aponta, ao ECO.
“Também nos EUA, no Japão e na China se admite que o crescimento em agosto possa ser inferior ao de junho em resultado do aumento dos novos casos”, diz Rui Bernardes Serra.
No entanto, apesar dos efeitos da variante Delta, que levou o banco a rever em baixa as perspetivas para o terceiro trimestre, em termos de previsão para o crescimento, sobretudo para a Europa até foi revisto “recentemente e de uma forma ligeira em alta as previsões para o conjunto do ano uma vez que o segundo trimestre ficou, de um modo geral, acima do esperado e com uma dimensão superior ao corte que efetuámos para o terceiro trimestre”, indica.
Já o economista-chefe do Millennium BCP admite que ia rever em altas as previsões económicas para este ano. Caso não tivesse surgido a variante Delta que obrigou a uma reabertura mais lenta, José Maria Brandão de Brito admite que o crescimento poderia ter chegado aos 7% este ano. Por precaução optou por não mexer nas previsões, ainda que o segundo trimestre do ano se tenha revelado muito mais positivo do que todos antecipavam.
O mote é esperar para ver porque o verão é determinante para a evolução da economia tendo em conta o peso do turismo e o facto de ser um fator “irrepetível”. “Enquanto a produção industrial ou a construção podem recuperar em qualquer altura do ano, o turismo no verão é irrepetível em termos de tempo”, explica.
José Maria Brandão de Brito garante que continua “otimista” e lembra que o banco foi das instituições mais otimistas em termos de previsões no segundo trimestre e mesmo assim pecou por defeito. Para o conjunto do ano, continua a apontar para um crescimento de 5,2% apesar de reconhecer que “dificilmente o verão terá algo de muito bom”, tendo em conta as restrições de turistas. “Mas os ingleses já podem vir e isso pode ajudar, assim com o Plano de Recuperação e Resiliência”, acrescenta.
Aliás, apesar de considerar que “é difícil compensar” a quebra do turismo no verão, “fatores como o PRR” não podem ser descurados. É esperar para ver.
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