Projeto de central solar no Alentejo “em contraciclo” com combate às alterações climáticas

  • Lusa
  • 15 Agosto 2021

PAN está solidário com a população de Cercal do Alentejo, nomeadamente com o movimento criado para contestar a central. Projeto vai afetar “uma região marcada pelo turismo".

A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, criticou hoje a “luz verde” dada à Central Fotovoltaica de Cercal do Alentejo, em Santiago do Cacém (Setúbal), que está “em contraciclo” com o combate às alterações climáticas.

“A autorização que foi concedida para esta central fotovoltaica está, claramente, em contraciclo com aquilo que tem que ser o desígnio de Portugal e do mundo para combater as alterações climáticas e proteger o património natural”, disse.

Em declarações à agência Lusa, após participar numa reunião pública contra a central, a convite do Movimento Juntos pelo Cercal do Alentejo, Inês Sousa Real criticou a “opacidade” e “celeridade” do projeto.

“Basta ver que a audição pública”, no âmbito do Estudo de Impacte Ambiental (EIA), “esteve aberta três dias, o que denota falta de vontade política de ouvir a população e os interesses da população”, acusou.

Segundo a porta-voz do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), esta central, que recebeu Declaração de Impacte Ambiental (DIA) favorável, mas condicionada, da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), no final de julho, vai destruir uma vasta área, quer de floresta, quer agrícola”, e afetar a biodiversidade.

Garantindo que o PAN está solidário com a população de Cercal do Alentejo, nomeadamente com o movimento criado para contestar a central, Inês Sousa Real assinalou também que o projeto vai afetar “uma região marcada pelo turismo”, como o de natureza.

“Estar a descaracterizar esta região” com “investimento que não reverte para a população, mas sim para a empresa e interesses económicos por trás de quem vai proceder ao investimento, parece-nos mais política de ‘greenwashing’” e está “em contraciclo com aquilo que é a necessária transição verde, a transição energética”, disse.

Apesar de ser hoje “um imperativo o combate às alterações climáticas” e a transição energética ser “fundamental”, este trabalho não pode ser feito “destruindo outros valores ambientais, nomeadamente vegetação, a cobertura vegetal, desaparecendo com biodiversidade, incluindo espécies sensíveis e com interesse na região”.

Inês Sousa Real defendeu que, numa altura em que foi conhecido o relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado na segunda-feira, “é de facto particularmente gravoso que o Governo não trave estas iniciativas”.

E “que a APA continue a dar ‘carta verde’, vergonhosamente, a este tipo de instalações, porque estarmos a ter a mesma tutela para a área e ser um ‘braço armado’ do Ministério do Ambiente não está a servir os interesses da proteção ambiental” e “da população”, acrescentou.

O PAN prometeu “legislar” sobre esta matéria, acautelando que exista “uma Avaliação de Impacte Ambiental para estas centrais fotovoltaicas feita com critérios adequados”, e também “fazer pressão junto do Governo para que oiça a população”.

O projeto da central, promovido pela empresa Cercal Power, S.A, do grupo Aquila Capital, tem um investimento global previsto de 164,2 milhões de euros e uma área de implantação de cerca de 816 hectares, embora a ocupação seja de 320 hectares (40% da área), onde serão instalados 553.800 painéis fotovoltaicos.

O Movimento Juntos pelo Cercal do Alentejo já admitiu poder vir a recorrer aos tribunais para procurar impedir o avanço do investimento.

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