Mercedes sem 4G, Happy Meal sem caixa. Falhas já se sentem em Portugal
A pandemia fechou o mundo. A reabertura, mais rápida do que o que se pensava, está a provocar falhas nos abastecimentos, desde chips para computadores a semicondutores para carros. E sentem-se cá.
A pandemia fez parar o mundo. De um momento para o outro, um vírus empurrou para a segurança das suas casas muitos milhares de milhões de pessoas em todos os continentes. Muitas fábricas pararam, outras reduziram a produção perante a quebra expressiva na procura, que, com o alívio das restrições tem vindo agora a disparar. O regresso ao “normal” — um novo normal — está a ser rápido, assistindo-se a falhas nas cadeias de abastecimento. A mais visível é a dos chips, mas os efeitos sentem-se em vários setores. Tanto lá fora como cá dentro.
A corrida aos computadores portáteis, no ano passado, fruto do ensino à distância, mas também do teletrabalho — que foi durante muito tempo obrigatório em muitos países, como Portugal –, deixou as unidades de produção sob elevada pressão. A procura disparou, sem que a oferta conseguisse dar a resposta que se pedia. A JP Sá Couto, empresa que produziu, há mais de uma década, os computadores “Magalhães”, chegou a castigada por essas falhas, mas é ao setor automóvel que está a ser passada a “grande fatura”.
A indústria automóvel “obrigou” as grandes fabricantes de semicondutores a procurarem quem quisesse chips ao ter deixado de fazer encomendas perante a quebra acentuada da procura por veículos novos em plena pandemia. Quando essa procura recuperou, as gigantes dos chips já não conseguiram satisfazer encomendas, e continuam sem conseguir, também pelo aumento dos contágios com a variante Delta da Covid-19. A Toyota, que durante muito tempo viveu dos “stocks”, já veio admitir que a produção vai cair por faltarem componentes.
"Estamos a aguardar resposta por parte dos fornecedores para voltar a incorporar [o módulo LTE nos modelos da Mercedes]”
A Volkswagen tem feito os mesmos alertas, sendo que, neste caso, há impacto direto no mercado nacional. A Autoeuropa viu-se forçada a parar a produção por duas vezes já este ano, registando-se uma quebra expressiva no total de unidades produzidas pelo “motor” das exportações nacionais. O regresso de férias poderá ser adiado, atrasando as entregas de carros nos stands, tanto cá como lá fora.
Se em algumas marcas faltam carros, levando a que veículos novos comprados agora possam só chegar em 2022, outras fabricantes alertam os potenciais clientes para os problemas que estão a atravessar. Em Portugal, a Mercedes-Benz está a fazer isso mesmo, apontando para “falhas de abastecimento” de componentes para os seus veículos.
“Devido a falhas de abastecimento, em determinados veículos poderão ocorrer, temporariamente, limitações na disponibilidade do módulo de comunicação (LTE). Isto afeta, em particular, os serviços Mercedes me connect, incluindo o sistema de chamada de emergência (eCall)”, lê-se no site da marca, quando se acede ao configurador dos vários modelos da fabricante alemã.
Contactada pelo ECO, a Mercedes diz que “não está a comercializar unidades sem o LTE”, que é, basicamente, o módulo de 4G que dá capacidade de comunicação de dados aos veículos. “Estamos a aguardar resposta por parte dos fornecedores para voltar a incorporar o mesmo”, acrescenta fonte oficial da marca.
Do espaço aos hambúrgueres em sacos
Os problemas nos fornecimentos de componentes afetam até a SpaceX, de Elon Musk. A empresa norte-americana está a sentir falta de oxigénio líquido, essencial para fazer descolar as suas naves rumo ao espaço, isto porque é grande a procura por oxigénio para tratar doentes hospitalizados com Covid-19.
Há problemas de fornecimento para quem quer ir ao espaço, explorar a Lua ou até Marte, mas sente-se em coisas bem mais simples, como numa simples viagem ao McDonalds. A cadeia de fast food — que no Reino Unido está a sentir falta de batidos e bebidas engarrafadas por causa da pandemia, mas também em resultado do Brexit — está a alertar os clientes para falhas também em Portugal.
Basta abrir a aplicação do restaurante e selecionar “Pedidos Mobile” para se receber de imediato o alerta para um problema de logística que está a afetar algo tão simples como uma caixa em cartão.
“Devido a uma ocorrência logística, o teu pedido Happy Meal poderá ser servido sem caixa ou em saco“, diz a mensagem do McDonalds. Contactada pelo ECO, a cadeia confirma que “durante o mês de agosto, alguns restaurantes McDonald’s não tiveram disponíveis as habituais caixas dos menus Happy Meal, devido a condicionantes externas que impactaram a sua distribuição”.
“A McDonald’s Portugal tem estado em contacto permanente com as equipas e fornecedores nacionais e internacionais, pelo que esta situação, temporária e excecional, se encontra solucionada”, acrescenta.
(Notícia atualizada com a resposta oficial da McDonalds)
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