Preço da eletricidade já passou dos 122 euros por MWh no Mibel. Conta da luz vai subir?
Com a energia elétrica a bater novos recordes de preços no Mibel em agosto, mantém-se a dúvida. A Deco diz que é certo que as faturas vão subir, mas o Governo promete descidas para 2022.
Depois de cinco dias consecutivos de recordes nos preços da eletricidade nos mercados grossista em meados de agosto — quando o valor médio diário por MWh chegou a um valor nunca antes visto de 117,29 euros — esta semana trouxe já novos máximos históricos ao Mibel.
Nesta quinta-feira, 26 de agosto, cada MWh esteve então a valer 122,76 euros, o que equivale à média de preços registada ao longo do dia, quando o máximo foi de 129,81€/MWh e o mínimo de 119,95€/MWh tanto em Portugal como em Espanha. Nesse dia a energia negociada em Espanha atingiu um total de 487 GWh e em Portugal 131 GWh, de acordo com os dados do Omie, o operador de mercado elétrico para a gestão do mercado diário e intradiário de eletricidade na Península Ibérica.
Para esta sexta-feira, 27 de agosto, revela também o Omie, os preços grossista no Mibel vão descer, mas não muito: serão 118,99 euros por MWh em Portugal e Espanha (máximo de 125,35€/MWh e mínimo de 106,75€/MWh), abaixo do novo recorde histórico registado um dia antes, mas ainda assim acima do anterior pico atingido a 13 de agosto.
Até agora, e de acordo com os dados apresentados pela REN no seu Data Hub, o preço médio da eletricidade nos mercados grossistas no mês de agosto situa-se nos 104,33 euros por MWh. Já o preço médio anual está nos 67,97 euros por MWh nos dois mercados.
A REN mostra também que nesta quarta-feira, 25 de agosto (dados mais recentes disponíveis) foram produzidos no mercado ibérico 134 GWh de energia elétrica, dos quais 47,1% a partir de fontes fósseis (com o gás natural a dominar com 46,6% do total) e 32,9% de fontes renováveis (12,1% hídrica, 9,9% eólica e 3,9% solar).
No acumulado do mês de agosto foram já produzidos 3.196 GWh de eletricidade: 28,6% a partir do gás natural, 19,8% de energia eólica, 12,3% de hídrica, 7% de biomassa e 5,5% de solar. Soma-se ainda o facto de mais mais de um quarto deste valor — 25,6% — corresponder ao saldo importador.
Um mix energético muito mais cinzento do que verde (com mais gás e menos vento) que explica a alta de preços no Mibel, tendo em conta também os preços elevados do próprio gás natural usado para gerar eletricidade (que está cinco vezes mais caro do que há um ano, de acordo com a EDP, Endesa e Iberdrola) e das licenças de emissão de CO2. Tudo combinado resulta então nos máximos históricos que se têm repetido ao longo do ano, e agora com mais intensidade ao longo deste mês de agosto.
Deco vê subida das faturas, Governo garante que preços da luz vão descer em 2022
Este cenário levou já a Entidade Reguladora dos serviços Energéticos (ERSE) a ditar a partir de 1 de julho uma atualização do preço da tarifa de energia do mercado regulado, no valor de cinco euros por cada MWh, o que equivale a um aumento médio de 3% nas tarifas reguladas, com um efeito previsto de subida nas faturas mensais entre 1 e 3 euros. Isto após uma média de 67,1 euros por MWh em maio e de 83,3 euros em junho no Mibel, que entretanto disparou para os atuais 104,38€/MWh em agosto.
No mercado livre é diferente, diz a ERSE, já que “cada comercializador segue a sua própria estratégia de aprovisionamento de eletricidade e procura oferecer as melhores condições comerciais em ambiente concorrencial”.
Quando o regulador nacional decidiu aumentar as tarifas, EDP, Galp e Endesa garantiram ao ECO/Capital Verde que não iriam mexer nas tarifas para já (só a Iberdrola admitia rever se a tendência de preços no Mibel se mantiver), mas a Deco garante que é “inevitável” um aumento dos preços da luz para todos os consumidores, sem exceção.
“Uma subida nos custos de energia a montante terá sempre algum reflexo nos consumidores, com mais ou menos relevância consoante a estratégia prosseguida pelos comercializadores quanto à sua política de preços”, defende Pedro Silva, técnico da Deco Proteste.
Do lado do Governo, ministério do Ambiente e da Ação Climática admitiu já ao ECO/Capital Verde que os preços grossistas que se têm verificado no Mercado Ibérico de Eletricidade (Mibel) causam “apreensão, atendendo ao quadro macroeconómico de recuperação pós-pandemia”. Nessa altura os preços médios diários mantinham-se ainda ligeiramente acima dos 90€/MWh.
Para o MAAC estes valores “não são surpreendentes”: verificam-se também noutros países europeus e refletem “as variáveis relevantes da formação dos custos marginais das centrais de ciclo combinado a gás natural (que registaram um aumento muito significativo da sua produção), tais como o preço das licenças de emissão de CO2 e o preço do gás natural nos mercados europeus e internacionais”.
O Governo disse também que não prevê que o aumento de preços no mercado regulado se reflita nos 5,4 milhões de clientes do mercado livre e promete mesmo para 2022 reduções significativas nos preços da luz por via de novas políticas que permitirão poupanças até 372 milhões de euros para os consumidores.
Isto através de uma revisão do regime de remuneração garantida dos centros eletroprodutores eólicos (de um mínimo de 74 euros por MWh para 66 euros megawatt hora) — que origina o polémico sobrecusto sobre a Produção em Regime Especial (renováveis), pago por todos na fatura da luz.
De acordo com o MAAC, este “efeito amortecedor” do sobrecusto da PRE só será sentido pelos consumidores de eletricidade em 2022. Isto porque se traduz ao nível das tarifas de acesso às redes (que representa cerca de 60% do preço final da eletricidade antes de impostos) e não na tarifa de Energia paga pelos consumidores finais, pelo que só será quantificável quando a ERSE definir as tarifas e preços para a energia elétrica para 2022, no final deste ano.
“Em 2022, as tarifas de acesso às redes irão beneficiar da entrada em exploração das centrais solares resultantes do leilão de 2019 e da poupança decorrente da revisão em baixa dos limiares das tarifas aplicáveis aos centros eletroprodutores eólicos“, reforçou ainda o MAAC.
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