Eletricidade solar aumentou 26% em Portugal em 2020, acima da média mundial

O bp Stats Review aponta para -9,8% de produção de energia elétrica a partir do vento em Portugal em 2020, uma quebra compensada por um aumento de 25,9% no solar e 12,5% nas restantes renováveis.

Há 76 anos, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, que não se assistia a uma queda tão dramática do consumo global de energia primária. Desta vez, a quebra registada de 4,5% num único ano não foi causada por uma situação de guerra mas sim pela pandemia global de Covid-19 que tomou de assalto o mundo em 2020.

Em sentido contrário, e apesar da queda na procura global de energia, a produção a partir de fontes renováveis — eólica, solar e hidroelétrica — registou no ano passado um forte acréscimo, com a capacidade eólica e solar a aumentar para 238 GW. “Superior a 50% do que em qualquer outro período da história”, de acordo com a 70.ª edição do estudo anual “bp Statistical Review of World Energy” (bp Stats Review), publicada esta quinta-feira.

Sobre Portugal, o relatório mostra que a geração de eletricidade a partir de fontes renováveis no país caiu 2,9% em 2020 (dos 18,6 para 18,1 TWh). Mais em pormenor, o bp Stats Review aponta para -9,8% de produção de energia elétrica a partir do vento no ano passado, uma quebra amplamente compensada por um aumento de 25,9% no solar e 12,5% nas restantes renováveis. Quanto à capacidade solar instalada no país aumentou 13,5% em 2020.

No mais recente “bp Statistical Review of World Energy”, Portugal surge como um dos principais oito países do mundo com reservas de lítio — 60 mil toneladas, 0,3% do total mundial. No ano passado, o país registou uma queda acentuada de 9,8% no seu consumo de energia primária e -18,8% nas emissões de CO2 (de 50,7 milhões de toneladas em 2019 para 41,3 milhões de toneladas em 2020), também acima dos valores registados na Europa e no mundo.

O documento explica que esta tendência de descida no consumo de energia primária em todo o mundo foi “impulsionada sobretudo pelo petróleo, responsável por cerca de três quartos do declínio líquido” do consumo no ano passado. E com menos energia consumida, menos emissões poluentes: 2020 foi também o ano em que as emissões de carbono a partir do consumo energético registaram a quebra mais rápida de sempre desde 1945: -6%.

Já as energias renováveis continuaram a sua trajetória de forte crescimento, com destaque para a energia eólica e a solar que tiveram o seu maior crescimento anual. “A capacidade de produção de energia solar aumentou 127 GW, enquanto a eólica cresceu 111 GW – quase duplicando o maior nível de crescimento registado anteriormente. A eletricidade solar cresceu 20% para valores recorde. No entanto, a eólica foi a que mais contribuiu para o crescimento das renováveis”, revela o bp Stats Review.

A análise conclui que as renováveis (incluindo os biofuels mas excluindo a hídrica) cresceram assim 9,7% em 2020, a um ritmo menor do que a média de crescimento dos últimos 10 anos (13,4% por ano) “mas com um crescimento absoluto em termos energéticos comparável com os crescimentos assistidos em 2017, 2018 e 2019”. A China foi o país que mais contribuiu para o crescimento das renováveis, seguida dos Estados Unidos da América. Enquanto região, a Europa foi a que mais contribuiu para o crescimento deste setor.

Consumo de carvão cai 4,2%, aumenta apenas na China e na Malásia

Na eletricidade, a produção mundial caiu 0,9% – uma queda mais acentuada do que aquela registada em 2009 (-0.5%), o único ano até agora – de acordo com o registo de dados da bp (com início em 1985) – em que se assistiu a um decréscimo da procura na eletricidade. Já a quota das renováveis na produção de energia cresceu de 10,3% para 11.7%, enquanto o carvão caiu 1,3 pontos percentuais para 35,1% – uma nova descida nos registos da bp.

Em 2020, o consumo de carvão caiu 4,2%, impulsionado pelas quebras registadas sobretudo nos Estados Unidos e na Índia. Na OCDE, o consumo de carvão chegou ao seu nível historicamente mais baixo, de acordo com a informação recolhida pela bp que data desde 1965. Apenas a China e a Malásia registaram um aumento no consumo desta fonte de energia fóssil poluente.

“2020 ficará marcado como um dos anos mais surpreendentes e desafiantes de sempre. Os confinamentos que se perpetuaram por todo o mundo tiveram um impacto dramático nos mercados energéticos, particularmente para o petróleo, cuja procura ligada aos transportes foi esmagada, disse em comunicado o economista-chefe da bp, Spencer Dale, sublinhando que “foi também o ano para as renováveis se destacarem na produção global de energia, registando o crescimento mais rápido de sempre – impulsionado maioritariamente pelo custo associado à produção de energia a partir do carvão”.

“Estas tendências são precisamente aquilo que o mundo precisa para encarar a sua transição para a neutralidade carbónica – este forte crescimento dará mais espaço às renováveis face ao carvão. Para atingir a neutralidade carbónica, o nível de ambição que os países e empresas têm demonstrado precisa de ser traduzido em quedas mais significativas e sustentadas das emissões”, frisou.

Europa reduz emissões em 13% em 2020, abaixo da meta de 20% planeada

Na Europa, o consumo de energia primária caiu 8,5% em 2020, o valor mais baixo de sempre desde 1984, com o carvão e o petróleo a diminuírem 19% e 14%, respetivamente. Já a quebra de 13% nas emissões de CO2 no continnete europeu geradas a partir do consumo energético, também marcou o seu valor mais baixo desde pelo menos 1965.

“A diminuição no consumo do carvão (-19%) foi principalmente impulsionada pelo setor da eletricidade, onde o carvão representa agora 13% da produção total, metade do que representava em 2019. Em contrapartida, a procura do gás caiu apenas 3%, com o auxílio da procura que ainda persiste na construção e a queda moderada no setor da eletricidade, devido aos baixos preços de gás praticados”, refere a análise da bp.

Nas renováveis, a produção na Europa aumentou 6,7% em 2020 e foi responsável por 13% do consumo de energia primária, uma subida face aos 11% registados em 2019. O crescimento nas renováveis foi impulsionado pelo aumento da eólica (+8%) e da energia solar (+16%).

“A produção total de eletricidade caiu 4% para 2,771 TWh. As renováveis representam agora 26% do setor de produção energética. Em conjunto com a hídrica e a nuclear, representam 63% do total da produção, frente aos 49% registados em 2009”, analisa ainda a bp.

Já as emissões líquidas de CO2 geradas a partir do consumo energético caíram 13%: “Um valor inferior em 32% aos níveis registados em 1990 e contra o objetivo de reduzir em 20% as emissões de GEE, fixado para o ano de 2020”.

O relatório Statistical Review da BP foi publicado pela primeira vez em 1952 e tem fornecido, ao longo do tempo, informações sobre os episódios mais dramáticos na história do sistema de energia mundial, incluindo a crise do Canal Suez em 1956, a Crise do Petróleo em 1973, a revolução Iraniana em 1979 e o desastre de Fukushima, no Japão, em 2011.

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