Apenas 34% dos portugueses confortáveis em assumir orientação sexual no trabalho
Metade dos portugueses inquiridos assistiu a comportamentos não inclusivos no emprego e 20,24% diz que partilhar orientação sexual limitou oportunidades de carreira, segundo estudo da Manpower.
Assumir a orientação sexual no local de trabalho ainda é algo desconfortável para muitos colaboradores. Em Portugal, apenas 34% dos profissionais e 41% do universo da comunidade LGBTQI+ sente abertura para revelar a sua orientação sexual no emprego. Mais de metade (59,52%) já assistiu a comportamentos não inclusivos no emprego e 20,24% diz que partilhar a sua orientação sexual limitou as oportunidades de carreira, segundo os dados da 1.ª edição do estudo “Diversity at Work”, do ManpowerGroup.
“Sendo hoje a inclusão e a diversidade pontos inalienáveis para as empresas, na definição da sua atuação corporativa e no bem-estar dos seus trabalhadores, este estudo dá voz às preocupações da comunidade LGBTQI+ e à sua experiência no seu local de trabalho. Esta investigação, para além de dar visibilidade para a realidade destes profissionais, pretende consciencializar para a necessidade de um maior esforço de inclusão e diversidade nas empresas, através de uma adequada definição de políticas e de uma cultura isenta de discriminação, permitindo a correta valorização de cada indivíduo e do seu potencial”, explica Rui Teixeira, Chief Operations Officer do ManpowerGroup Portugal, citado em nota de imprensa.
Os dados do estudo — recolhidos através de quase 4.800 respostas em 14 países (Áustria, República Checa, Alemanha, Grécia, Hungria, Israel, Itália, Portugal, Roménia, Eslováquia, Espanha, Suíça, Turquia e Reino Unido) — revelam que apenas 34% dos profissionais portugueses entrevistados e 41% do universo da comunidade LGBTQI+ sente abertura para revelar a sua orientação sexual no seu entorno laboral.
“Este valor coloca Portugal a meio da tabela europeia, já que, em polos opostos, estão a Espanha – 48% dos trabalhadores espanhóis afirmam ter abertura para assumirem a sua orientação sexual em contexto laboral – e a República Checa – com 30% dos inquiridos no estudo a partilhar o seu estatuto com os seus colegas”, informa nota de imprensa.
Assumir a orientação no recrutamento: o que pensam os profissionais?
Assumir ou não a orientação sexual em contexto de entrevista de emprego não é ainda um tema consensual. Em Portugal, mais de metade (51,89%) do total dos inquiridos, sejam ou não pertencentes à comunidade LGBTQI+, acreditam ser “mais benéfico para o candidato esconder a orientação sexual ao longo de um processo de recrutamento”. Junto da comunidade LGBTQI+ esse valor cai, mas ainda assim 41,39% têm a mesma convicção
“Portugal é o segundo país em que mais pessoas acreditam ser este o caminho benéfico para o candidato, com Itália a chegar aos 65,04% a terem essa posição e 49,56% dos membros da comunidade a concordarem”, refere a Manpower. São também os portugueses quem mais assume já “ter ocultado intencionalmente a sua orientação sexual, durante entrevista de emprego, com um valor de 45,58%”.
Ainda em contexto laboral, 23% dos portugueses afirmam já ter sido alvo de discriminação numa entrevista de emprego devido à sua orientação sexual, valor apenas superado por Espanha, onde esta realidade já foi sentida por 24,63%. No polo oposto está a Suíça, onde 11,76% dos seus inquiridos a se sentirem discriminados durante um recrutamento.
Comportamentos discriminatórios: uma realidade nas empresas nacionais
Com o tema da inclusão e diversidade na agenda das empresas, no que toca às políticas existentes nas companhias nacionais, atualmente, 26,67% dos profissionais reconhece haver ações direcionadas às mulheres e 17,88% a pessoas com deficiência. 11,73% refere a implementação de programas destinados a profissionais com diferentes etnias e origens e 8,48% a pessoas de idade superior.
“No intermédio estão 12,7% dos inquiridos, que dizem existir políticas para inclusão da comunidade LGBTQI+ nas organizações onde trabalham. Por último, 20,3% dizem não existirem quaisquer políticas de diversidade nas organizações onde operam, independentemente do seu tipo”, refere a Manpower.
O estudo revela que ainda há muito a fazer nas empresas para a criação de um ambiente mais inclusivo no local de trabalho junto dos colaboradores e lideranças. Em Portugal, mais de metade dos entrevistados (59,52%) já assistirem a comportamentos não inclusivos no seu local de trabalho, como piadas sobre a comunidade LGBTQI+ — pior só mesmo a realidade italiana e espanhola, onde 62,57% e 63,69% dos trabalhadores, respetivamente, já assistiram a tais incidentes em contexto laboral — com 60,39% dos entrevistados a alertar que, inclusivamente, que esse comportamento é, normalmente, realizado pelas próprias lideranças, “sendo essa a percentagem a mais elevada, quando comparada com os restantes países em análise.”
Quando questionados sobre se já testemunharam algum tipo de discriminação na sua empresa relacionada com a orientação sexual, tal como a diferenciação salarial ou a atribuição de promoções, 29,32% dos inquiridos em Portugal responderam afirmativamente. “A identidade de género ou orientação sexual já levaram também a que 11,9% fossem vítimas de violência verbal no seu local de trabalho”, indica estudo.
Mais, 20,24% dos trabalhadores portugueses avançam ainda que a partilha da sua orientação sexual veio limitar as suas oportunidades de carreira, ainda assim um dos mais baixos entre os países analisados, pior só mesmo a Itália com 29,9% a afirmar terem sido prejudicados na sua carreira.
Apenas uma minoria de 7,14% de trabalhadores nacionais dizem ter sido promovidos após comunicarem a sua orientação sexual, um dos valores mais baixos do estudo, com apenas a Suíça a apresentar um valor inferior, de 6,17%.
Melhoria na produtividade
Um ambiente de trabalho mais inclusivo e onde os profissionais possam sentir-se confortáveis em assumir a sua orientação sexual traz ganhos de produtividade. Em Portugal, a maioria (62,35%) considera que ganhos ao nível da produtividade é um dos benefícios, o valor mais elevado do estudo, seguindo-se a República Checa (57,75%) e Espanha (50,18%).“Em linha, estão 79,22% de todos os inquiridos portugueses e 81,6% dos respondentes LGBTQI+ que consideram que um ambiente de trabalho diverso é mais produtivo.”
Uma larga maioria (85,16%) do total de inquiridos diz que um ambiente de trabalho mais diverso promove a inovação e novas ideias em contexto laboral, na comunidade LGBTQI+ o valor atinge os 85,98%.
A pandemia acelerou a alteração dos modelos de trabalho, mas ainda assim “assumir a orientação sexual e identidade de género, com estes novos modelos de trabalho, não será tão fácil para as pessoas LGBTQI+: 39% a nível global e 33% em Portugal pensam que será mais difícil mostrar abertamente a sua orientação sexual ou identidade de género num ambiente remoto ou híbrido.”
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