Empresas arriscam pagar energia 134% mais cara em novos contratos a 12 meses

Miguel Fonseca, administrador da EDP Comercial, garante ao ECO/Capital Verde, que a maioria das PME ainda não foram afetadas, mas as grandes empresas "já estão a sofrer" com os preços altos do Mibel.

Uma pequena e média empresa que neste momento esteja a negociar um novo contrato de eletricidade e opte por uma duração de apenas 12 meses — ou seja, até setembro de 2022 — arrisca-se a pagar pela energia elétrica que consome um preço 134% superior do que há um ano. Se a comparação for feita com os tarifários praticados no início de 2021, os aumentos são na ordem dos 80%, revela ao ECO/Capital Verde Miguel Fonseca, administrador da EDP Comercial.

A culpa é do mercado grossista ibérico (Mibel) e dos sucessivos recordes de preços registados ao longo do mês de agosto. O máximo histórico ficou registado na passada quinta-feira, 2 de setembro, quando o preço da energia elétrica no mercado spot superou os 140€/MWh — mais 188% do que no início do ano. De 31 dezembro 2020 a 31 de agosto de 2021, os preços no Mibel subiram 168%, de 48,66 para 130,53€/MWh.

Apesar da escalada, os clientes da EDP no segmento residencial ainda não foram afetados, já que a empresa garante que os tarifários domésticos não se alteraram desde o início do ano e nem a recente evolução meteórica do Mibel vai fazer mexer os preços até ao final de 2021. Quanto às PME, Miguel Fonseca garante: A maior parte das PME no nosso portfólio ainda não foram impactadas porque têm contratos fixos de energia”, a maioria dos quais terminam no final do ano.

Novos clientes empresariais ou renovações de contratos, esses sim arriscam-se a preços muito mais caros se optarem por contratos de curta duração. Por isso, diz o administrador, praticamente todas as PME estão agora a optar por contratos de maior duração que garantem poupanças na energia entre 47 e 60%.

Com uma maior exposição à volatilidade do mercado grossista ibérico de eletricidade, quem está já a “sofrer” verdadeiramente com os preços nunca antes vistos no Mibel são os grandes clientes, industriais, eletrointensivos, e as empresas de grande dimensão.

Alguns deles, diz a EDP, severamente impactados e com sobrecustos de OPEX de 15 milhões de euros mensais para eletricidade face ao orçamentado no início do ano. Para estes, a solução é reequilibrar o mix energético, diminuir a exposição ao mercado spot e garantir que controlam o preço de pelo menos metade do eu consumo. Como? Apostar nas energias renováveis para autoconsumo é uma das respostas, diz a EDP.

“Nos clientes que compravam energia com contratos de preço fixo, a um ano, o que está a acontecer é que dada a volatilidade dos preços no curto prazo face a longo prazo, essas empresas quando renovam os contratos fixos por 12 meses têm agora preços muito mais altos, 80% acima do que se praticava no início do ano. Para os contratos a 5 ano os preços subiram 30%. Por isso as PME estão a estender os prazos para 2, 3, 5 ou até mais anos. Algumas vão até 7 anos, o que antes era impensável”, diz Miguel Fonseca.

E sublinha: “As PME estão com maior apetite e nós estamos a produzir essa oferta para que nos próximos anos não tenham um preço de energia muito alto. Toda a carteira empresarial da EDP vai estar com o dobro da maturidade média dos contratos no final do ano”.

Já nos grandes clientes — os mais impactados — a estratégia passa por aumentar a sua exposição (entre 50 a 70%) a contratos fixos de longo prazo (10/15 anos) face aos indexados ao mercado spot (que no passado chegaram a 80%, quando os preços do Mibel estavam mais baixos). Além disso, estão também a apostar em projetos solares para autoconsumo, que controlam a 100% e que vão cobrir uma dada percentagem do seu consumo: entre 5 a 20%, e até 50%.

“Os grandes clientes, mas também as PME, têm procurado contratos mais longos do que o habitual. Em Portugal, clientes de referência do setor alimentar, do desporto, do setor bancário, entre outros, estão a escolher maturidades a 5 e a 10 anos como forma de controlar a subida dos preços. Já temos um aumento homólogo de 236% no volume deste tipo de contratos de energia”, revelou o administrador.

No segmento de Grandes Clientes, entre Portugal e Espanha, a energia contratada pela EDP em maturidades mais longas já é superior aos 3.500 GWh/ano, dos quais 602 GWh/ano são em Portugal. “Num contrato a 5 anos, estamos a falar de uma diferença próxima de 25% face a um contrato de 1 ano na componente de energia. Num contrato a 7 anos, a diferença é de 35%”, diz Miguel Fonseca.

Outra forma de controlar os custos e acelerar a transição energética passa pela aposta no solar fotovoltaico, com descontos nos preços da energia que podem ir até aos 40%. Miguel Fonseca fala em 32 MWp já contratados em seis meses, o equivalente a mais de 85 mil painéis fotovoltaicos nas empresas nacionais, com as vendas a crescer 190% no setor empresarial no primeiro semestre de 2021.

E dá exemplos, como o caso da empresa de comércio de derivados de madeira Balbino e Faustino, que instalou 464 painéis solares (200 KWp),que vão permitir baixar a fatura em 36% e evitar 54 toneladas de CO2/ano. Ou uma panificadora em Sinta que conseguiu reduzir a fatura em 50 a 55%, de 25.000 euros para 12.500 euros com o recurso ao autoconsumo de energia solar.

Há também o exemplo da Burguer King, com 12 mil painéis (5 MWp) em 300 restaurantes de Espanha (70% instalado e a funcionar) e a fechar nova parceria para Portugal e a Navigator, com 17 mil painéis no complexo da Figueira da Foz (2,6 MWp) e uma produção de 3.500 MWh/ano.

Em Espanha, a EDP Comercial fechou com a Asturiana de Zinc um contrato de longo prazo de 237 GWh/ano (equivalente a 65 mil habitações) ligados a parques eólicos e que representam 60% do custo total de produção da empresa. Por cá a elétrica tem um PPA a 18 anos com a APPICO com ativos da EDP Renováveis para 56 GWh/ano e ainda um contrato a 11 anos com a NOS no valor de 32 milhões de euros e que permite à empresa de telecomunicações reduzir a fatura em 20% e ter estabilidade de preço até 2033.

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