• Entrevista por:
  • Helena Garrido e Paula Nunes

Conhecer Pedro Nuno Santos: Soares é a sua referência, “fez sempre tudo bem”

Nem quando se pede para escolher apenas um objecto da sua casa, se houver um incêndio, Pedro Nuno Santos deixa de escolher três coisas.

Mário Soares é a personalidade que mais o marca. Fez sempre tudo bem, diz. Vive neste momento a que considera ser a sua melhor experiência profissional. Nem ele que, confessa, defendia um modelo de governo destes para o PS, com o apoio da esquerda, acreditava na altura que fosse possível tão cedo. Vamos conhecer Pedro Nuno Santos, atual secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares através dos seus gostos, valores e preferências.

O melhor de Portugal, o que é?

É difícil em respostas rápidas. Entre a nossa língua, a nossa cultura, a nossa história e o nosso povo, não consigo escolher.

E o pior?

O pior é muito circunstancial. É, no norte do país, de onde eu venho, algumas noites muito, muito frias. Porque, sinceramente, não há países perfeitos. O nosso também não é. Mas eu não tenho nada que não goste no nosso país, até os nossos defeitos.

Qual é para si, o país modelo, se é que tem?

Não tenho nenhum país modelo.

Qual a personalidade histórica que mais admira?

Não sei quais são as perguntas todas, não quero repetir muitas vezes Mário Soares. Mas Mário Soares é uma personalidade que me marcou profundamente. Vejo sempre com alguma estranheza, algum incómodo, o aproveitamento que se faz do percurso político do Mário Soares. E eu gostava de dizer que Mário Soares teve sempre razão. Teve razão em 1975, como também teve razão no momento da entrada na União Europeia, como também teve razão quando criticou a terceira via ou quando criticou a forma como a UE estava a responder à crise ou quando promoveu os encontros da Aula Magna. Foi sempre um político capaz de analisar a circunstância, o momento atual. Julgo que nem todos percebem isso. E vão escolhendo o momento que mais lhes dá jeito. Eu escolho toda a vida de Mário Soares, porque ele teve sempre razão.

E qual é que é a pessoa que mais o marcou profissionalmente?

Obviamente que agora diria Mário Soares. Consigo sair do nosso país e ver os brilhantes líderes sociais-democratas que nós fomos tendo na Europa do pós-guerra até o início da década de 80. Que de facto conseguiram construir um Estado Social que é talvez uma das melhores, das mais brilhantes realizações políticas que o ser humano conseguiu. E foram vários líderes sociais democratas.

Algum que lhe venha à memória?

Vou ao mais recente, pela forma também desassombrada como exercia o seu cargo: Olof Palme [líder do partido social democrata sueco, foi primeiro-ministro e é assassinado em Estocolmo a 28 de Fevereiro de 1986]. Mas tivemos antes dele muitos outros líderes sociais-democratas, que permitiram construir o estado de bem-estar, que caracteriza a social-democracia europeia.

A sua melhor experiência profissional?

É a que estou a exercer neste momento. É um prazer e entusiasmo muito grande fazer parte de um processo histórico em que o PS, PCP e BE estão a mostrar que conseguem trabalhar em conjunto e produzir resultados.

O acontecimento mais inesperado da sua vida?

Foi perceber que esta solução era possível porque nem eu, que há anos a defendia, achava que era possível já. Foi de facto o líder do PS, atual primeiro-ministro, o maior obreiro desta solução. E ainda bem.

O que é que gosta de fazer nos seus tempos livres?

Gosto de ler, de ouvir música e de estar com a minha família.

Qual a qualidade que mais aprecia numa pessoa?

A honestidade.

E o defeito?

A dissimulação.

O seu livro de sonho?

É muito difícil de eleger um livro de sonho, mas “Os Cem Anos de Socialismo” de Donald Sassoon é uma obra de referência, porque espelha bem a realização, no espaço europeu, do movimento político, do qual faço parte.

O seu filme?

“Querido Diário” de Nanni Moretti.

A sua música?

O Concerto de Colónia, de Keith Jarrett.

E a obra que mais admira? Uma obra de arquitetura, de pintura…

Eu ia à musica porque toda a obra de Keith Jarrett é uma obra marcante para mim. E também, mais recentemente, para não deixar de fora, o rock alternativo que se vai produzindo em bandas como Arcade Fire, The National, The Warpaint que são bandas onde as novas gerações têm conseguido criar e fazer boa música. Não são obras clássicas, são obras de rock moderno de grande qualidade.

Há um incêndio na sua casa, está sozinho, o que é que salva?

O iPad, o iPhone e um brinquedo do meu filho.

Era só uma coisa (risos) …

…Na esperança que o meu filho tivesse já um brinquedo com ele, levava o iPhone.

Já viu que está viciado em pensar em três coisas…

Sim, sim, é verdade e não nos podemos esquecer da quarta, o Partido Ecologista, os Verdes

O Génio do Aladino oferece-lhe três desejos, quais são?

O primeiro é que desejo que a União Europeia finalmente perceba os desafios que enfrenta e a necessidade de responder de forma eficaz à crise, se quiser continuar a ter o apoio dos povos europeus. O segundo desejo é que a economia portuguesa consiga graduar o seu tecido produtivo, se consiga modernizar e consigamos ter setores que nos permitam, a todos, ter a vida que nós ambicionamos, e este é um desafio que ainda não está vencido. O terceiro desejo é ter mais três [risos] … e por aí fora.

E o seu lema de vida é?

Os problemas dos outros também são meus.

  • Helena Garrido
  • Paula Nunes
  • Fotojornalista

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