Espanhóis do Grupo Hotusa vão investir mais de 55 milhões de euros em dois hotéis em Lisboa, elevando para 21 as unidades que detêm em Portugal.
O Grupo Hotusa vai investir mais de 55 milhões na construção de dois novos hotéis em Lisboa, elevando para 21 o número de unidades hoteleiras em Portugal. Em entrevista ao ECO, o presidente Amancio López Seijas adianta que os planos de investimento em território nacional não ficam por aqui e que todas as cidades são uma hipótese para futuras localizações, incluindo “cidades menores e mais pequenas”. O impacto da pandemia foi claramente sentido, mas o empresário acredita que na primavera o turismo já viverá “uma certa normalidade”.
Criado em 1977, o Grupo Hotusa aterrou em território nacional em 2005, onde abriu o Eurostars das Letras, no Porto. Desde então já são mais de duas dezenas as unidades abertas. Investimento atrás de investimento, este é o momento do Eurostars Universal Lisboa e do Ikonik Lisboa, de cinco e três estrelas, respetivamente, ambos no Parque das Nações. O investimento total? “Acima de 55 milhões de euros”, revelou Amancio López Seijas ao ECO.
O empresário espanhol não esconde o interesse que tem pela cultura e tradições de Portugal, e é por isso que todos os hotéis têm referências lusas. “Os hotéis representam a Lisboa tradicional e histórica, a literatura e a arquitetura, e, por isso, são hotéis mais jovens, mais modernos e inovadores“, diz. O Eurostars Universal tem como tema principal os oceanos, enquanto o Ikonik representa a expressão de uma Lisboa mais moderna.
O Grupo Hotusa está atualmente presente em cinco cidades portuguesas — Porto, Matosinhos, Figueira da Foz, Cascais e Lisboa –, sendo Portugal o segundo maior mercado da marca Eurostars. Amancio López Seijas destaca ainda a segurança do país, a mão-de-obra qualificada e o “papel exemplar” que a banca portuguesa teve na ajuda durante a pandemia. “Portugal está num caminho de crescimento importantíssimo”, diz, não escondendo a vontade de continuar a crescer em terras lusas.
Quem é o Grupo Hotusa? Que papel tem no turismo espanhol?
Somos um grupo turístico, com uma componente hoteleira de de exploração de hotéis. Temos mais de 200 hotéis em 19 países, em 800 marcas. Fundamentalmente Eurostars (de quatro e cinco estrelas), Exe (hotéis modernos e funcionais, de quatro estrelas), Ikonik (hotéis com componente tecnológica), Crisol (marca de hotéis funcionais) e a nossa nova marca, a Aurea Hotels, com hotéis boutique e diferenciados. Nascemos de um consórcio hoteleiro e temos ainda uma central de reservas. Já temos mais de 40 anos de experiência de mercado.
Referiu no ano passado que queria transformar Chantada [cidade onde nasceu] no “Silicon Valley da Galícia”. Como vão esses planos?
No início dos anos 2000, vimos que uma grande parte de Espanha — assim como de Portugal — estava a ficar despovoada e achámos que esse processo não tinha de ser definitivo. Então, por volta de 2010 ou 2011, começámos a achar que o trabalho à distância era possível e que, numa empresa, os serviços centrais não tinham de estar concentrados no mesmo edifício. Por isso, pusemos um marcha um centro de trabalho numa pequena vila, numa zona rural. O resultado foi muito positivo, porque para além de ter oferecido trabalho a pessoas que moravam naquela zona, também acolheu outras pessoas de outras zonas urbanas. Foi uma experiência muito interessante.
Achamos que pode ser uma grande mudança de tendência a nível mundial. Antes as pessoas iam para onde estava o trabalho e agora o trabalho vai para onde estão as pessoas. Não me refiro só ao talento, mas também ao compromisso. É uma tendência que acredito que se vá alastrar e é uma esperança para todas as zonas povoadas. Estamos muito satisfeitos e acreditamos que será uma tendência generalizada e que os centros de trabalho estarão onde haja este perfil de pessoas comprometidas.
Encontrámos em Portugal aquilo que é fundamental para uma empresa: as pessoas, que estão bem preparadas, informadas, com talento e com compromisso.
Ainda se recorda quando e como entrou no mercado português? Como foi?
O Grupo Hotusa tem uma grande proximidade a Portugal desde o início. A Península Ibérica tem laços históricos, sociais e económicos muito próximos. E sempre consideramos que não havia grandes diferenças entre o que se podia fazer em Espanha e o que se podia fazer em Portugal. Vimos isso como algo exótico. Portanto, foi parte da estratégia desde o primeiro momento. Além disso, foi muito bem-sucedido. Encontrámos aqui [Portugal] aquilo que é fundamental para uma empresa: as pessoas, que estão bem preparadas, informadas, com talento e com compromisso.
Quais são as principais qualidades do mercado hoteleiro português? E defeitos?
Creio que é quase o mesmo do que podíamos falar de Espanha. Em primeiro lugar eu destacaria a segurança, que é fundamental para o turismo. Não só a segurança física, na rua, mas também sanitária e jurídica. Além disso, as magníficas infraestruturas e depois o estilo de vida que significa tradição, história, gastronomia e tudo aquilo que pode tornar o turismo um destino singular. Acredito que Portugal tem tudo isto, tanto na parte urbana, como na parte mais rural, das pequenas povoações. Com a digitalização e a aposta nestes territórios, creio que Portugal é muito atrativo e tem um enorme futuro. Quero também destacar a cadeia de formação, que no caso português é melhor do que em Espanha, onde os jovens falam muito bem inglês.
Sobre os aspetos a mudar, creio que Portugal está num caminho de crescimento importantíssimo. Haverá sempre coisas a melhorar, mas é como em qualquer país. Não me atrevo a dizer algo que Portugal deveria melhorar. Talvez melhorar as infraestruturas, seguramente há algumas pendentes, mas creio que Portugal já formou um caminho, sem perder a singularidade, a entidade, a tradição e aquilo que faz com que o turista tenha experiências distintas.
Gerem 19 hotéis em Portugal, dois dos quais estão a ser construídos agora em em Lisboa. Qual o investimento total que está a ser aplicado nestas duas unidades?
Acima dos 55 milhões de euros, para os dois hotéis. Foi um processo muito demorado e complicado, mas acredito que o resultado é magnífico, tanto do ponto de vista arquitetónico, como da qualidade. Os hotéis representam a Lisboa tradicional e histórica, a literatura e a arquitetura, e, por isso, são hotéis mais jovens, mais modernos e inovadores. São hotéis que representam perfeitamente a cidade — a tradição e a inovação.
Os investimentos em Portugal ficam por aqui? Quais são os próximos planos?
Estamos sempre à procura de oportunidades, para termos uma importante presença em Lisboa. No Porto e outros destinos, como cidades menores e mais pequenas, mas que pensamos serem grandes atrativos turísticos, porque o turismo também se vai alastrando das grandes cidades para as médias e das médias para as pequenas, inclusive as zonas rurais. Portanto, o nosso interesse por Portugal é completo, por todos os destinos. Estamos à procura de oportunidades e quando as encontrarmos esperamos poder chegar a acordos e continuar a crescer também.
Ainda não temos cidades concretas, mas temos interesse em estudar todas. Temos especial interesse por destinos com uma carga cultural, mas também estamos interessados em tudo aquilo que está ligado à natureza e à paisagem, porque achamos que, devido à pandemia, vai despertar ainda mais interesse e procura. Por isso, não descartamos, por enquanto, nenhum destino.
Quantos trabalhadores tem o Grupo Hotusa atualmente em Portugal?
São cerca de 500 ou 600 postos de trabalho diretos.
Sentiu muito os efeitos da pandemia (perda de turistas) nos hotéis em Portugal?
Todos sentiram. Quando a pandemia chegou, no início de março, todos os hotéis do mundo fecharam temporariamente, em todos os destinos. A pandemia afetou o mundo inteiro. Alguns países adotaram medidas mais drásticas e outros optaram por medidas menos drásticas. Mas, apesar disso, todos os hotéis foram afetados de uma forma muito severa. Provavelmente, em zonas do sul da Europa, os impactos foram um pouco menores do que no centro e no norte. Mas comparando os hotéis dos países que adotaram medidas mais drásticas e daqueles que adotaram medidas menos drásticas, os resultados não mudaram muito. Afetou toda a gente. Mas o setor está a recuperar, semana a semana, mês a mês.
Despediram pessoas ou encerraram algum hotel em Portugal devido à pandemia?
Não. Fechamos os hotéis provisoriamente e ainda temos alguns encerrados, mas não despedimos ninguém nem encerramos nenhum definitivamente. Para nós é muito importante manter todos os ativos, desde as equipas de colaboradores aos imóveis.
Houve um especial bom comportamento da banca portuguesa, em comparação com outros bancos europeus. A banca portuguesa teve um comportamento exemplar de compromisso e ajuda ao setor.
Os apoios do Governo português foram suficientes?
Houve ajudas com o lay-off, os empréstimos de garantias públicas e algumas ajudas diretas — não muitas. Mas a situação de Espanha e Portugal foi semelhante. E houve um especial bom comportamento da banca portuguesa, em comparação com outros bancos europeus. A banca portuguesa teve um comportamento exemplar de compromisso e ajuda ao setor.
Como vê o futuro do turismo?
Não nos podemos esquecer que estamos na maior crise da história, mas já entramos num processo de recuperação e nada nos faz pensar que este processo possa parar. Por isso, estamos otimistas e esperamos que em breve, sobretudo a partir da próxima primavera, possamos voltar a uma certa normalidade. O setor está a melhorar semana a semana e está a consolidar-se, contrariamente a períodos anteriores, em que melhorava e piorava com os confinamentos. Por isso é que todos pensamos que a partir da primavera estaremos numa certa normalidade. E parece que todos entendem que o turismo é um fenómeno que não vai parar com a pandemia. Não se vai deixar de viajar por isso, ninguém questiona se o setor turístico é viável ou não.
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“Banca portuguesa teve comportamento exemplar” de ajuda ao turismo, diz presidente do Grupo Hotusa
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