Bebemos muito, mas o “cafezinho” está cada vez mais caro
Portugal está entre os 25 países que mais consomem café em todo o mundo, mas os preços dos grãos estão a aumentar enquanto os principais produtores são afetados pelas alterações climáticas.
No primeiro dia de outubro celebra-se o Dia Internacional do Café. É indiscutível a importância do café na economia mundial, sendo um dos mais valiosos produtos primários comercializados. Além disso, o seu cultivo, processamento, comercialização, transporte e mercado garantem milhões de postos de trabalho, sobretudo em nações em desenvolvimento ou mesmo das mais pobres, tendo em conta que os maiores produtores se concentram em regiões como a América Central e do Sul, Ásia e África, segundo os dados da Organização Internacional do Café.
Natural da Etiópia, a planta já deu a volta ao mundo e, atualmente, o maior produtor global de café é um país da América do Sul: o Brasil, que terá produzido 63,08 milhões de sacas de 60 quilogramas de café em 2020, de acordo com o Conselho Nacional do Café. Mas os brasileiros são também os maiores exportadores mundiais de café: no ano passado, destinaram a outros países um recorde de 44,6 milhões de sacas, o que corresponde a 70,7% da sua produção total, segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores do Café do Brasil).
Contudo, no que toca ao consumo, os dados mudam de figura, pois os maiores produtores de café não coincidem com os países que mais consomem esta bebida. Neste indicador, o Brasil surge na 14.ª posição a nível mundial, onde cada pessoa consome, em média, 5,8 quilogramas de café. Este valor é cerca de metade da quantidade média de café consumida por cada pessoa na Finlândia, o país que mais bebe café no mundo: são 12 quilos do grão por habitante a cada ano. O ‘top 3’ de maiores consumidores fica completo com outros dois países nórdicos: a Noruega em segundo lugar, com um consumo de 9,9 quilos per capita, e a Islândia em terceiro, com 9 quilogramas.
Aliás, no ranking dos 25 maiores consumidores mundiais de café encontram-se 21 países europeus, entre os quais Portugal, que ocupa a 24.ª posição, com um consumo médio de 4,3 quilogramas de café por pessoa.
Servido como um expresso italiano (café servido a meia chávena), um pingado/pingo (com umas gotas de leite), com gelo (muito famoso durante o verão), um carioca/abatanado (mais fraco, com adição de água), um descafeinado (sem cafeína), entre tantas outras formas, o café é uma bebida tradicional para os portugueses, acompanhando-os desde que acordam até aos encontros com amigos. Segundo o mais recente estudo da Multidados, efetuado entre 10 de março e 10 de abril de 2020 entre os utilizadores registados na agência, a maioria dos portugueses (38,3%) consome uma média de dois cafés por dia. A marca mais consumida, em casa e fora, é a Delta.
Os principais consumidores deste grão, no entanto, celebram este dia numa altura em que o mercado do café enfrenta carências históricas e uma subida dos preços. A pandemia de Covid-19 atingiu fortemente o setor que, estima-se, não deve recuperar totalmente até 2023. O segmento das cadeias de café teve uma queda de quase um quarto nas vendas em 2020, que se fixaram nos 36 mil milhões de dólares, revela a Bloomberg. Uma pesquisa de mercado do Grupo Allegra indica que, em 2025, este mercado pode recuperar e ultrapassar os 50 mil milhões de dólares em vendas anuais.
Porém, as alterações climáticas e interrupções nas cadeias de abastecimento ameaçam atrasar ainda mais esta recuperação. Os futuros do café arábica (de gosto mais suave) aumentaram cerca de 50% este ano, depois de o Brasil, ao ser atingido por secas e geadas, projetar a produção mais baixa em 12 anos. Prevê-se que o país colha 40% menos grãos arábica de alta qualidade do que no ano passado, o que equivale a uma perda igual a cerca de dois terços do consumo anual dos Estados Unidos.
Já na Colômbia, o segundo maior exportador mundial do grão arábica, o excesso de pluviosidade pode exacerbar o défice mundial previsto. O Vietname e a Índia, outros dos maiores produtores de café, também enfrentam problemas nos fluxos das colheitas.
Se compararmos os preços dos dois tipos de café mais cultivados e consumidos no mundo – o arábica e o robusta (de travo mais amargo, com o dobro da cafeína do arábica) – no espaço de um ano, verificamos que ambos sofreram uma valorização superior a 50%. Há um ano, o robusta tinha um custo de 1.298 dólares por tonelada e, de momento, atinge 2.121 dólares. Ou seja, desde setembro de 2020, o grão robusta teve uma valorização de 63,4% no mercado de café. O arábica, por seu lado, valorizou 76,4%: há um ano, custava 111,42 dólares por cerca de 45 kg, um valor que aumentou para 196,51 dólares por 45 kg em setembro deste ano.
Ainda assim, mesmo com os preços mais elevados, o “consumo não irá diminuir”, disse o analista do Rabobank Guilherme Morya à Bloomberg em agosto passado. Os preços teriam de subir acima dos 4 dólares (3,40 euros) por quilo para começar a fazer diferença no consumo, segundo Sterling Smith, diretor de investigação agrícola da AgriSompo North America. “Até lá, os consumidores sensíveis aos preços podem procurar cafés mais baratos ou fazer mais café em casa“, refere.
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