Lixo orgânico? Startup cria compostor doméstico made in Portugal
A startup Mudatuga está a desenvolver o primeiro compostor Bokashi português feito totalmente com materiais reciclados. O Bokashi vai chegar ao mercado no verão do próximo ano.
Carolina Bianchi, bióloga de formação e adepta de compostagem, chegou a Coimbra há quatro anos. Ao partilhar casa percebeu que em Portugal a compostagem doméstica não passava de uma miragem. Consciente que a grande maioria dos portugueses não sabe fazer compostagem, e que não está sensibilizado para a gestão de biorresíduos, a brasileira encontrou o “gatilho perfeito” para criar, no ano passado, a Mudatuga, uma startup de educação ambiental para promoção da compostagem doméstica e comunitária.
A Mudatuga é liderada por três mulheres que têm como missão consciencializar os portugueses para a importância da compostagem. Para além da CEO Carolina Bianchi, juntou-se à equipa a brasileira Luana Garcia, que trabalhava na área da compostagem doméstica e educação em São Paulo, e a engenheira alimentar Giulia Braghieri, advisor da Mudatuga.
Para além de várias ações de sensibilização, a equipa está a desenvolver no Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC) um compostor doméstico chamado de Bokashi feito totalmente com materiais reciclados. O Bokashi vai chegar ao mercado no verão do próximo ano e vai custar menos de 50 euros.
Carolina Bianchi, CEO da startup Mudatuga, conta a ECO que perceberam que “em Portugal faltava uma voz para falar em compostagem e também que não existia um compostor doméstico indoor adequado para a casa dos portugueses. Com essa ideia em mente criámos o compostor Bokashi. Estamos a desenvolver o protótipo e queremos ter a certeza que vai ser um produto sustentável, inovador e que faça diferença em Portugal e na vida das pessoas”, destaca.
A jovem empreendedora conta que ao começar a fazer compostagem, “é muito fácil reduzir quase metade do nosso lixo”, porque “os biorresíduos representam quase 40% daquilo que está dentro de um saco de lixo de uma família média”. Carolina Bianchi, lembra que 40% dos resíduos domésticos são compostáveis e que 60% dos resíduos urbanos de Portugal vão parar aos aterros”.
No compostor Bokashi as pessoas podem depositar quase tudo que seja biodegradável, como carne, peixe, citrinos, ervas aromáticas, cascas de frutas e legumes. Apenas não é recomendado depositar conchas e resíduos muito líquidos como leite, sopa ou iogurtes.
“Depois da fermentação dentro do compostor Bokashi já temos uma redução de 25% do resíduo”, conta a CEO da startup. Depois de depositar os resíduos no compostor, as pessoas podem misturar os resíduos num vaso juntamente com terra, numa horta comunitária, num jardim. Carolina Bianchi explica que os resíduos “são perfeitos para voltar a nutrir o solo”.
“40% dos resíduos domésticos são compostáveis e 60% dos resíduos urbanos vão parar aos aterros em Portugal”.
Para as pessoas que vivem em grandes centros urbanos sem acesso a terra, a CEO explica que existe uma outra possibilidade que é levar os resíduos para os compostores comunitários. Na falta destes compostores, Carolina Bianchi refere que pode fazer parte da solução “entregar os resíduos a um órgão público ou privado que faça esse trabalho. Realça que estas entidades ainda “não existem em Portugal”, mas que estão “a lutar” nesse sentido.
“A Mudatuga quer mostrar para os órgão públicos que todos ganham se o tratamento dos resíduos for feito a partir da casa de toda a gente”, destaca a CEO da startup. Carolina Bianchi alerta que com as novas legislações da União Europeia, “Portugal vai ter que ter que implementar diversas soluções ao mesmo tempo, seja compostagem comunitária, incentivo à compostagem doméstica ou a recolha diferenciada porta-a-porta de biorresíduos”.
A fundadora sugere que os municípios em vez de fazerem a recolha dos resíduos frescos deviam fazer a recolha dos resíduos já fermentados. “Independente de as pessoas fazerem ou não compostagem doméstica, o Governo vai ser obrigado a disponibilizar este tipo de serviços”.
Quer aprender a fazer compostagem? Escola Compostar vai chegar a mais cidades
Este ano a Mudatuga dinamizou a Escola a Compostar, em colaboração com a ZeroWasteLab e a Hortas Lxu, que consiste numa iniciativa que promoveu sessões e conteúdos gratuitos sobre compostagem numa modelo online e presencial que reuniu mais de mil participantes, em Lisboa.
A iniciativa focada em sensibilizar a população para a gestão de biorresíduos foi um “sucesso” e a ideia das jovens empreendedoras é replicar a iniciativa para outras cidades portuguesas como Coimbra, Aveiro, Braga, Faro, Porto e Castelo Branco. Com a iniciativa, já foram sensibilizadas para o tema da compostagem mais de duas mil pessoas.
“A iniciativa foi um grande sucesso e estamos a recolher fundos através de uma campanha de crowdfunding para levar o projeto até pelo menos mais cinco cidades portuguesas. Queremos replicar o modelo que já funcionou em Lisboa em outras cidades”, conta Carolina Bianchi. Até ao momento já foram angariados mais de três mil euros.
A Mudatuga foi distinguida na final Europeia do ClimateLaunchpad, a maior competição cleantech do mundo. O projeto português venceu o terceiro lugar da competição e foi o eleito vencedor na categoria Urban Solutions. Além disso, a Mudatuga conquistou as preferências da audiência ao receber o prémio do público. A Mudatuga é, assim, uma das 14 equipas europeias que vai à final internacional do ClimateLaunchpad, que decorre no dia 28 e 29 de outubro.
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