Deputado do PSD acusa Rui Rio de querer “suspender democracia interna”
Pedro Rodrigues defendeu que, mesmo que o cenário de crise política fosse verdadeiro, "seria inconcebível que o PSD pudesse ir a eleições com um líder sem legitimidade democrática".
O deputado e ex-líder da JSD Pedro Rodrigues acusou esta quinta-feira o presidente do PSD de querer “suspender a democracia interna” no partido e funcionar como “muleta do PS”, ajudando a “dramatizar uma crise política artificial”.
Na quarta-feira à noite, Rui Rio apelou ao Conselho Nacional, que se reúne esta quinta-feira a partir das 21 horas em Lisboa, que não marque já as diretas e o Congresso – como estava previsto e com uma proposta de calendário enviado horas antes pela própria direção – e só o faça depois de se esclarecer se o próximo Orçamento do Estado é ou não aprovado.
Em declarações à Lusa, Pedro Rodrigues, que tem assento no Conselho Nacional por inerência por ser deputado (mas sem direito a voto), pede que se este apelo se transformar numa proposta formal esta seja “rejeitada de forma clara e inequívoca pelos conselheiros”.
“Foi com alguma surpresa que vi a declaração do presidente do partido, que se comportou uma vez mais como uma muleta do PS e Costa, acenando com uma crise política artificial em que ninguém acredita e contribuindo para que o processo negocial entre Governo e PCP se dramatize”, criticou Pedro Rodrigues, que chegou a coordenar na direção de Rio um grupo de trabalho sobre o sistema político, mas se foi afastando do presidente.
O antigo líder da JSD acusa ainda o presidente de “participar numa farsa orçamental, procurando suspender a democracia interna no PSD”.
“É absolutamente inadmissível e tem de ser rejeitado”, apelou.
Por outro lado, defendeu, ainda que o cenário de crise política fosse verdadeiro, “seria inconcebível que o PSD pudesse ir a eleições com um líder sem legitimidade democrática”, salientando que o mandato de dois anos de Rui Rio (eleito em janeiro de 2020 e confirmado em congresso em fevereiro do mesmo ano) está “prestes a terminar”.
“Se o dr. Rui Rio acreditasse na crise política, convocava rapidamente eleições internas, legitimava-se junto dos militantes e – aí sim, reforçado – enfrentaria o PS. O que parece é que quer enfrentar o PS sem ser líder do PSD, eleito pelos militantes”, criticou, acusando-o de “taticismo” em relação ao Conselho Nacional desta quinta-feira.
Por outro lado, Pedro Rodrigues considerou que o calendário proposto pela direção – diretas em 4 de dezembro e congresso entre 14 e 16 de janeiro – “em nada colide” com uma eventual crise política, em que diz não acreditar.
“O partido estaria muito a tempo de enfrentar eleições em janeiro ou fevereiro do próximo ano, com um líder legitimamente eleito e o partido unido”, refere.
O Conselho Nacional do PSD reúne-se esta quinta-feira em Lisboa e na ordem de trabalhos estava a marcação das diretas e do Congresso na agenda, além da análise da situação política.
Na quarta-feira à tarde, a direção enviou aos conselheiros a proposta de realização das eleições diretas para escolher o presidente do PSD para 4 de dezembro (dia do aniversário da morte do fundador Francisco Sá Carneiro), com uma eventual segunda volta no dia 11, caso nenhum candidato obtivesse mais de 50% dos votos.
A proposta da Comissão Política Nacional (CPN) apontava para a realização do 39.º Congresso do PSD entre 14 e 16 de janeiro, em Lisboa, numa antecipação de cerca de um mês em relação aos dois anteriores atos eleitorais internos.
Os conselheiros nacionais receberam, além desta proposta, uma “hipótese de cronograma” (que só iria a votos se a primeira fosse chumbada), em que as diretas se realizariam em 8 de janeiro (com eventual segunda volta dia 15) e o Congresso entre 4 e 6 de fevereiro.
Cerca de duas horas depois de este calendário ter sido enviado aos membros do Conselho Nacional, o presidente do PSD, Rui Rio, convocou os jornalistas para uma declaração no parlamento, motivada por um “facto político muito relevante”: a possibilidade de o Orçamento do Estado (OE) para 2022 ser chumbado e o Presidente da República ter avisado que esse cenário “muito provavelmente” conduziria à dissolução do parlamento e a legislativas antecipadas em janeiro.
“O que entendo que seria de bom tom era que este Conselho Nacional fizesse a análise das autárquicas, não marcaria diretas, e ficaria marcado um Conselho Nacional para depois da aprovação ou não do OE. Se o OE for aprovado, há condições para diretas, se não for, não vejo como o partido pode fazer internas e legislativas ao mesmo tempo”, disse Rio, apelando a que os conselheiros ponderem esta proposta, em nome “do interesse nacional e do partido”.
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