Paulista Fabiana Thorres troca casas por confeção na Caparica
Chegou a Portugal com o sonho da moda, mas acabou a trabalhar numa imobiliária. Com a ajuda do compatriota Silvio Korich montou uma confeção e vai lançar uma coleção de roupa com pele de bacalhau.
Fabiana Thorres levava mais de duas décadas de experiência na área da confeção quando decidiu sair do Brasil com os quatro filhos devido ao clima de insegurança. Há três anos, quando escolheu Portugal, tinha na mente prestar serviços de consultoria para marcas de moda, mas cedo percebeu que “não era assim tão fácil”. Acabou a trabalhar numa imobiliária na região da Costa da Caparica.
No entanto, o sonho transformou-se em realidade quando um dia se cruzou na imobiliária com Silvio Korich. O empresário brasileiro, a viver em Portugal há 30 anos, é proprietário da Matic Têxtil – Fios e Confeções, e decidiu investir na ideia desta compatriota, que é agora dona de uma confeção na Charneca da Caparica com 12 máquinas industriais e que emprega oito pessoas.
“Falei com o Silvio Korich sobre o meu desejo de abrir uma confeção em Portugal. Para minha surpresa, ele decidiu investir na minha ideia. Reparámos que as grandes empresas de confeções estão localizadas no Norte e o meu objetivo era transformar a região da Costa da Caparica num polo de moda luso-brasileiro“, conta ao ECO.
Na fase inicial do projeto, com o país e o mundo a enfrentarem uma escassez brutal de máscaras no contexto da pandemia de Covid-19, Fabiana Thorres, de 49 anos, começou a produzir máscaras certificadas. Atualmente, a marca já está a atacar outros nichos de negócio e trabalha em regime de private label com várias marcas de moda e de vestuário de praia.
Entre outras, produz para a Greenfits, uma marca de roupa sustentável direcionada ao público feminino; para a Corpo Dourado, a Biquínis Da Praia e a canadiana Now in Rio Swim. Todas as matérias-primas usadas na confeção são sustentáveis ou zero resíduos. “Queremos ter um ADN sustentável. É possível fazer moda de qualidade pensando no meio de ambiente. Menos tendência e mais essência“, sublinha a empresária.
Sofia Fernandes, uma das fundadoras da Greenfits diz que esta é uma “parceria luso-brasileira promissora”. “Primamos muito por Portugal e fizemos questão de produzir nossas peças cá. Estamos entre os cinco países pioneiros no mundo em matéria-prima biodegradável, mas no que respeita à malha para fitness ainda não. Por isso, importamos o que há de melhor no Brasil”, acrescenta.
Vestidos e biquínis com pele de bacalhau
No Brasil, Fabiana Thorres usava a pele de salmão para criar detalhes em peças de roupa, como vestidos e biquínis. No Rio de Janeiro chegou a fazer uma coleção inteira para uma marca com pele de salmão e tilápia. Quando chegou a Portugal, umas das missões era voltar a reaproveitar o desperdício da pele de peixe.
Apresentou a ideia à Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, que mostrou interesse no projeto, mas sugeriu outra particularidade: usar a pele de bacalhau, dado o consumo elevado da espécie em Portugal. Aceitou o desafio e o projeto está “em andamento”, tendo já conseguido resultados em relação à durabilidade da matéria-prima e da pele. “Estamos a trabalhar numa coleção com pele de bacalhau que vai fazer diferença”, promete.
Fabiana Thorres realça que já tem “algumas amostras” e está a desenvolver uma primeira coleção. “O meu forte foram sempre os vestidos, mas tenho muitos clientes de moda de praia e, como tal, os detalhes da pele de bacalhau vão ser incorporados em vestidos e biquínis. Já tive um contacto da embaixada da Áustria, que se interessou bastante nesta matéria-prima e neste processo. Também marquei presença [na feira] Modtissimo, no Porto, e percebi que o produto tem muita aceitação”, resume.
A primeira exposição de peças à base de pele de bacalhau vai acontecer na Casa da Guia, em Cascais, durante a primeira semana de novembro, onde promete mostrar vários vestidos, blusas e saias. Os interessados vão poder encomendar o vestido com pele de bacalhau através das redes sociais de Fabiana Thorres, com o preço a variar entre 380 e 650 euros.
Queremos ter um ADN sustentável. É possível fazer moda de qualidade pensando no meio de ambiente. Menos tendência e mais essência.
Na ótica de Fabiana Thorres, o consumidor final está cada vez mais exigente e as marcas procuram, cada vez mais, matérias-primas sustentáveis. “A indústria têxtil é uma das mais poluentes do mundo e temos de começar um movimento mais amigo do ambiente e pensar nas matérias-primas que estamos a usar. Quando atendo clientes que querem fazer uma coleção nova, eles já vêm ter comigo a pensar em matérias sustentáveis”, conclui a empresária.
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