António Saraiva alerta para necessidade de requalificação. “Aqueles que se fecharem em casulos vão estar rapidamente desadequados”

A requalificação tem de ser abordada por pessoas, organizações e Estado, constituindo o que designa de um "triângulo virtuoso", defende o líder da CIP.

Há dados que apontam para a transformação de um milhão de postos de trabalho durante os próximos anos. Enquanto alguns irão desaparecer, outros deverão nascer, exigindo novas competências e qualificações. Embora possa parecer uma realidade assustadora, a curiosidade e proatividade de cada um pode determinar o seu sucesso no mercado de trabalho. A postura tem de ser de “uma disponibilidade permanente para a requalificação”, defende António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), durante o Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Gestão de Pessoas (APG), a decorrer até 5 de novembro.

“A atividade que hoje prestamos está ameaçada porque o ritmo de mudança e as novas competências vão trazer desafios que não nos permitem ficar na nossa zona de conforto. Aqueles que se fecharem em casulos — com o conhecimento que já têm — e que não estiverem alerta para esta transformação e novas competências vão estar muito rapidamente desadequados no mundo do trabalho”, diz António Saraiva.

Embora considere que as próprias pessoas devem fazer um esforço para acompanhar a evolução e manter alguma inquietude nesse sentido, procurando formas de renovar o conhecimento, o líder empresarial salienta que esta problemática tem de ser abordada por pessoas, organizações e Estado, constituindo o que designa de um “triângulo virtuoso”.

Num vértice estão “os trabalhadores que querem adquirir novas competências”, noutro “as empresas que promovem e ajudam-nos a adquiri-las” e, finalmente, “os Estados que devem encontrar políticas públicas de interação e ajuda”.

António Saraiva, presidente da CIP, em entrevista ao ECO - 04DEZ19
António Saraiva, presidente da CIP.Hugo Amaral/ECO

“Ou saímos por nós próprios [da zona de conforto], porque temos espíritos inquietos e porque vamo-nos reposicionando na maneira de ver o mundo e no qual julgamos ser o nosso papel nesse mundo enquanto membros ativos ou, aqueles que não estando despertos, cabe ao movimento associativo, despertar essas consciências”, continua.

Recordando também a dificuldade que o país sente em preencher determinados postos de trabalho que requerem uma mão-de-obra mais especializada, como é o caso de eletricistas, mecânicos ou canalizadores, António Saraiva refere que também o Estado, em articulação com as pessoas, entidades e privados, terá de encontrar formas de responder a estes fenómenos, não deixando ninguém para trás.

Por um lado, temos carências de qualificações e de formação profissional, por outro temos novas qualificações, que vão ter de ser ministradas. Vamos ter de desenvolver currículos adaptados a novas realidades e por isso é que temos de adaptar as políticas entre empresas, pessoas e Estado.

António Saraiva

Presidente da CIP

“Hoje temos uma camada de população que prefere encontrar trabalho nos serviços, do que propriamente no saber fazer uma especialidade. Eu diria que é uma camada populacional mais diferenciada em termos académicos, mas mais especializada. Começamos a ter enorme dificuldade em encontrar mão-de-obra especializada nestes setores, e não é um robô que vai fazer estes trabalhos”, continua.

“Por um lado, temos carências de qualificações e de formação profissional, por outro temos novas qualificações, que vão ter de ser ministradas. Vamos ter de desenvolver currículos adaptados a novas realidades e por isso é que temos de adaptar as políticas entre empresas, pessoas e Estado.”

Mário Ceitil, presidente da APG, que moderou a conversa com António Saraiva, refere que a associação nota ainda um “problema de mentalidades”. “Há pessoas — e nós sentimos isso quando fazemos formação — que, apesar de compreenderem a situação, têm ainda uma visão um bocadinho estática”, diz.

O líder da CIP responde com o exemplo do portageiro, uma profissão que tem vindo a desaparecer com as máquinas a assumirem esse posto de trabalho: “Se ele não se dotar de competências, se não colaborar com a empresa — e se a empresa não promover essa requalificação –, o que fazemos àquela mão-de-obra indiferenciada, repetitiva, e que qualquer máquina ou robô pode substituir?”, questiona.

“Temos de ter uma atitude coletiva, em que todos, neste triângulo virtuoso, interagem para que esta situação se minore. Não vamos salvar tudo, mas estamos até socialmente obrigados a salvar a maior parte, porque a riqueza criado por um país é o somatório de todas as nossas atividades. É nesse sentido, e com esse espírito cívico, que temos cada vez mais de estar“, finaliza.

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