Banca lucra mais de 1.000 milhões até setembro
Lucro agregado da banca dispara este ano, mas rentabilidade continua bastante deprimida. Volume de negócios aumentou, mas margem financeira voltou a ceder. Eis o retrato da banca até setembro.
Os principais bancos em Portugal registaram lucros agregados de mais de 1.000 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, valor que compara com os 25 milhões registados no mesmo período do ano passado.
Apesar do aumento dos resultados, o setor continua a ter problemas de rentabilidade do capital, como lembrou esta quinta-feira o presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), sendo que o banco público foi quem mais lucro teve neste período: 429 milhões de euros, correspondendo a um ROE de 6,9%. “A Caixa tem nove mil milhões de capital que tem de remunerar, que tem de devolver aos contribuintes”, frisou Paulo Macedo aos jornalistas.
A subida dos resultados deve-se sobretudo à inversão do desempenho do Novo Banco, que passou de prejuízos de 853 milhões em setembro 2020 para lucros de 154,1 milhões em setembro de 2021, confirmando o “virar de página” da instituição liderada por António Ramalho após anos e anos de prejuízos e faturas milionárias para o Fundo de Resolução.
Já tem mais lucros do que o BCP, por exemplo. Esta “curiosidade” não passou despercebida a Paulo Macedo, que lamentou os encargos cada vez maiores com o Fundo de Resolução: “Os custos com o Fundo de Resolução são cada vez mais curiosos, porque o destinatário do Fundo de Resolução [Novo Banco] já tem mais lucros do que vários dos seus participantes”.
Por outro lado, o BPI também viu o lucro quase duplicar neste período, alcançando um resultado líquido de 242 milhões, mas este foi muito ajudado pelos dividendos e reservas distribuídos pelo banco em Angola, um fator que não se repetirá no próximo ano, segundo o CEO João Pedro Oliveira e Costa.
Caixa lidera nos resultados
Fonte: Bancos
Já BCP e Santander viram os lucros caírem, penalizados sobretudo pelos custos com a reestruturação que ambos efetuaram este ano.
O BCP teve lucros de 59,5 milhões, menos 60% face ao mesmo período do ano passado. Além dos encargos de 88 milhões com o ajustamento de pessoal, o banco liderado por Miguel Maya tem outra dor de cabeça: o problema com os créditos hipotecários em francos suíços na Polónia, que já obrigou a provisões de 313 milhões para os riscos legais com este processo. O ROE caiu para 1,4%.
O resultado do Santander caiu mais de 30% para 172,2 milhões de euros, depois de ter assumido provisões de mais de 160 milhões para implementar o seu processo de reestruturação, levando o ROE a cair para 4,9%.
"Os custos com o Fundo de Resolução são cada vez mais curiosos, porque o destinatário do Fundo de Resolução [Novo Banco] já tem mais lucros do que vários dos seus participantes.”
Saíram 2.400 trabalhadores e eliminados 240 balcões
Sem exceção, os cinco principais bancos do sistema reduziram os seus quadros de pessoal no último ano. BCP e Santander, que avançaram com planos de rescisões por mútuo acordo e reformas antecipadas, têm hoje em dia menos 600 trabalhadores cada: o primeiro contava com 6.511 trabalhadores em setembro e o segundo 5.439 colaboradores. A Caixa tem menos 574 trabalhadores do que tinha há um ano.
No seu conjunto, os bancos têm hoje menos 2.384 trabalhadores face a setembro de 2020. Má notícia: os próximos anos deverão continuar a ser de ajustamento dos quadros, perante a acelerada transformação digital e dos hábitos dos clientes.
Quanto à rede comercial, os bancos também estão mais pequenos: eliminaram 240 balcões, dispondo agora de uma rede de quase 2.000 agências em Portugal.
Volumes sobem mas margem cede
Por causa dos efeitos da política monetária do Banco Central Europeu (BCE), os bancos continuam a ter as margens pressionadas. Em termos agregados, a margem financeira (diferença entre juros recebidos nos empréstimos e os juros pagos nos depósitos) dos Big-5 caiu quase 1% nos 3.223 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano.
Margem financeira continua sob pressão
Fonte: Bancos
A amparar uma maior queda da margem esteve a subida do crédito às famílias e empresas na ordem dos 3,7% para 205 mil milhões de euros.
Por outro lado, os recursos de clientes aumentaram mais de 7% para 262 mil milhões de euros, com os bancos a explicarem este crescimento com o aumento da poupança das famílias durante o confinamento e também com o reforço das contas das empresas com as linhas Covid.
Com o aumento da atividade em Portugal, os bancos tiveram boas notícias na parte do comissionamento: as receitas com comissões subiram 10% para 1.795 milhões de euros, mantendo-se como uma importante fonte de proveitos para a banca neste ambiente de pressão sobre a margem.
Novobanco tem o maior rácio de NPE
Fonte: Bancos
A subida do negócio deu-se num período em que os bancos mantiveram a limpeza do balanço. Neste capítulo, o Novobanco foi quem empreendeu o maior esforço: o rácio de ativos não produtivos (NPE, non performing exposure) caiu 1,6 pontos percentuais para 7,3% no final de setembro. Os outros bancos apresentam rácios de NPE bem mais baixos do que o Novobanco, com o BPI a ter o valor mais baixo: 1,5%.
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