Após o pico da pandemia, inativos atingem valor mais baixo de sempre
O número de inativos disponíveis para trabalhar mas sem procurar trabalho disparou por causa das restrições da pandemia, mas já baixou para o valor mais baixo desde 2011, ano em que arranca a série.
Desde que a pandemia começou que o conceito de inativos voltou a ganhar importância na interpretação dos números do mercado de trabalho. O número de inativos disponíveis para trabalhar mas sem procurar trabalho disparou por causa das restrições da pandemia, mas já baixou drasticamente: no terceiro trimestre recuou para o valor mais baixo desde 2011 à boleia da retirada das restrições e da criação de emprego, indicam os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) publicados esta quarta-feira.
No segundo trimestre de 2020, período já totalmente afetado pela pandemia, a taxa de desemprego diminuiu, em vez de aumentar, para os 5,7%. A surpresa instalou-se numa altura de crise económica, mas havia uma explicação estatística: as restrições impediam quem não tinha emprego de procurar trabalho, apesar de estarem disponíveis, pelo que não eram contabilizados como desempregados. Foi aí que as atenções viraram para a taxa de subutilização do trabalho.
Este é um indicador mais alargado da população desempregada, incluindo além desta também o subemprego dos trabalhadores a tempo parcial, os inativos à procura de emprego mas não disponíveis e, mais importante nesta altura da pandemia, os inativos disponíveis mas que não procuram emprego. Estes últimos são pessoas que podem ter ficado sem emprego por causa da crise, mas que não foram logo considerados desempregados por não procurarem ativamente emprego por causa das restrições.
Do primeiro trimestre de 2020 para o segundo trimestre, o número de inativos disponíveis mas que não procuram emprego disparou de 165,4 mil — um valor normal no pré-pandemia — para quase o dobro (311,7 mil), retirando leitura à taxa de desemprego (5,7%) desse trimestre. Com a retirada das restrições, o número foi encolhendo gradualmente até chegar aos 155,2 mil no terceiro trimestre deste ano.
Olhando para o indicador global da subutilização do trabalho, este passou do pico de 804,4 mil pessoas no terceiro trimestre de 2020 (alimentado tanto pelos desempregados como por inativos) para 642,4 mil no terceiro trimestre de 2021, o valor mais baixo desde 2011, ano em que a série do INE arrancou. São menos 162 mil pessoas. A taxa de subutilização do trabalho fixou-se nos 11,9%, também a mais baixa numa década e quase metade do que se verificou durante a crise da troika.
Subutilização do trabalho atinge valor mais baixo dos últimos 10 anos
A diminuição da subutilização do trabalho não é justificada inteiramente pelo menor número de inativos disponíveis, mas que não procuram trabalho. Isto é, não passaram todos para a população desempregada, a qual também é contabilizada neste indicador, tendo a criação de emprego sido capaz de absorver parte destes trabalhadores.
Isso é visível nos números da população desempregada e empregada. A população desempregada baixou para os 318,7 mil no terceiro trimestre de 2021, o valor mais baixo da década e inferior ao pré-pandemia (323,4 mil no terceiro trimestre de 2019), à exceção da “anomalia” do segundo trimestre em que foi de 278,4 mil (mas que é justificado pelo aumento dos inativos).
Ao mesmo tempo, a população empregada já recuperou da pandemia e até superou o nível pré-pandemia: atingiu no terceiro trimestre de 2021 os 4.878,1 mil, o valor mais elevado da década, acima dos 4.806,6 mil do terceiro trimestre de 2019.
O próprio INE fez neste destaque uma análise aos inativos, separando-os em dois grupos: um designado por “força de trabalho potencial”, que são os que estão à procura de emprego mas não disponíveis ou os que estão disponíveis mas que não procuram emprego; outro designado por “outra inatividade”, que agrega os restantes.
No terceiro trimestre, 30,2% daqueles que no segundo trimestre de 2021 estavam no grupo “força de trabalho potencial” transitaram para o desemprego, ou seja, passaram a cumprir os dois critérios — estar disponível e procurar emprego — e foram classificados como desempregados. Já 17,6% dos que, no segundo trimestre de 2021, estavam no grupo “força de trabalho potencial” transitaram para o emprego no terceiro trimestre.
Estes inativos referidos neste artigo fazem parte da população inativa, mas são uma pequena parte desta. A maior parte da população inativa refere-se a reformados, crianças e jovens estudantes, entre outros.
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