Joyeux chega a Portugal. Quer empregar 100 pessoas com dificuldade intelectual até 2026
O primeiro café-restaurante Joyeux em Portugal é inaugurado este sábado, em Lisboa. Vai empregar nove pessoas. Durante o primeiro semestre de 2022 deverá abrir um segundo estabelecimento, em Cascais.
Portugal vai acolher o quinto café-restaurante Joyeux. É o primeiro fora de França e chega ao território nacional pelas mãos da associação Vilacomvida. O estabelecimento solidário vai empregar nove pessoas com dificuldades intelectuais e de desenvolvimento, como a trissomia 21 ou o autismo. Mas o objetivo é ambicioso: empregar cerca de uma centena de pessoas com estes desafios até 2026, através da abertura de outros cafés-restaurantes e da contratação de talento para eventos.
“Contamos empregar até 2026 cerca de 60 pessoas com dificuldades intelectuais em Portugal. Mas admitimos que o número possa crescer, porque contratamos também para eventos. Por isso, prevemos contratar perto de uma centena”, adianta Filipa Pinto Coelho, presidente da direção da associação Vilacomvida, em conversa com a Pessoas.
Localizado na Calçada da Estrela, n.º 26, em Lisboa, o primeiro café-restaurante Joyeux em Portugal — que inaugura este sábado e conta com a presença de representantes do Governo francês, nomeadamente a secretária de Estado para as Pessoas com Deficiência, Sophie Cluzel, e o secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Clément Beaune, bem como dos fundadores do projeto, Yann e Lydwine Bucaille — pretende “envolver a sociedade com a diferença intelectual, de forma a criar oportunidades para que as pessoas possam estranhá-la menos e incluí-la mais”, explica Filipa Pinto Coelho, que defende que é preciso trazer a diferença para o centro da sociedade, pois “só temos medo daquilo que não conhecemos”.
A expectativa é alta. Além da rede de segurança da casa-mãe, em França, onde o projeto já mostrou ser um sucesso, também os resultados do projeto-piloto café Vilacomvida, que decorreu de outubro de 2018 a março de 2020 (altura em que teve de encerrar devido à pandemia da Covid-19), dão alento à associação.
“A Vilacomvida queria ter um papel mais ativo na sociedade, com um projeto que fosse mais próximo das pessoas. Conheceu o café Joyeux numa altura em que se preparava para lançar o café Vilacomvida, tendo convidado a Joyeux para vir para Portugal”, conta.
Agora, a associação quer dar continuidade ao que fez no café piloto, em Santos, que durou 18 meses e onde foram dadas mais de quatro mil horas de capacitação de pessoas para a autonomia, empregues quatro pessoas e registados mais de seis mil clientes únicos.
Esperemos que primeiro café Joyeux e os restantes possam contribuir para uma sociedade mais inclusiva, que considere que há, de facto, uma mais-valia na diferença.
“Nos últimos dias batemos os recordes de faturação. Fechamos com a notícia do início da pandemia. Mas, apesar disso, conseguimos que todas as nossas contas ficassem pagas. Foi um negócio sustentável”, salienta. “Uma boa equipa, um bom serviço e uma boa energia — de estar a contribuir para o bem de alguém — potencia que os clientes nos procurem, porque se come bem e, ao mesmo tempo, estão a apoiar uma causa”, acrescenta.
Em média, cada estabelecimento Joyeux tem capacidade para empregar dez pessoas, dependendo sempre da dimensão do espaço. Em Lisboa, serão empregadas nove pessoas com dificuldade intelectual e de desenvolvimento.
Mas, para prosseguir o objetivo a longo prazo a que se propõe, a Vilacomvida, em conjunto com a Fundação Émeraude Solidaire, está já a planear um segundo espaço Joyeux em Portugal. A cidade escolhida foi Cascais e a abertura está prevista para durante o primeiro semestre de 2022. Para esse café-restaurante serão contratadas 12 pessoas, avança a presidente da direção da associação.
“Esperemos que primeiro café Joyeux e os restantes possam contribuir para uma sociedade mais inclusiva, que considere que há, de facto, uma mais-valia na diferença. Este projeto pretende transformar a sociedade, e não é só num sentido. Eu, Filipa, tenho uma vantagem enorme de estar num projeto destes, não só por aquilo que posso proporcionar a estas pessoas e a estas famílias, mas a verdade é que toda a equipa se transforma com esta relação”, diz.
Para já, o recrutamento é feito através de parcerias que a Vilacomvida estabelece com outras associações e também com recurso a contactos diretos com algumas famílias. “Estamos também a estabelecer uma ligação com os centros de emprego, que já conhecem o projeto, para que cada vez mais esta rede seja mais forte e mais alargada”, conta Filipa Pinto Coelho.
“Contratamos para formar”
Cada colaborador Joyeux, com ou sem experiência ou formação profissional, é contratado a tempo indeterminado e beneficia de um curso de formação (certificado) –- a Escola Joyeux –- que prepara o seu caminho de autonomia ao longo de cerca de dois anos, consoante o ritmo de aprendizagem de cada formando e colaborador.
“A Escola Joyeux foi um modelo criado em França e passa pela aprendizagem de quatro funções base na restauração: barista, serviço de mesa, serviço de cozinha e caixa. Os colaboradores são contratados para uma destas funções, de acordo com aquela que gostariam de fazer e para a qual estão mais vocacionados. A Escola Joyeaux proporciona formação nessa função e as pessoas vão percorrendo o seu caminho de autonomia, ao seu ritmo, durante dois a três anos”, detalha a líder da Vilacomvida.
No final deste período, e com o seu diploma de Empregado Polivalente no Setor da Restauração, estes colaboradores podem optar por manter o seu emprego no Joyeux ou por procurar trabalho num outro local. “A decisão é deles”, diz, acrescentando que, e França, a maioria escolhe ficar.
“Contratamos para formar. Estes jovens andam a girar por vários sítios onde lhes são oferecidos estágios, mas depois não são empregados. Há aqui também um potencial para que os colaboradores que hoje vão ser Joyeux possam amanhã ter portas abertas noutros sítios, se assim o entenderem. Esses sítios vão também sentir uma maior facilidade de integrar alguém que já vem com uma escola de formação e de contratação.”
Estes jovens andam a girar por vários sítios onde lhes são oferecidos estágios, mas depois não são empregados.
Todo o processo, tanto de contratação como de formação, está desenhado de forma a promover a autonomia destes profissionais com dificuldade intelectual. E o efeito é dominó. “Os nossos pares vão ver que é possível fazer negócios de sucesso, integrando estas pessoas.”
Fnac promove angariação de fundos para abertura de mais cafés Joyeux em Portugal
Para promover a sua expansão e chegar ao maior número de pessoas possível, a Fnac juntou-se ao café Joyeux. A cadeia francesa vai promover uma angariação de fundos a nível nacional, através da qual os clientes podem contribuir para esta causa, quer nas lojas físicas ou no site, seja através de donativos a partir de um euro –- que dão acesso a um concerto digital solidário de Natal — ou através da compra de produtos da marca Joyeux (como t-shirts, crachás, tote bags ou aventais), cujo valor das vendas reverte 100% para esta causa.
“Na Fnac acreditamos no poder da inclusão para a promoção de uma sociedade mais equilibrada e justa. Sabemos que o nosso papel na promoção deste tipo de causas a nível nacional pode fazer toda a diferença. Com esta angariação, vamos ajudar a Joyeux a abrir mais cafés por todo o país e a fazer a diferença na vida de centenas de pessoas e das suas famílias”, afirma Inês Condeço, diretora de marketing e comunicação Fnac Portugal, citado em comunicado.
Para Filipa Pinto Coelho, o apoio da Fnac “será a garantia de que a mensagem positiva sobre a necessidade de cultivar a diferença no nosso país irá chegar a um público informado, que valoriza a diversidade e que poderá ser ele mesmo embaixador desta causa”.
Em Portugal existem mais de 600 mil portugueses portadores de deficiências, muitos deles sem oportunidades no mercado de trabalho. A pandemia da Covid-19 tem contribuído para agravar esta situação. Segundo os dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e do Instituto Nacional para a Reabilitação (INR), houve um acréscimo de 10% no número de desempregados com deficiência inscritos no IEFP, um agravamento de 11% no desemprego de longa duração e, mais acentuada, uma quebra de 350% no que toca ao número de colocações.
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