Limiar dos 3.000 casos pressiona Governo a tomar medidas. “É preciso alterar trajetória que estamos a assistir”, diz especialista

Perante o aumento de casos de Covid-19, o Governo vai avançar com novas restrições. Especialista prevê que devem ser recuperadas algumas medidas, como máscaras no interior.

Com o agravar da pandemia no país, o Governo vai anunciar esta quinta-feira novas medidas para controlar a Covid-19. Os novos casos diários já superaram os 3.000, e é preciso “alterar a trajetória”, já que, se nada for feito, poderão duplicar no espaço de duas ou três semanas, prevê o especialista Bernardo Gomes. Deverão assim ser recuperadas algumas das restrições que já tinham sido aplicadas, como uso de máscara em espaços fechados. “Não devemos pensar em medidas bala de prata”, mas sim em camadas, defende o médico de saúde pública, ao ECO.

A incidência e o índice de transmissibilidade do vírus (Rt) em Portugal têm vindo a subir nos últimos dias, fixando-se agora nos 251,1 casos de infeção por 100 mil habitantes no território nacional, e um Rt de 1,20, segundo a última atualização da DGS. Quando se trata de um crescimento exponencial, “no início parece pequeno mas é inevitável que, se nada for modificado, os valores vão evoluindo”, aponta Bernardo Gomes, médico de saúde pública. Por isso, um Rt de 1,2 e o número de casos “era o expectável”, sendo que, sem novas medidas, daqui a “duas ou três semanas vamos ter o dobro de casos que temos”.

“A sociedade portuguesa, com a forma como decidiu abrir comportamentos, aceitou que existia permissividade para o número de casos e infeção e impacto que ainda temos”, aponta. O especialista entende que se tomaram “decisões razoavelmente boas”, mas “falhou-se na mensagem de transmissão por aerossóis”, já que é necessária a ventilação e o uso de máscaras em espaços fechados, sendo este um aspeto que poderá ser corrigido com as novas medidas.

Face à situação epidemiológica, foi convocada uma reunião do Infarmed, na sexta-feira, onde os peritos formularam algumas recomendações. Após o encontro, o primeiro-ministro reuniu com os partidos e vai falar ao país esta quinta-feira, altura em que deverá revelar novas medidas para travar a propagação da Covid-19.

Bernardo Gomes defende que é necessário “recuperar a cultura da máscara em espaços fechados”, sendo que deve ser focada a “mensagem de precaução associado a aerossóis e ventilação, e retirar excesso de zelo em superfícies”. Além disso, provavelmente serão encaixadas nas medidas “restrições a eventos com mais de X pessoas”.

“Ninguém quer recorrer a medidas mais restritivas, o Governo tem um papel de tomar decisões que tenham o melhor resultado possível”, aponta, prevendo que deve ocorrer a “recuperação de alguma medidas não farmacológicas o menos restritivas possíveis e com alguns ajustes”.

De acordo com as pistas que o primeiro-ministro deixou aos partidos nas reuniões destes dois últimos dias, o Executivo deverá deixar de fora, para já, um encerramento das atividades económicas e as restrições de horários ou de lotação nos espaços, mas deverá decidir por um reforço do uso de máscaras em espaços fechados. A recomendação de recurso ao teletrabalho é outro instrumento a que o Governo poderá recorrer, como avançou esta quarta-feira o secretário-geral adjunto dos socialistas, José Luís Carneiro, abrindo também a possibilidade do reforço do controlo das fronteiras para mitigar o avanço da pandemia. António Costa revelou a várias forças partidárias que está a ponderar exigir o uso simultâneo de certificado e de teste obrigatório para a entrada em bares, discotecas, jogos de futebol e outros grandes eventos desportivos, assim como nos concertos.

Quanto a esta medida de aliar um teste ao certificado de vacinação, também sugerida por alguns peritos, o médico de saúde pública aponta que “não vale a pena acrescentar graus de complexidade que não tenham possibilidade de cumprimento”, sublinhando que “o Governo tem de dar capacidade de logística para que sejam cumpridas”. Já no que diz respeito ao teletrabalho, Bernardo Gomes espera que seja “altamente recomendado, porque ajudaria bastante na restrição de contactos, não apenas no trabalho, mas também na deslocação e transportes públicos”.

Mesmo assim, o especialista defende que “não se deve pensar em medidas bala de prata, que por si mesmas resolvem problema”, já que “é preciso ter várias camadas”. Primeiro, deveriam ser “esgotadas” as medidas menos restritivas, nomeadamente através de testagem, ventilação, máscaras, vacinação e melhor comunicação.

O médico de saúde pública alerta ainda que se deve pensar e antecipar medidas para a primeira semana de janeiro, nomeadamente a reprogramação do calendário escolar e do teletrabalho obrigatório. Isto já que a grande preocupação é o efeito do Natal: “temos um comboio muito grande de incidência de casos, que vai atracar em noites de recombinação de pessoas que não estão habitualmente juntas, o que faz multiplicar as cadeias transmissão”.

Ainda assim, o especialista ressalva que, “comparando com o ano passado, o país está melhor porque a vacinação permitiu dissociar o número de casos dos impactos”, nomeadamente nos internamentos. Mas é necessário “alterar a trajetória natural que estamos a assistir, para que não tenhamos um janeiro mau”, mesmo não sendo tão mau como 2021.

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