Logística, digital e mais oito temas que vão ditar a moda em 2022

Bloqueio logístico, recuperação desigual, sustentabilidade, digitalização, compras sociais, passaportes de produtos e talento são alguns dos tópicos que vão marcar a indústria da moda no próximo ano.

As perspetivas da indústria da moda para 2022 são otimistas, mas muitos dos potenciais ganhos poderão ser abalados por desafios relacionados com a pandemia e a economia global.

A crise da cadeia de abastecimento representa um risco na recuperação da indústria global da moda, com 87% dos empresários da moda a estimar que essas perturbações tenham um impacto negativo nas margens no próximo ano, de acordo com o relatório The State of Fashion 2022, elaborado pela The Business of Fashion (BoF) e pela McKinsey.

Duas em cada três empresas (67%) preveem aumentar os preços no próximo ano e um terço dos executivos da indústria olha para o digital como uma maior oportunidade de crescimento. Segue-se a sustentabilidade (12%), com 60% das empresas a aumentarem o investimento em soluções de reciclagem em circuito fechado para reduzir o impacto ambiental.

Em declarações ao ECO, o diretor geral do Centro Tecnológico da Indústria Têxtil e do Vestuário (Citeve), Braz Costa, destaca que “as assimetrias na recuperação vão caracterizar o ano de 2022 da indústria portuguesa do têxtil e vestuário” e prefere dizer que a questão da sustentabilidade “não é apenas uma tendência, mas sim uma exigência”.

Uma opinião partilhada com Paulo Gomes, curador do Green Circle, que vê as empresas nacionais “muito empenhadas em encontrar formas mais amigas do ambiente” e Portugal “muito bem posicionado” neste campo. No entanto, este profissional que trabalha no setor há três décadas considera que a moda sustentável é sobretudo uma preocupação para as populações mais jovens.

As dez tendências que vão marcar o mundo da moda em 2022

  1. Bloqueio logístico: A pressão sobre as cadeias de fornecimento globais, os custos crescentes e os bloqueios logísticos ameaçam a capacidade da indústria de entregar produtos aos clientes. As empresas devem repensar as suas fontes e procurar implementar novas estratégias de gestão da cadeia de abastecimento para fazer face à procura dos clientes no próximo ano. Segundo a análise da BoF e da McKinsey, 49% dos executivos assinalaram as interrupções da cadeia de abastecimento como o principal constrangimento nos negócios em 2022.
  2. Recuperação desigual: A recuperação da pandemia será desigual em diferentes geografias – aqueles com forte resiliência económica e de cuidados de saúde terão um desempenho superior ao dos seus pares. As empresas de moda com pegada internacional precisarão de avaliar regularmente as condições locais para mitigar o risco. Aproximadamente quatro em cada cinco vacinas distribuídas globalmente até setembro de 2021 encontravam-se em países de rendimento alto e médio-alto, lembra o relatório.
  3. Luxuries domésticos: O turismo internacional não recuperará totalmente até, pelo menos, 2023. Para compensar a perda de compradores internacionais, as marcas de luxo devem envolver-se ainda mais com os consumidores domésticos para captar uma maior quota do mercado doméstico. Estima-se que só metade daqueles que eram os fluxos de tráfego aéreo entre a Ásia e a Europa em 2019 é que deverão recuperar em 2022.
  4. Remodelação do guarda-roupa: Loungewear e sportswear registaram um boom durante a pandemia, mas à medida que o mundo começa a abrir-se e as restrições sociais diminuem, os consumidores vão alterando o guarda-roupa, ajustando-se a novos estilos de vida. De acordo com o estudo, 37% dos empresários de moda esperam que o vestuário de ocasião seja uma das três primeiras categorias para o crescimento anual das vendas.
  5. Metaverse mindset: As marcas de moda que procuram envolver-se com consumidores jovens de elevado valor devem explorar o potencial das non-fungible tokens (NFT), jogos e moda virtual como novas rotas para a construção e comércio comunitário. 81% da geração Z jogou videojogos nos últimos seis meses, com uma média de 7,3 horas por semana.
  6. Compras sociais: Os players de moda estão a utilizar o comércio social para criar experiências, desde a descoberta até à compra. Embora as oportunidades variem de acordo com o mercado, as empresas devem abraçar check-outs em caixa e testar o live streaming, a realidade aumentada e outras tecnologias associadas. 37% dos executivos citaram o comércio social como um dos três principais temas que terão impacto nos seus negócios em 2022.
  7. Têxteis circulares: A escala da reciclagem em circuito fechado poderia ajudar a reduzir o impacto ambiental da moda. À medida que estas tecnologias amadurecem, as empresas terão de as incorporar no desenvolvimento de produtos e adotar processos de recolha e triagem em grande escala. 60% dos executivos de moda já investiram ou planeiam investir na reciclagem em circuito fechado no próximo ano.
  8. Passaportes de produtos: As marcas estão a utilizar cada vez mais passaportes de produtos para partilhar informação com consumidores e parceiros, a fim de aumentar a transparência, autenticação e sustentabilidade. Porém, as empresas devem unir-se em torno de normas comuns e envolver-se em projetos-piloto à escala. Aproximadamente dois em cada cinco empresários de moda planeiam adotar passaportes de produtos em 2022 ou já o fizeram. “A questão das etiquetas é muito importante para o rastreio da origem, desde a plantação que deu origem à fibra até à peça final”, comenta Paulo Gomes.
  9. Resiliência cibernética: As empresas enfrentam mais ameaças de ataques cibernéticos e riscos no tratamento inadequado de dados do que nunca. Os intervenientes na moda devem melhorar urgentemente as suas defesas e investir na segurança digital como um imperativo estratégico. 53% dos players de moda afirmam que é provável ou muito provável que a sua empresa venha a sofrer um ataque cibernético significativo em 2022.
  10. Captação de talento: Após a pandemia, desde a administração de topo à linha da frente do retalho, os profissionais estão a reconsiderar as suas prioridades. A fim de atrair e reter os melhores talentos, as empresas devem criar locais de trabalho flexíveis, diversificados e totalmente digitalizados. 45% dos empregados de moda citaram o “sentido de propósito” como um dos fatores mais importantes na escolha de permanecer no atual empregador.

O diretor geral do Citeve considera ainda que o próximo ano vai ser caracterizado pela escassez de recursos humanos qualificados no setor. “Para a indústria portuguesa há questões em cima da mesa que têm uma maior premência, como por exemplo a falta de mão-de-obra, que é o grande problema do setor”.

Além das dez tendências de moda para o próximo ano baseadas no relatório The State of Fashion 2022, Paulo Gomes, curador do Green Circle, lembra que a pandemia fez as empresas perceber que estão muito dependentes das cadeias de distribuição internacionais e, por isso, “é importante apostar numa cadeia mais local”.

“Além da grande dependência dos recursos, a pegada de carbono é muito maior. A logística terá que ser muito mais flexível e muito mais articulada a nível geográfico. A produção tem de ser encarada de forma mais regional e local”, concluiu o curador do Green Circle, um projeto da Associação Selectiva Moda (ASM), com a colaboração do Citeve.

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