Benfica em 2021: da detenção de Vieira à rutura de Jesus

2021 ficará marcado na retina dos benfiquistas e não será por boas razões. A detenção de Luís Filipe Vieira, a inglória desportiva e a saída do Jesus são alguns dos momentos que marcaram este ano.

A saída de Jorge Jesus do Benfica esta terça-feira foi mais um dos momentos do universo encarnado que marcaram este ano civil, recheado de episódios que não sairão tão cedo da memória dos adeptos benfiquistas.

Em 2021, o emblema encarnado viu um presidente a ser detido pela justiça portuguesa, foi a eleições antecipadas, lançou um empréstimo obrigacionista e ainda rescindiu com um dos treinadores mais conhecidos do futebol português dos últimos anos. Com saída de Jesus, o ECO decidiu juntar os principais momentos dos encarnados que marcaram este ano.

Investimento com sabor a desilusão desportiva

Para começar, nada melhor que abordar o avultado investimento que o clube fez no departamento do futebol, em que as águias desembolsaram nada menos que 105,5 milhões de euros em passes de jogadores. Destaque para a contratação de Darwin Núñez por um valor de 24 milhões de euros, naquela que foi a transferência mais cara da história do campeonato português.

Mesmo com um forte upgrade feito no plantel principal do Benfica, e que em teoria seria uma das equipas mais fortes da Liga Bwin, o conjunto comandado por Jorge Jesus não foi capaz de passar o conceito do papel para as quatro linhas a qualidade dos seus jogadores.

A título de exemplo e de acordo com dados do site especializado Transfermarkt, a equipa das águias terminou a época transata avaliada em 261,8 milhões de euros, um valor bem acima da avaliação de 185,1 milhões dado ao campeão nacional Sporting. Já o plantel do FC Porto terminou a temporada com um valor de mercado de 263,1 milhões de euros.

Na temporada de estreia do técnico de 67 anos, o Benfica somou 32 vitórias, 12 empates e nove derrotas num total de 53 jogos, repartidos entre as várias competições em que estava inserido. Números que impediram as águias de vencerem qualquer título, além disso não conseguiram melhor que um terceiro lugar no campeonato nacional.

Já na presente época, a equipa encontra-se novamente no terceiro posto da Liga Bwin e fora da Taça de Portugal, após ter perdido na casa do FC Porto (3-0) no passado dia 23 de dezembro. Contudo, vale salientar que o Benfica garantiu um lugar nos oitavos de final da presente edição da Liga dos Campeões, após ficar em segundo lugar num grupo composto por Bayern Munique, Barcelona e Dynamo Kiev.

Presidente em funções detido pela justiça portuguesa

Outro dos momentos que marcou este ano civil foi a inesperada detenção do na altura presidente do Benfica Luís Filipe Vieira no dia 7 de julho passado, no âmbito da operação Cartão Vermelho, apanhando assim o universo benfiquista de surpresa.

Luís Filipe Vieira foi um dos quatro detidos — José António dos Santos, o filho de Luís Filipe Vieira, Tiago Vieira, e Bruno Macedo, empresário ligado ao clube há anos — numa investigação que envolve negócios e financiamentos superiores a 100 milhões de euros, com prejuízos para o Estado, SAD do Benfica e Novobanco e está indiciado por abuso de confiança, burla qualificada, falsificação de documentos, branqueamento de capitais, fraude fiscal e abuso de informação.

Perante a situação em que estava envolvido, o presidente das águias acabou por suspender funções e deixar a liderança entregue a Rui Costa, até então um dos vice-presidentes do clube. Mais tarde, Vieira acabaria mesmo por renunciar ao cargo de presidente.

Empréstimo obrigacionista das águias afetado pela turbulência de Vieira

Domingos Soares de Oliveira, CEO do Benfica, anunciou no final de junho que iria avançar com um empréstimo obrigacionista de 35 milhões de euros no mês a seguir, mais propriamente no dia 5, isto sem imaginar que o seu presidente acabasse por ser preso nessa mesma altura.

Apesar do infeliz timing, a oferta pública de subscrição de obrigações da Benfica SAD (2021-2024) acabou por alcançar o montante total de 35 milhões de euros pretendido pelos encarnados.

A procura válida foi de 35.179.705 euros, ou seja, ligeiramente acima da oferta de títulos disponível neste empréstimo obrigacionista, que contou com um total de 1.887 investidores.

Destes, 609 (32,3%) investiram entre 2.000 euros e 5.000 euros, 473 (25,1%) entre 5.005 euros e 10.000 euros, 717 (38%) entre 10.005 euros e 50.000 euros, e 88 (4,7%) aplicaram mais de 50.000 euros.

A operação implicava um montante mínimo de subscrição de 2.000 euros, apresentando uma maturidade de três anos e uma taxa de juro nominal bruta de 4%.

Esta emissão arrancou no dia 5 de julho, dois dias antes da detenção do agora ex-presidente do Benfica Luís Filipe Vieira, e a colocação dos títulos decorreu até 23 de julho, tendo sido feita uma adenda ao prospeto que tinha sido aprovado em 1 de julho para dar conta dos acontecimentos que envolvem aquele que, até há pouco tempo, era o líder das águias.

Eleições antecipadas no Benfica, com Rui Costa a vencer

Depois de Luís Filipe Vieira, que estava à frente do clube desde 2003, ter suspendido as funções, na sequência da operação ‘Cartão Vermelho’, o Benfica foi a eleições antecipadas e o ex-futebolista Rui Costa foi eleito o 34.º presidente da história do emblema encarnado, com um total de 84,48% dos votos, batendo Francisco Benitez nas urnas, naquele que foi o ato eleitoral com mais votantes de sempre (40.085).

“Hoje, o Benfica falou e de forma inequívoca. Ao ser eleito com o maior número de votantes, tenho a clara noção das responsabilidades acrescidas. A partir de hoje, não há vencedores e vencidos. O único vencedor é o nosso Benfica”, revelou na altura Rui Costa.

Depois de muitos anos como futebolista, cinco dos quais na equipa principal, em duas passagens (1991/92 a 93/94, 2006/07 e 2007/08), e o antigo jogador dos encarnados está no clube como dirigente desde 2008.

Rutura entre clube e Jorge Jesus

Depois de um “casamento” que parecia que tinha tudo para dar certo, devido ao facto de Jorge Jesus conhecer bem os cantos à casa e ter uma relação de bastante proximidade com o antigo líder Luís Filipe Vieira, acabou por terminar em “divórcio” ao fim de apenas uma temporada e meia. O técnico de 67 anos será substituído interinamente por Nelson Veríssimo, que treinava a equipa B e que vai estar no banco na partida com o FC Porto na quinta-feira, a contar para o campeonato nacional.

Este era um desfecho anunciado depois dos resultados menos positivos nos últimos jogos, incluindo a derrota por 3-0 diante do FC Porto na passada quinta-feira e que ditou o afastamento dos encarnados da Taça de Portugal. A passagem do Benfica aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, à frente do Barcelona, acabou por adiar a saída de Jesus.

Depois, o assédio do Flamengo junto do técnico português nas últimas semanas também azedou a relação de Jorge Jesus com os dirigentes encarnados, sobretudo pelo facto de o treinador não ter colocado um ponto final definitivo logo nas primeiras abordagens feitas pelo clube brasileiro.

Tudo isto culminou no episódio com os jogadores nos últimos dias. O jornal Record fala em “motim” no balneário, depois de o técnico ter tentado afastado o jogador Pizzi do grupo de trabalho, o que motivou uma reação em bloco dos colegas contra a decisão, obrigando a reintegração do médio.

Com ainda uma partida ainda por jogar este ano civil, resta agora saber se o Benfica irá terminar o ano com o pé direito ou com o pé esquerdo. O que é garantido é que o clube vai querer fazer melhor do que fez este 2021.

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