ASF: Seguradoras subvalorizam ou desconhecem relevância das alterações climáticas
Extensa parcela das empresas encontra-se numa fase embrionária no contexto do tema, podendo não deter perceção inteiramente informada nas suas operações, diz a ASF.
Entre as empresas de seguros (não Vida e Mistas) que operam o mercado nacional, cerca de 42% afirma não ter realizado qualquer avaliação da questão ou considera que as coberturas comercializadas não são “impactáveis” pelas alterações climáticas, e 38% salienta que a sensibilidade da sua carteira de responsabilidade neste âmbito “é baixa ou inexistente”, indica a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) num documento anexo ao seu último Relatório de Estabilidade Financeira.
No entanto, no universo do setor supervisionado, a maioria (perto de 70%) das empresas de seguros (ES) e sociedades gestores de fundos de pensões (SGFP) considera as finanças sustentáveis e alterações climáticas um fator de relevância moderada a elevada para a cadeia de valor do negócio, revela a Supervisão salientando que um número reduzido de entidades (8%) “consideram esta matéria como um fator disruptivo no paradigma dos seus negócios”. Ainda que 13% das entidades assumam não ter ainda avaliado as questões (alterações climáticas e finança sustentável), 10% consideram-na de “relevância reduzida ou fortemente mitigável,” diagnostica o organismo presidido por Margarida Corrêa de Aguiar.
Fruto da importância dos riscos e desafios relacionados com a esfera climática e a sustentabilidade, a ASF tem desenvolvido alguns trabalhos no âmbito da matéria. Explicando os elementos que conduziram ao presente diagnóstico, a ASF afirma que o questionário pretendeu fazer “avaliação prospetiva” para várias dimensões específicas:
(i) práticas e carteiras de investimento;
(ii) aceitação e transferência de riscos, e comercialização de novos produtos; e
(iii) sistema de governação e transparência.
No anexo que acaba de publicar junto com o Relatório de Estabilidade Financeira – Dezembro de 2021, é proposta análise a 3 componentes:
(i) diagnóstico de exposições existentes na carteira de investimentos do setor segurador nacional face às alterações climáticas;
(ii) exploração inicial do universo de informação comparável e utilizável para gestão holística de riscos Environmental, Social, and Governance (ESG) por parte de empresas de seguros; e,
(iii) análise dos resultados do questionário relativo a alterações climáticas e finanças sustentáveis delineado pela ASF e destinado às ES e às SGFP nacionais.
De acordo com as conclusões da Supervisão, constata-se que “uma extensa parcela das empresas se encontra ainda numa fase embrionária no contexto do tema em estudo, podendo não deter uma perceção inteiramente informada da extensão e implicações potenciais nas suas operações, o que é patente no amplo recurso a respostas de “não avaliado” e de “não aplicável,” neste último caso, “mesmo abrangendo situações manifestamente aplicáveis, para as entidades em causa,” nota a autoridade de supervisão prudencial.
No capítulo Relação entre as carteiras de responsabilidades e as finanças sustentáveis e alterações climáticas, 58% das entidades manifestaram não ter efetuado qualquer avaliação, e 29% consideram que a temática em análise não é aplicável às responsabilidades assumidas. “Apenas 13% das empresas respondentes estão inseridas num patamar mais proativo de avaliação“.
No seio desta estreita amostra, continua a ASF, assumem preponderância:
i) o elevado potencial de deterioração da sinistralidade (nas linhas de negócio relevantes),
ii) as expectativas de condições mais desfavoráveis na transferência de riscos para resseguradores, e
iii) a exigência técnica associada à modelização de riscos, conceção de produtos e definição das tarifas sob o quadro de alterações climáticas, como sendo os aspetos mais relevantes no nexo entre as finanças sustentáveis e alterações climáticas, e as responsabilidades/riscos contratualizados.
Quanto às perspetivas atuais das entidades em termos de intenção de posicionamento estratégico, face à contratualização de riscos em função das alterações climáticas, a ASF revela que 50% das entidades respondentes afirmam que esta vertente não foi ainda avaliada (25%) ou não se aplica à sua realidade (25%). Por outro lado, as entidades que se manifestam como mais avançadas neste processo (31%), “assumem uma expectativa de impactos graduais e moderados, face aos quais procurarão adaptar a conceção de produtos e a tarifação de modo a promover a mitigação e a adaptação climática”.
Em conclusão, a supervisão prudencial verificou que “cerca de 77% das ES e SGFP se encontram num estágio embrionário/preliminar no processo de avaliação da sensibilidade das suas carteiras a riscos de transição e riscos físicos, incluindo a identificação de exposições climáticas, e de como estas se dividem entre verdes e poluentes”.
Ainda, nas conclusões deste primeiro questionário conduzido pela ASF, com data de referência no segundo semestre de 2021, a Autoridade também afirma, quanto à relação entre as carteiras de responsabilidades e as finanças sustentáveis, que “é notório que as entidades se encontram em estado embrionário quanto ao nexo entre as carteiras de responsabilidades/riscos assumidos e a temática em estudo”.
Na esfera ESG, após análise com recurso a ferramentas da plataforma Sustainalytics, da Morningstar, a ASF confirma que as carteiras de investimento apresentam risco ambiental, social e de governança de nível intermedio, pois “cerca de 88% da carteira está alocada a ativos financeiros de risco ESG intermédio, culminando na atribuição de um rating ESG de nível médio ao portefólio de investimentos de todas as empresas de seguros consideradas.”
No entanto, após análise das respostas ao questionário dedicado ao tema, o organismo também conclui que as ES e EGFP “se encontram num estágio embrionário, ou inicial, que configura a necessidade de tomar medidas de preparação e de alinhamento com o ritmo dos desenvolvimentos registados pelas finanças sustentáveis e alterações climáticas, e que impactarão as suas cadeias de valor e as suas operações.”
Para o conjunto de entidades abrangidas pelo estudo – para as quais a Supervisão europeia (EIOPA) detetou exposições, por via dos seus ativos, com dimensão climática -, nota informativa da ASF salienta a importância da adoção de uma atitude “com um maior grau de dinamismo em matéria de alterações climáticas e finanças sustentáveis, bem como de avaliação dos seus impactos no modelo de negócio, nas práticas de governação, nas políticas de investimentos e de subscrição, e finalmente, na preparação e interpretação de informação relevante para aferição da dimensão climática da empresa, no seu relacionamento com stakeholders, investidores, clientes, tomadores de seguros e beneficiários”.
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