Durão Barroso alerta para risco de “desglobalização” por causa de “nacionalismos”

  • Lusa
  • 18 Janeiro 2022

O antigo primeiro-ministro disse que os nacionalismos continuam a “minar” a ordem internacional. Durão Barroso pede à Europa um “papel mais construtivo” face à pandemia.

O antigo presidente da Comissão Europeia disse segunda-feira que o mundo vive um “momento difícil” nas relações internacionais e alertou para o risco de “desglobalização” por causa dos nacionalismos, que disse continuam a “minar” a ordem internacional.

“Esse nacionalismo continua a minar a ordem internacional e é um risco decorrente para uma ordem internacional baseada na paz e na estabilidade”, alertou José Manuel Durão Barroso, numa intervenção, por videoconferência a partir de Lisboa, na abertura da primeira Conferência Anual da Política Externa (CAPE), realizada por Cabo Verde, através de um ato presencial na cidade da Praia.

Esclarecendo que o nacionalismo de que se fala tem a ver com o desprezo ou pensar ser-se superior aos outros, que é diferente de patriotismo, o antigo primeiro-ministro de Portugal e atual presidente da Aliança Global para as Vacinas (GAVI) notou uma “tensão cada vez maior” entre os Estados Unidos da América e a China e preocupações em fronteiras europeias.

“Se há uma coisa que o mundo não precisa agora – na realidade não precisa nunca – é de guerras entre potências”, salientou, apelando para a paz, paciência e negociação, mas ao mesmo tempo chamando atenção para as “guerras híbridas”, com ciberataques e “soldados não identificados”.

“Ou seja, estamos numa situação de grande imprevisibilidade e de grande instabilidade e isso nos preocupa”, prosseguiu o antigo dirigente, insistindo na necessidade de “cooperação sincera e forte” em bens públicos globais, como a saúde pública, luta contra as alterações climáticas, estabilidade financeira, luta contra o terrorismo, e mantendo os interesses de cada um dos países.

“Em todos os domínios, devia-se evitar que a competição, que é natural, se transforme em confrontação”, apelou Barroso, alertando para o risco de uma “desglobalização”, com um mundo fracionado, generalização dos conflitos, pessoas mais inseguras e mais ameaças ao progresso económico e social.

“É muito cedo para dizer que chegamos ao fim da globalização. A verdade é que o comércio e o investimento internacional têm mostrado grande resiliência, apesar de todas as dificuldades, mas também é verdade que há essas ameaças que vem do tal nacionalismo extremo e de conflitualidades de tipo novo que assistimos atualmente”, constatou a mesma fonte.

Barroso quer “papel mais construtivo” da Europa na pandemia

O antigo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, instou na segunda-feira a Europa a ter um “papel mais construtivo” face à pandemia da Covid-19 e elogiou a decisão da UE de avançar para a mutualização da dívida.

Na abertura da primeira Conferência Anual da Política Externa (CAPE), o antigo primeiro-ministro de Portugal sublinhou que a União Europeia tem vindo a afirmar progressivamente aquilo que é conhecido como autonomia estratégica.

“Quando vemos potências mais assertivas, mais agressivas ou mais imprevisíveis, os europeus têm tido a tendência para entenderem que têm que defender os seus interesses de forma mais política e não apenas técnica”, constatou, dizendo que isso está agora na agenda da atual presidência da União Europeia, que é exercida pela França.

“E penso que a União Europeia pode aí ter um papel mais construtivo. A União Europeia tem, de facto, quando os países que a compõem estão unidos, um papel e um peso maiores do que aquilo que normalmente se reconhece”, salientou o atual presidente da Aliança Global para as Vacinas (GAVI), para quem a UE continua a ser um bloco económico global de grande influência.

O mesmo responsável recordou que quando foi da crise financeira, apesar dos apelos para que houvesse uma mutualização da dívida, isso não foi possível, mas perante a emergência da pandemia da Covid-19, disse que essa questão voltou a ser aceite pelos Governos, com levantando de mais de 750 mil milhões de euros no mercado global para fazer face à pandemia.

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