Petróleo, agricultura e minérios sustentam Angola em 2022
Economista-chefe do Banco Fomento Angola (BFA) considerou que o petróleo, a agricultura e os minérios serão os motores que vão sustentar o crescimento de Angola em 2022.
O economista-chefe do Banco Fomento Angola (BFA) considerou esta sexta-feira, em entrevista à Lusa, que o petróleo, a agricultura e os minérios serão os motores que vão sustentar o crescimento de Angola este ano. José Miguel Cerdeira acredita ainda que as eleições não vão trazer derrapagem orçamental significativa ao país.
“Em 2022 haverá essencialmente três motores a puxar pela economia angolana, apesar das fragilidades existentes, devido ao impacto da inflação na queda do poder de compra das famílias, nestes anos de recessão até 2020″, disse José Miguel Cerdeira.
Em entrevista para perspetivar a evolução da economia de Angola, o economista que lidera o Gabinete de Estudos Económicos do BFA disse que a estimativa do banco aponta “para um crescimento em 2022 entre os 3% e os 4%, no global, sendo mais forte do lado não petrolífero, e menos forte do lado petrolífero”.
O aumento dos preços do petróleo que se verifica no início deste ano, consistentemente acima dos 80 dólares por barril, origina “mais divisas, e mais folga nas contas do Estado”, o que, pela via cambial, potencia “um Kwanza mais forte, estável, com confiança para investidores e consumidores e aumento do poder de compra”.
Para além do petróleo, o BFA estima que outros dois setores vão continuar a sustentar o crescimento da economia não petrolífera: “a agricultura, em que há crescimento homólogo já há 10 trimestres consecutivos, e começa a observar-se muitos investimentos e maior crédito, e o setor mineiro, onde vemos alguns novos investimentos também fora do setor dos diamantes.
Questionado sobre se considera que a economia saiu da recessão já no final do ano passado, José Miguel Cerdeira respondeu que “sim, sobretudo fora do setor petrolífero, estando a caminho de recuperar o que perdeu na pandemia“.
O crescimento, acrescentou, “terá sido ligeiro, mas sobretudo devido a esta questão contabilística do PIB petrolífero, em que se dá o fenómeno curioso de Angola produzir menos barris de petróleo (que leva o PIB para baixo), mas o preço subiu muitíssimo – o setor produziu mais receitas, mais divisas, mais impostos, e isso tem efeitos positivos no resto da economia”.
Questionado sobre a evolução da moeda angolana e as previsões para este ano, José Miguel Cerdeira lembrou que o kwanza ganhou 17,1% ao dólar e 26,7% ao euro no ano passado, depois de vários anos a perder terreno e a diminuir o poder de compra dos angolanos.
“A nossa expectativa para 2022 é ainda algo incerta, mas esperamos uma pressão para apreciação, ou seja, que o Kwanza ganhe valor no primeiro semestre, que esperamos reverter-se na segunda metade do ano; no global, achamos que as pressões para o Kwanza ganhar valor serão iguais ou maiores que as pressões para perder valor, mas prevemos relativa estabilidade”, disse o economista, salientando, ainda assim, que “esta nossa perspetiva depende de um preço do barril um pouco acima dos 70 dólares, em média, pelo que se o preço estiver permanentemente acima dos 80 dólares, a pressão para que o Kwanza aprecie vai ser mais forte do que a nossa expectativa atual”.
Eleições não devem trazer derrapagem orçamental significativa
O economista-chefe do BFA disse não esperar uma derrapagem significativa nas contas públicas em Angola devido às eleições, defendendo o cadastro imobiliário e a Segurança Social como reformas importantes. “É comum, em muitas economias, que haja um pouco menos de contenção orçamental em anos eleitorais; porém, diria que 2022 provavelmente não se comparará a 2017, o ano eleitoral anterior“, disse José Miguel Cerdeira.
Em entrevista à Lusa, o responsável pelo gabinete de estudos económicos do BFA admitiu que “ocorram alguns gastos para além dos limites, mas para atingir o mesmo défice de 2017 este ano, tinha que se gastar o triplo do orçamentado em investimento público, o que não é credível que aconteça”.
Nesse ano em que João Lourenço sucedeu a José Eduardo dos Santos, “Angola teve um défice das contas públicas de 6,1% do PIB, ou seja, um desempenho pior, mesmo excluindo o gasto referente ao pagamento de juros da dívida pública”, o que faz com que, considerando apenas despesa e receita referente ao próprio ano, Angola tenha registado um défice primário de 2,9% do PIB, que contrasta com o saldo nulo previsto para este ano que, excluindo juros, será um saldo primário positivo de 5,5% do PIB”, explica o economista.
Sobre o ritmo de implementação das reformas, José Miguel Cerdeira admite que, “em certos casos, as reformas têm tendência em abrandar em anos eleitorais, principalmente as mais impopulares ou também de médio e longo prazo”, vincando, por isso, que “será interessante perceber o rumo das reformas daqui em diante”.
Em concreto, aponta: “Seria muito estruturante para Angola podermos assistir a mais progressos a nível do cadastro imobiliário, e principalmente no estabelecimento de um sistema de Segurança Social mais eficiente, que pudesse ir de encontro às expectativas dos angolanos de uma melhor rede de proteção social estatal, que seriam as iniciativas que poderiam ter mais impacto na melhoria das condições económicas e sociais dos angolanos”.
Questionado sobre a possibilidade de um novo programa do FMI, José Miguel Cerdeira descarta a hipótese, apontando para um programa de monitorização: “As entrelinhas no último comunicado do Ministério das Finanças sobre a 6ª avaliação são muito claras, o Executivo vai manter o envolvimento com o FMI na base de um Programa de Monitorização Pós Financiamento – ou seja, o que ocorre normalmente após qualquer programa, e deve manter-se a relação de proximidade com o Fundo e outras instituições, através de assistência técnica”.
O FMI aprovou em dezembro de 2018 um programa de ajustamento financeiro que permitiu um encaixe financeiro de 4,5 milhões de dólares, quase 4 mil milhões de euros, que durou até final de 2021. O FMI fez uma análise muito positiva do programa, destacando várias vezes o envolvimento das autoridades e o cumprimento quase total das metas, quer quantitativas, quer qualitativas.
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